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(Millôr Fernandes)

domingo, 17 de julho de 2011

Prioridades trocadas

Domingo, 17 de julho de 2011
Publicado no blog http://chicosantanna.wordpress.com

Do IPVA Zero à Tumba do Agnelo

Por Chico Sant’Anna

Todas as manhãs milhares de veículos se deslocam para o Plano Piloto. Muitas pessoas poderíam usar ônibus executivos e até um Trem Regional de passageiros. Foto: Chico Sant'Anna

Esta semana duas manchetes na imprensa de Brasília me deixaram de cabelo em pé. A primeira se referia à idéia do governador Agnelo Queiroz em conceder isenção de IPVA na aquisição de carros novos. A segunda, construir garagens subterrâneas na Esplanada dos Ministérios.

As duas notícias me lembraram uma antiga afirmação do então ministro do Planejamento do Brasil, Delfim Neto, naqueles tempos negros da ditadura. Respondendo aos ambientalistas, ele dizia que quanto mais chaminés soltando fumaça no Brasil, mais feliz ele estaria. Agnelo Queiroz deve estar reencarnado Delfim.

A idéia de incentivar a compra de veículos novos por meio de isenção do IPVA no primeiro ano é, primeiramente, enganosa. O GDF atrai o consumidor alegando que terá menos ônus, mas nos três anos subseqüentes ele terá que pagar uma alíquota 17% mais alta. A justificativa seria dinamizar a economia local, 
gerando mais ICMS e, teoricamente, mas empregos junto às revendedoras de automóveis.

A proposta está recheada de equívocos. Primeiro, a receita de impostos, IPI e ICMS favorecem mais o governo federal detentor da arrecadação do primeiro tributo, e, segundo, o estado onde está localizada a fábrica de carros. Assim, Agnelo estaria favorecendo a economia de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, provocando uma evasão de renda local.

Segundo, Brasília não precisa de incentivos extras para a aquisição de carros. Depois de São Paulo, o DF é a unidade da Federação com a maior frota proporcional a população. O portal do DETRAN informa que em dezembro de 2010, Brasília tinha 1,233 milhão de carros. Uma frota bastante nova: 48% dela têm no máximo cinco anos de vida.

Em 2008, Brasília tinha um carro a cada 2,3 habitantes. Dois anos depois, já a proporção passava de 1 carro para cada 2,07 pessoas.Com um crescimento de mais de cem mil novos carros por ano.Logo, logo, a Capital Federal estará com um perfil de um caro para menos de duas pessoas. Ou seja, praticamente, passageiro e motorista são as mesmas pessoas. Todos estes veículos não levam em consideração os emplacados no Entorno do DF e que circulam e pela cidade, já que seus proprietários estudam ou trabalham em Brasília.

O resultado deste crescimento desordenado se materializa nas ruas engarrafadas, na falta de estacionamento, na necessidade de se construir novas faixas de rolamentos a preços caríssimos.

Terceiro, Agnelo não está pensando alongo prazo, na poluição, na necessidade de ter que abrir novas vias, no caos que a cidade vai se transformar.

Garajão da Esplanada ou Tumba do Agnelo
A segunda proposta é a construção de mais uma obra faraônica no canteiro central da Esplanada dos Ministérios. Um sonho antigo do empresário e do vice-governador Paulo Otávio, que teve que renunciar o mandato em meio à crise da Caixa de Pandora.

Pressionado pelos presidentes da Câmara e do Congresso, Agnelo admitiu retomar esta loucura que seria construir uma garagem para mais de 20 mil carros. Grosso modo, sem contar as áreas de circulação, administração, etc., só as vagas devem consumir cerca de 300 mil metros quadrados. De tão faraônica, já está sendo apelidada de a Tumba do Agnelo.

Leia a íntegra.