Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2012 aprofunda o ajuste fiscal

Sexta, 15 de julho de 2011
 Da "Auditoria Cidadã da Dívida"
O Jornal Estado de São Paulo mostra a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2012, que prevê a manutenção da política de ajuste fiscal, com a meta de “superávit primário” (ou seja, a reserva de recursos para o pagamento da dívida) fixada em R$ 140 bilhões para a União, Estados e Municípios. É preciso ressaltar que o efeito do estabelecimento desta meta de superávit é bem maior que tais R$ 140 bilhões, pois a mera definição de uma meta faz com que cerca da metade do Orçamento Geral da União seja obrigatoriamente destinada ao pagamento da dívida.

Isto ocorre porque centenas de bilhões de reais de fontes não-primárias (ou seja, que não são consideradas no cálculo do superávit primário, tais como a emissão de novos títulos da dívida) somente podem ser destinadas para o pagamento da própria dívida. Isto pois, caso tais despesas fossem destinadas aos gastos sociais, provocariam queda no valor do superávit.

Outra medida aprovada na LDO é o estabelecimento de uma meta de “resultado nominal”, ou seja, receitas menos despesas, considerando-se o pagamento da dívida. Mais uma meta que deverá ser alcançada às custas de mais corte de gastos sociais.

Apesar de muitos jornais terem noticiado uma previsão de recursos para o aumento real de aposentadorias em 2012, tal dispositivo não prevê de quanto será este “aumento” que, portanto, pode ser irrisório.

Portanto, está mantida e aprofundada a política de ajuste fiscal, que sacrifica urgentes e importantes áreas sociais para permitir o pagamento de uma questionável dívida, que cresceu devido a fatores repletos de ilegitimidades e indícios de ilegalidades, conforme mostrou a recente CPI da Dívida na Câmara dos Deputados. Dois exemplos destes fatores são as altas taxas de juros – estabelecidas sob a justificativa de controle da inflação – e a tomada de empréstimos para a compra de reservas internacionais, que não rendem quase nada.

Bom artigo do economista Carlos Lessa, publicado hoje pelo jornal Valor Econômico, denuncia exatamente estes dois aspectos. Lessa mostra que há outras formas bem mais eficientes de controlar a inflação, como a tributação das exportações (que faria cair o preço dos alimentos), o combate aos monopólios do varejo, e a formação de estoques reguladores. Lessa também mostra que “O povo brasileiro paga a taxa Selic por essa dívida e o BC recebe uma ínfima remuneração da reserva que aplica em papéis do Tesouro americano. Esse é um buraco sem fundo, que recolhe impostos e paga juros.”

Enquanto isso, as agências de classificação de risco continuam executando a chantagem diária e insaciável dos rentistas em todas as partes do mundo. O Portal G1 mostra que, enquanto a agência Moody`s classificou como “lixo” a dívida da Irlanda, e anunciou que pode rebaixar a dívida estadunidense, a Fitch Ratings rebaixou ao pior grau possível a dívida da Grécia, apesar deste país já ter aprovado um pesado pacote de cortes de gastos sociais.

Tais posicionamentos destas agências visam, em última análise, pressionar os países a cortarem cada vez mais gastos sociais, mesmo que tais dívidas tenham sido feitas, em grande parte, para salvar os próprios rentistas.