Quinta, 14 de julho de 2011
Por
Ivan de Carvalho

O homem-bomba é uma arma revolucionária inventada
no fim do século passado pelos inimigos de Israel e da qual derivaram, com o
passar dos anos, a variante da mulher-bomba e, bem mais recentemente, a mais
nova geração dessa arma, a criança-bomba. A tecnologia da pessoa-bomba ainda
tem como alvo principal, mas já não mais exclusivo, o povo de Israel. Tem sido
usada em outras situações, como é o caso, por exemplo, no Afeganistão.
A essência do homem-bomba é a decisão de explodir
a si mesmo para explodir tudo o que lhe esteja próximo, preferencialmente
pessoas. O homem-bomba está preparado para acionar o detonador de si mesmo e,
explodindo-se, explodir os circunstantes.
Uma nova geração de homens-bomba está surgindo no
meio político brasileiro. Está estruturada numa tecnologia diferente (os
brasileiros são muito criativos). Não usa cintos e blusões abarrotados com TNT
ou C4, esses explosivos tão ao gosto da Al Qaeda, dos talibãs, do Hamas, do
Hezbollah, das Farc e de outras organizações terroristas ou até mesmo
integradas nas máquinas de alguns (ou muitos) Estados.
O diferencial do homem-bomba brasileiro é que não
é de sua tecnologia explodir a si mesmo para explodir os circunstantes, os
inimigos, preferencialmente ex-aliados. O homem-bomba brasileiro carrega
elementos de alto poder explosivo que nenhuma semelhança objetiva têm com TNT,
C4 e essas coisas, mas subjetivamente pode-se identificar a semelhança no
binômio “explodir e destruir”. O explosivo do homem- bomba brasileiro é a
língua.
Mas o que distingue a pessoa-bomba convencional
do homem-bomba brasileiro (aqui ainda não surgiu nenhuma relevante mulher-bomba
metida numa burca – Erenice Guerra não usava burca e nem se propôs, justiça se
faça, a ser mulher-bomba – e nem a mais inocente criança-bomba), é menos a
língua do que a essência de cada um.
O homem-bomba brasileiro não passa por lavagem
cerebral que o leve a explodir a si mesmo e ele não carrega um detonador. Ele
nunca toma a iniciativa de explodir, somente a de ameaçar explodir. Mas o que ameaça:
ele ameaça que, se malvadamente atirarem nele, melhor dizendo, se o explodirem,
então ele não esquecerá de cuidar para que a explosão atinja os que atiraram e
os que não o defenderam. Único homem-bomba brasileiro que, até hoje, explodiu,
foi Roberto Jefferson.
Mudando de assunto, que nem sei como entraram
homens-bomba neste espaço, vale repetir, para que não se perca, a memorável
frase do senador Alfredo Nascimento, presidente nacional do PT e na semana
passada exonerado do cargo de ministro dos Transportes, que ocupou sob Dilma e
Lula, frase registrada ontem na coluna Painel da Folha de S. Paulo: “Eles estão
pensando que o Pagot sabe das coisas? Quem sabe tudo daquele ministério sou
eu”. O ex-ministro estava irritado e avisava que não toleraria continuar sendo
“demonizado”. Mas não explodiu. Implicitamente, disse apenas que se explodir...
Antes do ex-ministro insinuar que pode, a
depender dos ataques que sofrer, explodir, temia-se que explodisse o diretor
geral do DNIT em gozo de férias, Luís Antônio Pagot, que ontem na Câmara já
falou abertamente em continuar no cargo depois das férias, o que,
definitivamente, desarmaria a bomba que há no homem.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.