Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Um escândalo a menos


Sexta, 8 de julho de 2011 
Por Ivan de Carvalho
Em meio a tantos escândalos, um a menos não deixa de ser uma boa notícia.

Refiro-me ao escândalo que as principais e mais notórias lideranças do PSDB vinham produzindo e que, pelo destaque delas, era o suficiente para dar a impressão de que todo o partido havia renunciado ao seu dever de fazer oposição ao governo federal, função que lhe foi reiterada pelo eleitorado nas eleições de outubro do ano passado.

            A exceção que confirmava a regra vinha sendo o bi-candidato derrotado às eleições presidenciais, ex-governador José Serra, que depois da posse da presidente Dilma Rousseff passou a produzir críticas com progressiva desenvoltura. Mas como, por causa da derrota recente e de suas difíceis perspectivas políticas para o futuro, especialmente para 2014, sua liderança política não está em alta, pelo contrário, essas críticas não vinham obtendo muita repercussão.

            Quanto ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma das três mais destacadas lideranças tucanas, vem demonstrando mais preocupação com a consolidação do seu lugar na história dos governantes brasileiros, importante, com êxitos indiscutíveis, mas com erros idem.

Às vezes, nesse trabalho, ele dava uma estocada pública no governo petista (mais na fase comandada por Lula do que na ainda curta, mas atual fase comandada por Dilma Rousseff, que deveria ser considerada a bola da vez), enquanto resmungava sobre o comportamento de seus correligionários tucanos, que fizeram o máximo possível para que FHC fosse “esquecido” durante a campanha eleitoral, tarefa nada fácil porque o então presidente Lula tratava de manter sempre audível seu discurso malvado sobre a Era FHC.

Somente depois das eleições e a título de estar FHC completando 80 anos, um número redondo, o PSDB se mobilizou para festejá-lo e tentar resgatar sua imagem. E então, entre outros atos comemorativos, tomaram-se depoimentos de algumas pessoas e uma das que depuseram, no caso por carta, foi a presidente Dilma Rousseff, que, em meio a elogios pensados que não embaracem futuras campanhas petistas, até o chamou de “querido”. FHC derreteu-se todo e, estabanadamente, chegou a declarar que PT e PSDB são muito semelhantes, praticamente iguais, tendo a separá-los somente, ou quase somente, a disputa pelo poder.

Ora, se são tão iguais e presumindo que ambos os partidos estejam abarrotados de espírito público (estou certo que ambos estão dispostos a assegurar que sim), então estranho é que um não ofereça seu lugar ao outro e que o outro não aceite. Ou que se fundam, com o que acabariam com a única coisa relevante que os separa, a disputa pelo poder. A reação de FHC à gentil e esperta carta de Dilma Rousseff é um escândalo, talvez insuflado pela vaidade, a contrafação da oposição.

E onde está o escândalo a menos, de que falei no começo? No senador Aécio Neves, líder do PSDB no Senado, que vinha se comportando com uma moderação de dar náuseas a qualquer eleitor de oposição. Pois ontem Aécio Neves disse que o primeiro semestre do governo Dilma Rousseff foi “extremamente negativo, talvez mais negativo do que qualquer governo da nossa história política recente tenha sido” no primeiro semestre.

Aécio criticou o que chamou de “abdicação de responsabilidade da Presidência da República em relação aos seus aliados, ao referir-se ao escândalo que culminou com a demissão do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento e apontou “passividade” do governo federal no caso. Explicou que nenhuma das demissões se deu pela ação do governo: “A imprensa brasileira é que levou o governo a, defensivamente, afastar essas pessoas. Isso também é preocupante”, afirmou.

Afinal, um pouco de oposição. O que não é um escândalo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.