Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O recorde de Dilma

Quinta, 15 de setembro de 2011
Por Ivan de Carvalho
Tenho repetido aqui com certa freqüência, mesmo com o risco de cansar o leitor, que as aparências muitas vezes enganam. E é assim, efetivamente.

    Nas últimas poucas semanas, parecia que havia sido afinal interrompida a queda de ministros do governo Dilma Rousseff, talvez presidente recordista (não estou no horário em que escrevo com tempo para fazer uma pesquisa respeitável sobre o assunto) em queda de ministros nos primeiros oito meses e meio de governo.
 
   E neste espaço, ontem, divertia-me – espero que não haja aborrecido os meus raros leitores – com artigo a que dei o título de “Finanças indiscretas” e no qual abordava ligeiramente vários casos de pessoas que fizeram curiosas e até ridículas operações financeiras e foram apanhadas pela polícia, umas, pela imprensa, outras.
    Principal personagem de tal artigo foi exatamente o deputado federal Pedro Novais, maranhense do PMDB indicado pelo presidente do Senado e ex-presidente da República José Sarney para o cargo de ministro do Turismo. Tendo chegado ele, de quem quase nada se ouvira antes falar fora dos limites do distante Maranhão, a cargo de destaque e visibilidade nacional (embora sem grande importância real – salvo pela proximidade da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 – já que o turismo no Brasil ainda tem dimensões ridículas ante o potencial do país no setor), a malvadeza da imprensa começou a esmiuçar-lhe a vida.
 
    Então descobriu-se que providenciara o pagamento de uma festa em um motel com a verba de indenização que a Câmara lhe paga para cobrir despesas com o mandato (e não para coberturas que nada têm a ver com o interesse público, mas com o instinto privado). Mesmo assim o danado ia ficando no cargo, até que a Folha de S. Paulo deu com as letras no papel, anunciando que Novais pagara com verbas de gabinete da Câmara uma governanta e um motorista para sua família (não se trata do motorista oficial dele).
 
    Aí não deu mais: por pressão da presidente Dilma e do próprio PMDB, que não queriam assumir tanto desgaste político, decidiu-se que o ministro do Turismo faria uma carta de demissão. Fez ontem, entregou e a presidente aceitou o pedido feito com tanta falta de vontade. As aparências de que Novais ia, graças ao poder de Sarney, aguentar-se por mais uns tempos, eram enganosas. Bastaram uma governanta e um motorista... Esse pessoal miúdo é soda!
 
    Agora, ressalvada alguma pesquisa profunda da história do Brasil, a presidente Dilma, talvez orgulhosa, talvez surpresa e preocupada, ostenta seu recorde: Antônio Palocci, do PT, cai, por ascensão excepcional do seu patrimônio, do cargo de ministro-chefe da Casa Civil; Wagner Rossi, do PMDB, sobe em um jatinho emprestado pela empresa Ourofino Agronegócios e cai do Ministério da Agricultura; Alfredo Nascimento, presidente do PR, cai do Ministério dos Transportes, contra o qual choviam denúncias de corrupção, superfaturamento, essas coisas; Luiz Sérgio cai, por absoluta incapacidade para a função, da Secretaria de Relações Institucionais, que tem status de ministério, e vai para a Secretaria Especial da Pesca e Aquicultura, com status idem e onde a senadora Ideli Salvatti não conseguia distinguir uma sardinha de um tubarão – Ideli tem sua incompetência premiada com o cargo antes ocupado por Luiz Sérgio, onde apresenta desempenho melhor que o dele, o que não é lá grande galardão; Nelson Jobim, de saco cheio com seu pouco prestígio no governo Dilma, incompatível com seu ego ilimitado, age e fala para obrigar a presidente a decidir desfazer-se dele e consegue.
 
    Finalmente, do Turismo cai Pedro Novais. Bem, comenta-se que não acabou. Henrique Meirelles, presidente do Banco Central durante todo o governo Lula e agora presidente da Autoridade Pública Olímpica, pode ser o próximo a sair. Estuda propostas da iniciativa privada. É que a função com que lhe acenaram seria muito mais ampla do aquela que lhe acabaram entregando.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.