Sexta, 17 de fevereiro de
2012
Por Ivan de Carvalho
A ministra Eleonora Menicucci, depois de convidada
para a Secretaria de Políticas para as Mulheres pela presidente Dilma Rousseff
e antes de tomar posse do cargo, declarou o que em seguida declararia ser sua
“convicção pessoal” favorável à liberação geral do aborto e disse que, para
ela, o aborto “é uma questão de saúde pública”.
Isso provocou forte e
indignada reação de igrejas e lideranças evangélicas e da Igreja Católica, na
qual o bispo da diocese paulista de Assis e presidente da Vida Regional Sul 1
da CNBB, dom José Benedito Simão, qualificou Eleonora Menicucci de “uma pessoa
infeliz, mal-amada e irresponsável”, que “adotou uma postura contra o povo e a
favor da morte”.
O bispo advertiu que vai
seguir os pronunciamentos da ministra e seu trabalho. Caso sejam “nessa mesma
linha (de defesa do aborto), vamos tomar algumas medidas de protesto, que podem
ser panfleto ou manifesto público”. Acrescentou que Menicucci abriu polêmica
que pode criar um confronto entre Igreja e governo.
Na ocasião, a ministra
ainda não havia tomado posse. Quando o fez, a presidente Dilma Rousseff, que
tem amizade com ela desde os tempos da luta contra o regime militar, afirmou
que a nova ministra seguirá a política do governo e a própria empossada fez declaração
idêntica. Diante dessas declarações, a CNBB informou, por sua assessoria de
imprensa, que o fato de a nova ministra ser favorável ao aborto é uma questão
pessoal e não uma posição oficial do governo, razão pela qual, segundo o
secretário-geral da entidade, dom Leonardo Steiner, bispo auxiliar da
Arquidiocese de Brasília, não se justificaria uma declaração oficial da CNBB.
Mas ocorre que, como já
assinalado, o presidente da Vida Regional 1 da CNBB, dom José Benedito Simão,
já fizera uma declaração que tanto pode ser qualificada como mal-educada quanto
como devastadora. Mas apesar dos panos quentes da secretaria-geral da CNBB, o
assunto não estava encerrado no que diz respeito à Igreja Católica (o mesmo se
pode dizer em relação a várias denominações evangélicas, que ainda não se aquietaram a respeito).
A parte mais importante da
reação, no que toca à Igreja Católica, veio com uma carta da CNBB (que antes
dera a saber, pela assessoria de seu secretário-geral, que não se justificaria
uma declaração oficial). Com certeza a Igreja prosseguiu analisando e
discutindo o caso e percebeu que, inserido no contexto político-ideológico em
que está posto, se trata de um problema de grande magnitude. Resolveu, então,
pronunciar-se formal e oficialmente.
E fez isto em carta à
presidente Dilma Rousseff (chefe do governo e responsável pela escolha dos
ministros e ministras). Na carta, criticou a posição da nova ministra da
Secretaria de Políticas para as Mulheres por sua defesa da legalização do
aborto.
Em entrevista à imprensa, o
presidente da CNBB, dom Raymundo Damasceno Assis, informou que a Igreja
Católica reitera seu compromisso em "defesa da vida em todo o seu estado
natural, desde sua concepção e é absolutamente contra o aborto",
advertindo que “a vida merece respeito desde o princípio, desde a concepção” e
que “essa é uma questão inegociável”, acrescentando que “qualquer debate sobre
os direitos da mulher não pode excluir os direitos do nascituro”.
Coincidência ou não (eu,
pessoalmente, não creio em coincidências), a CNBB informou ontem que a Campanha
da Fraternidade deste ano, a ser lançada no dia 22, com a presença do ministro
da Saúde, o petista Alexandre Padilha, terá como tema “Saúde Pública”. Cabe,
talvez, lembrar que para a ministra Eleonora Menicucci “aborto é uma questão de
saúde pública” e também que acabam de ser cortados R$ 5 bilhões do notoriamente
insuficiente orçamento para o setor de Saúde.
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O artigo acima foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan
de Carvalho é jornalista baiano.
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