Segunda, 6 de fevereiro de 2012
De "Rumos do Brasil"
Por J. Carlos de Assis
O lado pouco
reconhecido da crise financeira mundial em curso é que ela mudou os
paradigmas de funcionamento do sistema bancário, materializando uma
tendência que se manifestou desde o início dos anos 80, no Governo
Reagan. Tradicionalmente, durante séculos, os bancos tomavam recursos a
curto prazo e emprestavam a longo prazo. Com as inovações introduzidas
nas últimas três décadas, sobretudo mediante os esquemas de CDS
(securitização de créditos empacotados), eles passaram a tomar a curto e
emprestar também a curto prazo.
Funcionou durante o frenesi especulativo dos anos 2000, quando a
órbita financeira da economia se distanciou estupidamente da órbita
real, com uma espécie de efeito Ponzi gigantesco dentro e fora dos EUA.
Compare-se isso a um banco chinês ou indiano que emprestam segundo o
planejamento estatal, e entenderemos a diferença entre o crescimento
americano (1,8%) e britânico (0,6%) projetado pelo FMI para este ano e o
crescimento projetado chinês (8,2%) e indiano (7,0%), ambos com sistema
bancário predominantemente público e economia planejada.
Por outro lado, a crise surgiu como oportunidade para a direita e os
conservadores dos países industrializados avançados acelerar um
processo iniciado ainda nos anos 80, a saber, a concentração de renda
nos ricos e a destruição do Estado de bem social construído no
pós-guerra como um dos expedientes para enfrentar a ameaça comunista, e
que se tornou dispensável com o fim da União Soviética. Esse é o
significado profundo da política econômica chamada de “consolidação
fiscal” imposta pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI
(a troika) aos países europeus que estariam numa suposta crise terminal
de endividamento.