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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A greve e a guerra política

Segunda, 6 de fevereiro de 2012
Por Ivan de Carvalho
O domingo – até o momento em que estas linhas foram escritas – foi bem menos assombrado pela greve dos policiais militares que os dias anteriores. Um fato, no entanto, ainda era ontem o “calcanhar de Aquiles” de toda a engrenagem mobilizada pelo Estado e pelo governo federal, com modesta, menosprezada, mas espontânea colaboração da prefeitura da capital para normalizar a situação.
 
      O “calcanhar de Aquiles” esteve representado todo o tempo pela ocupação da sede do Poder Legislativo, no Centro Administrativo da Bahia, pelos policiais militares grevistas, sob a liderança da Aspra, a entidade que liderou formalmente a greve na Polícia Militar, presidida por Marco Prisco, expulso da PM por sua participação destacada na greve de unidades da corporação em 2001.
 
      O grupo de PMs que invadiu e ocupou partes da sede do Palácio Deputado Luís Eduardo Magalhães, sede do Legislativo, chegou com cerca de 400 integrantes. Armados. O presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo, reuniu-se com a liderança do grupo logo após a invasão, avisou que esta ocorria contra a sua vontade, mas não tomaria a iniciativa de medidas para acabar a invasão. Isto porque (ele não chegou a dizer, mas certamente terá pensado) o risco de incidentes seria grande e porque não tivera contato com o governador, que estava em viagem com a presidente da República no exterior.
 
      Mas quando os grevistas passaram a notar e acompanhar a mobilização policial e militar com efetivos não grevistas da PM da Bahia, Força Nacional de Segurança Pública, as Forças Armadas e finalmente a notícia da chegada de um grupo de elite da Polícia Federal para cumprir mandados judiciais de prisão de grevistas, incluindo lideranças, tiveram de admitir uma eventual ação de evacuação à força do prédio sede do Legislativo. Boatos neste sentido já circulavam na sexta-feira. Estava claro que tanto a presidência da República quanto o governo baiano estão com muita pressa para encerrar essa greve, tão absurda quanto politicamente incômoda, pelo aborrecimento popular, a imagem indesejável e os debates políticos aflitivos que está gerando.
 
      Então, os grevistas pediram aos seus parentes, incluindo mulheres e menores de idade, que fossem para a Assembléia. É evidente que pretendiam com isto ter um escudo humano capaz de inibir uma ação armada oficial. Mas é claro que, já então, as forças governamentais dispunham, querendo, dos meios para bloquear o fluxo de familiares e parentes dos PMs grevistas à sede do Legislativo.
 
      No sábado, o governador Jaques Wagner disse que “não há nenhuma hipótese de invasão do prédio”. Ontem, o presidente da Assembléia, deputado Marcelo Nilo, deu uma entrevista à imprensa, quando comunicou que pediu ao comandante da VI Região Militar, general Gonçalves Dias, a desocupação do prédio, tendo sido fixado para os grevistas saírem voluntariamente o prazo de até à meia-noite de ontem. Mas, ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ante a observação de que o prédio teria eventualmente que ser invadido para uma desocupação à força, o presidente Marcelo Nilo disse que não pediu a invasão do prédio: “Pedi a devolução do imóvel do Poder que eu presido de volta. Agora, se vai haver invasão vocês devem perguntar ao general Gonçalves Dias”. Dificilmente o presidente da Assembléia faria esse pedido se não fosse uma iniciativa combinada com todos os demais setores governamentais envolvidos.
 
      Diante das declarações complexas que mencionamos, e como é impensável que o general fosse antecipar sua estratégia e suas táticas, só mesmo as sombras da madrugada passada poderiam mostrar ou indicar as coisas ou o rumo delas. E eu não posso esperar até a madrugada para encerrar este artigo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.