Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

César e suas circunstâncias

Sexta, 5 de abril de 2013
Por Ivan de Carvalho
Temos afinal, outra vez, um ministro baiano, o ex-governador e ex-senador César Borges, mais um político formado no carlismo e que, após a morte de Antonio Carlos Magalhães, executou uma migração que acabou levando-o à coalizão de governo liderada pelo PT no âmbito federal, o que, à primeira vista, indicaria o engajamento do PR, partido de César Borges, não só na base político-administrativa do governo Dilma Rousseff como na campanha dela à reeleição em 2014.

         É um aforismo alquimista o de que “o macrocosmo é igual ao microcosmo”, o que também, evidentemente, pode ser dito na ordem inversa – “o microcosmo é igual ao macrocosmo” – ou, de modo mais popular, “o que está em cima é igual ao que está em baixo”. Toda essa alquimia é para indicar, por analogia, a forte presunção de que a nomeação de César Borges, do Partido da República, para ministro dos Transportes, inclui essa legenda na coalização política baiana que sustenta o governo petista de Jaques Wagner.

         Mas parece que, para nos atermos ao terreno dos Transportes, há buracos nas estradas ou até estradas esburacadas, duas formas – a primeira, forma do otimista, a segunda, do pessimista – de dizer a mesma coisa. Vamos começar logo apontando duas crateras. O DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e a Valec, empresa pública legalmente vinculada ao Ministério dos Transportes e extremamente importante para a Bahia, já que é responsável (entre outras obras de importância nacional) pela essencial Ferrovia de Integração Oeste Leste, a tão falada, encalhada, praticamente ainda virtual Fiol.

         Consta (carece ainda de comprovação científica) que ao convidar César Borges para ser ministro dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff pediu-lhe “um diagnóstico” – informação editada ontem no site do jornalista Cláudio Humberto – do DNIT e da Valec para decidir se mudaria os dirigentes. Mas no discurso de posse do novo ministro dos Transportes, quase certamente ainda sem receber o tal “diagnóstico” – César Borges pode ser ágil, mas não é The Flash – ela afirmou que há atualmente “um time muito mais afinado” no DNIT e na Valec. E ainda no seu discurso, ressalta o jornalista, Dilma Rousseff deixou claro que a gestora do PAC, ministra Miriam Belchior, do Planejamento, continuará definindo gastos nos Transportes.

         Que o Cláudio Humberto me desculpe, mas cito mais do site dele, segundo o qual o vice-líder do PR, o mineiro Bernardo Santana, comentou que Dilma escolheu um grande quadro do PR para ministro, “mas não lhe deu o ministério”. Quis dizer, naturalmente, que sem mudança no DNIT e na Valec e com a definição dos investimentos nos Transportes feita por outro ministério, o de César Borges seria um saco cheio de nada.

         Ou de mágoa – para o PR. Anthony Garotinho, ex-governador fluminense e líder do PR na Câmara dos Deputados, escreveu ontem em seu site que a ida de César Borges para o comando do Ministério dos Transportes não garante o apoio do partido à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Explicou que a nomeação de Borges representa a volta do partido ao governo, mas “não significa apoio a Dilma em 2014”.

          “A volta do PR ao Ministério dos Transportes não envolve compromisso de apoio à presidente Dilma no Estado do Rio à sua reeleição à presidência nem dela em relação à minha possível candidatura ao governo do Estado”, disse Garotinho, que é pré-candidato à sucessão do governador Sérgio Cabral (PMDB).

         Parece que há mesmo buracos na estrada. O ministro César Borges é um político hábil, com vasta experiência em atividades parlamentares, executivas, partidárias, técnico-administrativas, mas não tem o controle nacional do PR. Ele pode fazer muito para integrar o partido na aliança que tentará reeleger Dilma Rousseff. Desde, é claro, que não lhe neguem os instrumentos.

         Quando tinha suas legiões, Caesar venceu Pompeu. Mas, no Senado romano, a história foi diferente.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.