Sexta, 5 de abril de 2013
Por Ivan de Carvalho

É um
aforismo alquimista o de que “o macrocosmo é igual ao microcosmo”, o que
também, evidentemente, pode ser dito na ordem inversa – “o microcosmo é igual
ao macrocosmo” – ou, de modo mais popular, “o que está em cima é igual ao que
está em baixo”. Toda essa alquimia é para indicar, por analogia, a forte
presunção de que a nomeação de César Borges, do Partido da República, para
ministro dos Transportes, inclui essa legenda na coalização política baiana que
sustenta o governo petista de Jaques Wagner.
Mas parece
que, para nos atermos ao terreno dos Transportes, há buracos nas estradas ou
até estradas esburacadas, duas formas – a primeira, forma do otimista, a
segunda, do pessimista – de dizer a mesma coisa. Vamos começar logo apontando
duas crateras. O DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)
e a Valec, empresa pública legalmente vinculada ao Ministério dos Transportes e
extremamente importante para a Bahia, já que é responsável (entre outras obras
de importância nacional) pela essencial Ferrovia de Integração Oeste Leste, a
tão falada, encalhada, praticamente ainda virtual Fiol.
Consta
(carece ainda de comprovação científica) que ao convidar César Borges para ser
ministro dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff pediu-lhe “um
diagnóstico” – informação editada ontem no site do jornalista Cláudio Humberto
– do DNIT e da Valec para decidir se mudaria os dirigentes. Mas no discurso de
posse do novo ministro dos Transportes, quase certamente ainda sem receber o
tal “diagnóstico” – César Borges pode ser ágil, mas não é The Flash – ela afirmou que há atualmente “um time muito mais
afinado” no DNIT e na Valec. E ainda no seu discurso, ressalta o jornalista,
Dilma Rousseff deixou claro que a gestora do PAC, ministra Miriam Belchior, do
Planejamento, continuará definindo gastos nos Transportes.
Que o
Cláudio Humberto me desculpe, mas cito mais do site dele, segundo o qual o
vice-líder do PR, o mineiro Bernardo Santana, comentou que Dilma escolheu um
grande quadro do PR para ministro, “mas não lhe deu o ministério”. Quis dizer,
naturalmente, que sem mudança no DNIT e na Valec e com a definição dos
investimentos nos Transportes feita por outro ministério, o de César Borges
seria um saco cheio de nada.
Ou de mágoa
– para o PR. Anthony Garotinho, ex-governador fluminense e líder do PR na
Câmara dos Deputados, escreveu ontem em seu site que a ida de César Borges para
o comando do Ministério dos Transportes não garante o apoio do partido à
reeleição da presidente Dilma Rousseff. Explicou que a nomeação de Borges
representa a volta do partido ao governo, mas “não significa apoio a Dilma em
2014”.
“A volta do PR ao Ministério dos Transportes
não envolve compromisso de apoio à presidente Dilma no Estado do Rio à sua
reeleição à presidência nem dela em relação à minha possível candidatura ao
governo do Estado”, disse Garotinho, que é pré-candidato à sucessão do
governador Sérgio Cabral (PMDB).
Parece que
há mesmo buracos na estrada. O ministro César Borges é um político hábil, com
vasta experiência em atividades parlamentares, executivas, partidárias,
técnico-administrativas, mas não tem o controle nacional do PR. Ele pode fazer
muito para integrar o partido na aliança que tentará reeleger Dilma Rousseff.
Desde, é claro, que não lhe neguem os instrumentos.
Quando tinha
suas legiões, Caesar venceu Pompeu. Mas, no Senado romano, a história foi
diferente.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.