Sexta, 19 de abril de 2013
Do Blog da Leiliane
Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia da Vila Planalto reconstruída em 2007, após incêndio.
No dia 21 de Abril , a Vila Planalto,
que abriga os acampamentos das construtoras que erigiram Brasília fará
56 anos! Porém, esse aniversário tem passado despercebido pelas
autoridades do Distrito Federal. Enquanto nas demais cidades do DF ,
aniversários são divulgados, são motivos para solenidades oficiais (
sessões solenes na Câmara Legislativa), a Vila Planalto não tem recebido
nenhum tratamento especial, mesmo agora que está completando 25
anos como Patrimônio Histórico do Distrito Federal.
Berço da ocupação da capital federal, a
atual vila é formada por partes de sete acampamentos: Rabelo, Pacheco
Fernandes, DFL, Tamboril, Emulpress, EBE e Acampamento da Nacional. Hoje,
o vilarejo é considerado um símbolo da resistência dos trabalhadores da
construção de Brasília. Após a conclusão da cidade, os acampamentos
seriam removidos e as famílias pioneiras, transferidas para locais mais
afastados, como Samambaia, que foi criada com esse intuito.
Em 1986, um grupo de mulheres lutou para
permanecer na região. A filha de uma dessas donas de casa, na época com
10 anos de idade, Leiliane Cristina Lopes Rebouças, escreveu uma carta
ao Presidente da República José Sarney, narrando a situação em que
viviam os pioneiros da Vila Planalto e conseguiu entregar ao chefe de
Estado, quando ele descia a rampa do Palácio do Planalto. Por isso, em
21 de Abril de 1988, a Vila Planalto foi fixada e tombada Patrimônio
Histórico do Distrito Federal.
Vinte e cinco anos se passaram desde a
assinatura dos Decretos de Fixação e Tombamento , e os moradores da Vila
Planalto continuam a espera da regularização de suas moradias. A
fixação dos moradores dava o direito a concessão de uso do solo por 25
anos, prorrogáveis por mais 25 anos, entretanto, a única coisa que recebemos foi um termo provisório de ocupação!
Nesses vinte e cinco anos, nenhum
governo foi capaz de regularizar a situação da Vila Planalto! Os prédios
históricos que não caíram ainda, estão em estado de conservação
precária! A fiscalização das autoridades quanto a preservação do
patrimônio tombado foi quase inexistente!
Inexistente mesmo foi o compromisso e o
dever de proteger e preservar! Nunca foi feito nenhum trabalho de
educação patrimonial na Vila Planalto que conscientizasse as pessoas
para preserva-la! Nunca recebemos nenhum incentivo para manter as casas
de madeira por parte das autoridades! Muito pelo contrário, o primeiro a
descaracterizar a Vila foi o Estado, quando implantou no meio do bairro
uma escola de concreto armado, entre as casas de madeira!
O desinteresse em preservar a história
dos operários da construção de Brasília que moram na Vila Planalto
também é flagrante! Nesses 25 anos, nenhum museu foi construído para
que aqueles operários da construção pudessem deixar registrado as suas
memórias, que constituem a memória dessa cidade, que não surgiu
do "nada" como num passe de mágica e teve sim uma história! a história
da sua construção, uma história que teve um lado feio : de exploração da
mão de obra operária, segregação socio-espacial dentro e fora dos
acampamentos, a remoção impiedosa de operários e suas famílias que eram
jogadas de um acampamento para outro, porque na cidade que eles
construíram não havia um local destinado para eles; como os operários
que constróem casas e não podem morar nelas.
Só interessa a "História Oficial" o lado
belo da construção de Brasília? E é por isso, o descaso com a memória
daqueles que retratam o "outro lado" ?
A antiga escola de madeira, uma das primeiras de Brasília foi demolida e não reconstruíram; o alojamento de solteiros da Construtora Rabelo também não foi reconstruído; as cinco casas do Conjunto Fazendinha estão completamente deterioradas; o Clube do DFL está com ocupações irregulares... Só resta a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia em bom estado de conservação, porque após um incêndio criminoso no ano 2000 o Estado resolveu reconstruí-la devido a intensa mobilização dos moradores da Vila ( entre eles eu). Ainda assim, demoraram sete anos para reconstruir e entregar à população, alegando falta de recursos para a obra.
A antiga escola de madeira, uma das primeiras de Brasília foi demolida e não reconstruíram; o alojamento de solteiros da Construtora Rabelo também não foi reconstruído; as cinco casas do Conjunto Fazendinha estão completamente deterioradas; o Clube do DFL está com ocupações irregulares... Só resta a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia em bom estado de conservação, porque após um incêndio criminoso no ano 2000 o Estado resolveu reconstruí-la devido a intensa mobilização dos moradores da Vila ( entre eles eu). Ainda assim, demoraram sete anos para reconstruir e entregar à população, alegando falta de recursos para a obra.
Hoje a Vila Planalto tem se destacado
pela existência de vários restaurantes e pela potencialidade de Centro
Gastronômico de Brasília. Mas, será que todos os que visitam seus
restaurantes conhecem a importância histórica da Vila Planalto na
construção de Brasília? Será que conhecem os personagens que vivem no
local e representam a "história viva" desta capital? Em que implica a
mudança da identidade cultural da Vila Planalto , de Patrimônio
Histórico a Centro Gastronômico? Como a Vila Planalto se vê e como ela é
vista?
Essas e outras questões tem sido objeto
do meu estudo de caso, no Mestrado da Universidade de Brasília. Muitos
podem achar que eu poderia estar satisfeita apenas em ter contribuído
para a permanência da Vila , por ter pedido a sua fixação aos 10 anos de
idade ao Presidente da República... mas, não estou.
E o mestrado foi a maneira que encontrei
de contribuir mais uma vez para o desenvolvimento da Vila Planalto, em
um estudo que aponte a atual realidade dos seus moradores, as
implicações dessa mudança de identidade cultural pela gastronomia!
Esse estudo será importante para que o o
Estado desenvolva políticas públicas que preservem as edificações
históricas que ainda existem e dê condições para que a Vila se
desenvolva pelo Turismo de forma sustentável, aliando Preservação do
Patrimônio Cultural, a preservação da memória dos seus pioneiros, e a
gastronomia.
Vila Planalto: Localização Privilegiada a 3 km da Praça dos Três Poderes