Segunda, 3 de fevereiro de 2014

Segundo Mauro de Oliveira, do
NUBE, em entrevista dada ao R7, em 25/8/2012, os homens ganham mais porque
“costumam escolher carreiras mais bem pagas”. Para ele, “as mulheres escolhem
carreiras em que naturalmente a bolsa-auxílio é mais baixa, (...) como
Pedagogia, Nutrição, Fisioterapia, Letras e Fonoaudiologia. Os homens escolhem
carreiras mais ligadas às exatas, como Engenharia (...) carreiras que estão
sempre no topo das mais bem pagas”.
Acontece que não é uma questão de
escolha o fato de haver predomínio de mulheres nos cursos de Pedagogia, Letras
e Enfermagem, enquanto nos de Engenharia ou Geologia os homens constituam
maioria. É que as mulheres são vistas como educadoras, maternais, situação
ligada a uma hipotética natureza feminina. Por causa dessa ideologia machista
predominante, e não devido a aspectos naturais, as mulheres são destinadas a essas
carreiras.
É sabido que o principal
mecanismo de perpetuação do patriarcalismo é a naturalização das assimetrias,
atribuindo a fatores biológicos ou religiosos as diferenças entre homens e
mulheres para inferiorizá-las. Por isso é que a conquista dos direitos da mulher sempre foi um
fator causador de instabilidade social, em razão de romper com os valores
patriarcais arraigados historicamente na própria formação da família.
No passado, não se permitia às
mulheres entrar em determinados cursos universitários. Faziam cursos geralmente
ligados aos afazeres domésticos, a fim de conseguir um marido possuidor de boa
condição financeira.
Ainda não houve um avanço deveras
expressivo para que se possa considerar essa realidade como ultrapassada, e, ainda
hoje, existe essa repressão em diversas nações. No Irã, faculdades não aceitam
mulheres em cursos que “não são específicos da natureza feminina”. No caso, os
cursos que formam profissionais mais bem pagos.
Além disso, as mulheres ainda ganham menos
para fazer as mesmas coisas que os homens. Segundo pesquisa do IBGE, em 2011, a
renda das mulheres no mercado de trabalho brasileiro equivaleu a 73,7% do que
receberam os homens (e não se trata, neste caso, de estagiárias).
Um sistema machista cada vez mais
em decadência mantém as mulheres como mão de obra barata para executar as
funções descartadas pelos homens por pagar menores salários. Principalmente em
situações de crise econômica ou de demissões em massa e corte de gastos, as
mulheres são empurradas para o lar. E isso é hipocritamente apresentado como se
fosse uma escolha natural delas.
Pesquisas têm evidenciado que
efeitos mais negativos, como assédio moral e sexual, incidem em maior grau
sobre as mulheres, especialmente as negras – notadamente quando exercem
trabalho precário, indocumentado.
Nesse sentido, lutar por acesso
igual à educação, por isonomia de direitos e de salários entre as mulheres e os
homens é lutar pela mudança desta realidade para a de um mundo melhor. Infelizmente,
o domínio machista continua a ver a mulher como um ser humano de segunda
categoria e, lamentavelmente, os sindicatos têm-se revelado incapazes de
representar suficientemente as causas feministas, talvez pelo imaginário
chauvinista do qual seus dirigentes ainda não conseguiram se livrar.
O machismo é o entulho de uma
cultura que continua a revelar-se na linha da disciplina industrial tradicional,
atrapalhando a evolução da sociedade que se está formatando em rede, com
maiores exigências de democracia direta e de concessões necessárias para a
construção coletiva de espaços de esperança para todos, sem exceção.
Torna-se premente uma nova
construção social da mulher. É responsabilidade de cada um de nós, homens e
mulheres, mudar essa postura e preparar o devir de uma nova etapa histórica.
(Cruzeiro-DF, 2 de março de 2014)