Terça, 15 de julho de 2014
Uma audiência
pública para apresentação do PAC 2 Rocinha foi realizada nesta segunda-feira, no Centro do
Rio de Janeiro. A audiência é um requisito para início da licitação das obras
do projeto do PAC que prevê o investimento de R$ 1,6 bilhão na maior
favela da América Latina.
O evento
iniciou-se com apresentação dos projetos de obra pelo presidente da
EMOP, Ícaro Moreno. Em seguida, a coordenadora Ruth Jurbeg apresentou os
slides
das intervenções e o professor e sanitarista Ernani Costa mostrou o
estudo previsto
para o saneamento básico na comunidade. Estiveram presentes alguns
moradores e
lideranças da Rocinha e São Conrado.
Então, após
apresentar o evento, posso registrar aqui a indignação dos poucos participantes,
moradores da Rocinha que tiveram a oportunidade de falar. Em primeiro lugar, a
crítica geral foi da realização de uma audiência pública, que vai se tratar
sobre o futuro da Rocinha, sendo realizada no Centro da Cidade, e não na
favela, e ainda às 12h, o que inviabilizou a participação geral dos
moradores, ou seja, eram menos de 30 moradores e lideranças para se tratar de
uma favela maior que muitas cidades do Brasil, onde moram cerca de 200 mil pessoas.
O estudante
Dennis Neves, idealizador da grande manifestação da Rocinha, criticou
severamente a não conclusão do PAC 1 e os acordos não cumpridos
pelo governador e pela equipe do PAC com os prazos previstos para entrega das
obras. Dennis ainda criticou o atraso de 4 anos na entrega de uma creche, bem
como a inauguração nas vésperas das eleições.
Os moradores,
também, ficaram insatisfeitos com a quantidade de realocações de famílias que
serão necessárias para as obras e para onde vão essas famílias e se serão
assistidas dignamente, ou de forma errada como no PAC anterior. O grupo do
Rocinha sem Fronteiras de lideranças da Rocinha criticou a atuação do PAC e
reivindicou o saneamento como prioridade para a comunidade, e não o teleférico,
que seria um elefante branco para a Rocinha.
Como
conclusão, podemos realmente perceber que tal evento foi organizado de maneira
errada, porque deveria ocorrer dentro da comunidade
para uma participação maior dos moradores. Tal audiência também não representa
os interesses da favela, já que o projeto já foi pronto, onde não cabem mais
alterações dos moradores. O saneamento que tanto é solicitado não será atendido
como fora requisitado, já que não será feito até nas residências, ou seja
somente 30% de saneamento será realizado.
O que nos
preocupa é para onde vão as quase 3 mil famílias que terão suas casas
removidas, já que serão apenas 320 apartamentos. A coordenação do PAC informou
que será feita uma compra assistida, mas nós sabemos a bagunça que foi o PAC 1
na hora de indenizar os moradores, com o valor que não estava de acordo com os
preços de imóveis na Rocinha. Os moradores tiveram que comprar casas fora, ou
em lugares menores dentro da comunidade. Além, dos subornos e corrupção que fez
parte da negociação dos imóveis.
Enfim, fomos usados
apenas para cumprir exigências de licitação. Nada será mudado ou acrescentado no projeto.
* Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel emdesenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design
pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e
Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na
Comunidade.
