Pedro
do Coutto — Tribuna da Internet
Torpedeado pela pesquisa do Datafolha, publicada domingo
passado pela Folha de São Paulo, o governo Dilma Rousseff passou a tratar da
elaboração de um plano estratégico para enfrentar o que classifica como a
batalha da comunicação. Natuza Neri, em matéria na edição de segunda-feira 9 do
jornal, focaliza o tema e as contradições que o envolvem sob o ângulo do
Palácio do Planalto. No mesmo dia, Erica Fraga ilumina com nitidez um outro
enfoque apontado pelo levantamento. Enquanto Dilma Rousseff perdeu 19 pontos
quanto a seu desempenho, o PT descia de 22 para 12% em relação aos eleitores
que, no final do ano passado, disseram preferi-lo a qualquer outra legenda.
Aliás, vale acrescentar um aspecto importante: 71% da população brasileira
afirmaram seu descrédito quanto ao sistema político partidário.
Mas retornando à questão da comunicação, existe uma
diferença fundamental entre a comunicação política e social e a propaganda
publicitária. Para fazer uma comparação matemática vemos que a primeira, que
cabe aos governos, é um teorema. A segunda um axioma. Ou seja: um teorema é
algo que exige comprovação prática e substantiva. O axioma, ao contrário, parte
de afirmações sem a mesma exigência.
Por exemplo: um governo para se comunicar necessita
apresentar provas concretas (positivas) de suas ações e intenções. A
publicidade comercial não. Cada empresa afirma que seu produto é o melhor e de
menor custo e fica por isso mesmo. Cria fantasias dirigidas aos consumidores,
de uns tempos para cá recorrendo intensamente a imagens femininas inseridas em
suas mensagens. A propaganda comercial recorre à busca da satisfação, do
prazer, do bem estar. A divulgação política e social não pode se socorrer da
ilusão. Ao contrário. Para ser efetiva e atingir seus propósitos têm que
apresentar medidas concretas destinadas a melhorar os níveis econômicos da vida
humana. Não adianta ilusão. Não funciona.
PROMESSAS VÃS
Tal distonia é bem focalizada por Natuza Nery ao destacar
opiniões de integrantes do próprio governo no sentido de que as causas principais
para a queda da popularidade da presidente da República situam-se no abismo que
está separando as promessas da candidata na campanha de 2014 dos atos da
presidente em, 2015. Constituem expressões totalmente diferentes e divergentes.
Principalmente as voltadas para a área dos direitos sociais. Como apoiar, por
exemplo, a Medida Provisória que corta em 50% as pensões por morte legadas
tanto pelos trabalhadores regidos pela CLT quanto os servidores públicos?
Impossível.
Uma terceira reportagem publicada na edição de 9 de
fevereiro, esta de Cátia Seabra, revela a preocupação que passou a sensibilizar
o ex-presidente Lula que se dispõe a percorrer o país inteiro buscando
remobilizar as forças aliadas a ele, ao governo e ao PT. Para implantar um
denominador comum, ele vai partir do anúncio que, de fato, pretende concorrer à
presidência da República novamente em 2018.
PROPOSTA SEM CONTEÚDO
Entretanto, onde está o conteúdo da proposta? Em lugar
algum. Qual o caráter substantivo de que se reveste tal candidatura antecipada
por quatro anos? Falta conteúdo e só o conteúdo pode viabilizar a comunicação a
que se propõe no alvorecer de 2015.
Isso de um lado. De outro, essa investida na maratona das
urnas só vai contribuir para enfraquecer ainda mais a posição política de sua
sucessora à frente do governo. Pois se Luis Inácio da Silva parte para a
dianteira, na busca do tempo perdido, é porque tacitamente Dilma Rousseff não
será capaz de fazê-lo. Por tudo isso se constata que os estrategistas do PT, e
do próprio governo, estão confundindo o dilema entre a comunicação política e
produtos comerciais. Produtos não têm vida, nem desejos, nem emoções.
Completamente diferente dos seres humanos, os eleitores e eleitoras do país.