Quinta, 16 de junho de 2016
              Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil
          
O menino de 11 anos que testemunhou a morte do amigo Ítalo 
Ferreira de Jesus Siqueira, de 10 anos, por policiais militares no 
último dia 2 de junho foi incluído hoje (16) no Programa de Proteção à 
Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, coordenado pela Secretaria 
Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça. O garoto passa a 
ter agora assistência e auxílio de moradia, saúde, educação, locomoção e
 alimentação das redes públicas estaduais e municipais.
O pedido 
de inclusão do menino de 11 anos no programa foi feito pelo Conselho 
Tutelar de Cidade Ademar, bairro da zona sul da capital paulista. De 
acordo com o coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos 
Humanos e conselheiro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da 
Pessoa Humana, Ariel de Castro Alves, o fato de ter presenciado a morte 
do amigo, de ser vítima sobrevivente e de ter prestado depoimento com 
versão contraditória a dos policiais envolvidos justifica a necessidade 
de proteção ao garoto.
“Após ter presenciado a morte do amigo, a 
testemunha disse que foi agredida com um tapa no rosto, que deixou 
marcas visíveis. Depois ainda teria sido ameaçado de morte pelos mesmos 
policiais envolvidos na ocorrência que resultou na morte de Ítalo”, 
disse. “O fato dos policiais militares terem realizado uma gravação de 
vídeo, logo após o crime, em que constrangem a criança a fazer 
declarações que reforçariam a versão dos PMs, também colaboram para 
justificar a necessidade de proteção, já que as últimas declarações do 
menino, contrariando as versões dos policiais, poderiam motivar 
retaliações”.
A situação de vulnerabilidade social do garoto e de
 sua mãe e três irmãos também reforçam a necessidade, segundo Ariel, de 
inclusão da criança no programa: eles residem em condições precárias em 
um estabelecimento comercial desativado, sem água e luz. A mãe recebe 
unicamente um auxílio-doença de meio salário mínimo e está sem condições
 de trabalhar devido a uma fratura na clavícula e à necessidade de 
cuidar dos quatro filhos.
Ítalo foi morto por PMs, com um tiro na
 cabeça, no último dia 2, em uma ação policial na região do Morumbi, 
zona sul de São Paulo. Ele e o amigo de 11 anos estavam em um carro 
furtado transitando pelas ruas do bairro e foram abordados por policiais
 que atiraram e mataram o garoto de 10 anos. Os policiais militares que 
atenderam a ocorrência alegam que o menino, que estava ao volante, 
disparou contra eles e que o balearam para se defender.
O garoto 
sobrevivente disse, no entanto, que no veículo não havia arma, 
contrariando seus depoimentos anteriores dados à polícia. Segundo a mãe e
 o próprio menino, as declarações anteriores, nas quais ele tinha 
confirmado a versão dos policiais de que Ítalo estava armado, foram 
motivadas pelo medo e por ameaças.
 
 
 
