Domingo, 5 de junho de 2016
Do Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br
por Danio Pretti di Giorgi*
Feminismo, racismo, política, drogas, direitos dos animais,
consumismo, educação, segurança, economia, corrupção. Em um planeta
tremendo com tantas e tão instigantes polêmicas que movimentam mares e
terras, existe um mar de tranquilidade no debate, um tema com o qual
todos concordam, sem questionamento. Uma verdade tão límpida e luminosa
que não dá para contestar. É o maior drama da história da humanidade,
uma questão crucial para ricos ou pobres, pretos ou brancos, asiáticas
ou escandinavos, amigos ou inimigos do Lula.
O espantoso é que não estamos caminhando para a solução do problema
nem se fala muito nisso, mesmo que todos concordem que é um problema e
que deve ser solucionado. Pior: ele só vem se aprofundando. Deu um salto
principalmente depois da Revolução Industrial, mas nas últimas décadas a
degradação acontece de forma cada mais acelerada.
Quando o assunto surge, em geral não se encara de frente a questão de
como sobreviveremos e como sobreviverão ao colapso ambiental nossos
filhos, nossas filhas e os filhos de suas filhas. Mais grave: todas as
propostas de soluções para a crise econômica propõe mais contaminação
das águas, da terra e do mar e o aprofundamento da destruição ambiental.
Quem no juízo perfeito defende a queda da produção sob essas premissas
consumistas em nome da redução da exploração irresponsável dos recursos
naturais para produção? Quem prega a retração dessa economia do descarte
para reduzir as montanhas de lixo que produzimos a cada dia? Quem
consegue com sinceridade defender a ideia de que é possível seguir com
esse modelo de desenvolvimento sem fatalmente destruir as próprias
condições de sobrevivência? De sobrevivência desse próprio sistema!
Nossas autoridades precisam de coragem para encarar essa pedreira. E
não há opção. A base de todas as nossas crises está aí, no descaso e
irresponsabilidade com que se trata o lugar onde vivemos, a base das
bases. A humanidade não tem como dar certo desse jeito. Não precisa ser
muito inteligente para perceber isso. Aliás não precisa nem saber
escrever ou conhecer filosofia alguma para saber disso. Só precisa ter
sanidade mental.
O discurso dos porta vozes do poder é sempre bom, como escrevi não
tem polêmica nem grande debate. Mas não corresponde à prática. Na hora
da decisão pelo investimento fala mais alto o lucro dos acionistas,
mesmo que a variável ambiental esteja na mesa.
O nó está aí. Ele é o pai de todas as crises. Está apertado e a corda
está toda desfiada. Vai dar muito trabalho desatar. Mas resolvendo esse
nó os outros se desfarão sozinhos. Por via das dúvidas, no caso da
nossa ficha demorar demais para cair, aproveita bem esse dia e guarda no
coração como era bom nos tempos antes do colapso da humanidade.
Danilo Di Giorgi é jornalista formado pela PUC-SP. Trabalha em projetos socioambientais e organiza seminários sobre temas diversos.