Segunda, 20 de junho de 2016
Michèlle Canes - Repórter da Agência Brasil
O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao juiz
Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na Justiça Federal, a
homologação do acordo de delação premiada firmado com Vinicius Veiga
Borin, administrador de uma consultoria financeira ligada à offshore da
construtora Odebrecht. O pedido foi enviado na última sexta-feira (17).
Na
delação, Borin diz que foi procurado por um representante da Odebrecht
para abrir contas “para fazer a movimentação financeira das obras da
companhia no exterior”, quando trabalhava no Antígua Overseas Bank (AOB)
entre 2006 e 2010, em São Paulo. No depoimento, enviado ao juiz Sérgio
Moro, Borin afirmou que as contas “eram necessárias exclusivamente em
razão das obras da Odebrecht no exterior”.
Uma das contas
abertas, de acordo com Borin, foi a da offshore Klienfeld. Segundo as
investigações, a conta teria sido utilizada pela Odebrecht para pagar
propina a agentes da Petrobras e também para fazer transferências para
uma conta secreta em nome da Shellbill Finance, empresa que seria
controlada pelo publicitário João Santana e a esposa, Mônica Moura.
"Com
a Operação Lava Jato em curso, fazendo uma memória retrospectiva, o
depoente percebe que as transações não eram com fornecedores ou em razão
de obras da Odebrecht; que o depoente não pode afirmar que 100% dos
pagamentos eram ilícitos ou não se referiam a fornecedores ou relativos a
obras da companhia, mas sim que grande parte deles sim", diz o
documento do MPF.
Borin
disse no depoimento que “percebeu que o dinheiro vinha de outras
empresas offshore controladas pela própria Odebrecht e não de
fornecedores ou obras, embora não saiba se a origem do dinheiro advenha
de obras”.
O administrador contou aos procuradores que o
Antígua Overseas Bank foi liquidado em 2010 e que ele e outros
integrantes, junto com membros do Setor de Operações Estruturadas da
Odebrecht, compraram uma participação em uma filial sem atividade do
banco Meinl Bank, de Viena. Nesse banco, foram abertas as contas que
funcionavam anteriormente no AOB.
O setor de operações era,
segundo as investigações da Lava Jato, uma divisão dentro da Odebrecht
que operava o pagamento de propinas por meio de contas offshores abertas
pelo próprio grupo e sob ordens de executivos do grupo.
De acordo com o MPF, Borin relatou que, algum tempo depois, as
contas foram encerradas pois “os nomes das offshores começaram a
aparecer na investigação da Operação Lava Jato” e que “embora não possa
afirmar com certeza, entende que a ordem para o fechamento das contas
veio ‘de cima’, da administração da Odebrecht, embora não saiba nominar
de quem”.
Na delação, Borin disse que nunca teve contato com o então presidente da construtora Marcelo Odebrecht.
Borin
foi preso na 23ª fase da Lava Jato, denominada Acarajé, deflagrada em
fevereiro deste ano. Na mesma fase, foram detidos o publicitário João
Santana e a mulher dele, Mônica Moura.
Procurada pela Agência Brasil, a Odebrecht informou, por meio da assessoria de imprensa, que não irá se manifestar sobre a delação de Borin.