Quarta, 30 de agosto de 2017
Para os auditores do TCDF, um dos
fatores que mais impactam no quantitativo de leitos de UTI efetivamente
disponíveis à população é a presença de pacientes que poderiam ser
atendidos por outros serviços hospitalares de menor complexidade.
Por Márcia Delgado-Foto: Metrópoles
Blog Sombra
Uma inspeção feita pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF)
constatou que a situação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) da
rede pública do DF piorou, e muito, nos últimos três anos. Durante a
fiscalização, os auditores verificaram que, de 2014 para 2017, houve
diminuição da quantidade de leitos. O número caiu de 432 para 310, ou
seja, uma redução de quase 30%.
E o mais preocupante, segundo o TCDF: essa queda foi acompanhada de um
crescimento significativo do percentual de leitos bloqueados, que não
estão sendo utilizados. Em 2014, dos 467 leitos de UTI existentes, 35
estavam bloqueados. Em 2017, de um total de 400, 90 encontravam-se
indisponíveis para os pacientes em estado grave.
Para se ter uma ideia, em visita realizada ao Hospital Regional de
Santa Maria, em 18 de janeiro deste ano, os auditores relataram o
fechamento total da “UTI 4”, uma ala inteira no 2º andar do HRSM. A ala
dispõe de espaço físico e infraestrutura instalada para operar 21 leitos
de UTI, mas nenhum estava em funcionamento. De acordo com o hospital, o
bloqueio era devido à falta de recursos humanos. Na contramão, a
Secretaria de Saúde argumentou que o problema era de manutenção.
Falta de transparência
O TCDF também aponta a falta de transparência com os dados relacionados
às UTIs, incluindo a falta de registro das internações fora de fluxo.
Em 2010, esses registros faziam parte do relatório gerencial da
Secretaria de Saúde. “Em 2017, nenhum registro foi apresentado”,
ressaltou o TCDF.
De acordo com o Relatório de Atividade do 2º Quadrimestre de 2016 da
SES/DF, os seguintes relatórios gerenciais também deixaram de ser
disponibilizados: número de solicitações de UTI/mês por solicitante;
número de óbitos na fila de espera; histórico de ocupação dos leitos de
UTI; internação sob mandado judicial.
De acordo com o TCDF, a própria Secretaria de Saúde reconhece que, por
dia, a fila de espera por um leito de UTI varia entre 50 a 80 pacientes
em média. “Mas a pasta não possui dados consolidados para planejar a
oferta desse serviço”, ressaltaram os auditores.
Falta eficiência na gestão
Para os auditores do TCDF, um dos fatores que mais impactam no
quantitativo de leitos de UTI efetivamente disponíveis à população é a
presença de pacientes que poderiam ser atendidos por outros serviços
hospitalares de menor complexidade.
De 2014 a 2016, informa o Tribunal de Contas, o GDF gastou quase R$ 70
milhões com diárias de pacientes que tiveram alta médica naquele leito,
por ineficiência da gestão. Um desperdício de quase 20 mil diárias em
UTI. As internações que geraram diária de alta ocorreram tanto em
hospitais públicos (R$ 57,4 milhões em 15.555 diárias) quanto em
hospitais particulares contratados (R$12,4 milhões em 3.371 diárias).
Segundo o corpo técnico do TCDF, a permanência de paciente em leito de
UTI após ter recebido alta médica é indicativo de falha grave na gestão
pública, que acarreta desperdício de recursos, além de sérias
consequências tanto para o paciente que se encontra na fila de espera,
quanto para o que está internado na UTI.