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(Millôr Fernandes)

sábado, 31 de agosto de 2019

Ben Hur, duas versões diferentes

Sábado, 31 de agosto de 2019


Por
Vicente Vecci*

Os dois longas metragens  clássicos  Ben Hur,  produzidos pelo   arte cinematográfica norte-americana  tem versões diferentes, sendo a última com a melhor mensagem.

Na primeira produzida    em  1959, dirigida   por   William Willer, o foco inicial da aparição  de Jesus (Yeshua em aramaico) é quando  o ator Charton Heston que interpreta Ben Hur, ao ser  conduzido como escravo para as galés, numa   estrada   até Cesaréia  nas margens do mar  Mediterrâneo, nas imediações   de   Nazareth, aonde trabalhava na sua oficina o Carpinteiro. E, ao cair trôpego, atrelado a outros escravos, cansado e com muita sede, surge o  Nazareno  de costas, provavelmente em respeito à  sua santidade, e dá-lhe água para beber  ao lado do soldado romano com o  açoite  na mão que,  ao tentar impedir esse ato  de caridade  praticado  pelo Carpinteiro, o militar olha na  sua face, fica  estupefato e inerte, deixando   Ben Hur saciar sua sede. Certamente porque  os olhos do Cristo irradiou  naquele momento magnífica luz, causando-lhe medo.

Já  na recente versão produzida  em 2016, dirigida por  Timur Belmambetov, o ator Jack Huston neto do famoso Jonh Huston, que interpreta Ben Hur, não  existe   essa cena.

E primeira aparição do personagem Jesus, representado pelo  ator  Rodrigo Santoro,  é visto  numa  feira, num bairro  de Jerusalém, trabalhando numa carpintaria: ora, pelo o que se sabe, Jesus nunca  foi carpinteiro em Jerusalém? Nessa cena Ben Hur e sua irmã estão discutindo sobre  a  atuação dos zelotes (guerilheiros) que lutavam contra a ocupação romana, e, Jesus  ouvindo-os, entra na conversa com  mensagens  de paz e  harmonia.

Voltando na  versão de 1959  Ben Hur é embarcado numa das galés romanas, destinado  ao porão do navio  junto a outros escravos  acorrentados  para serem remadores. E de sorte que, ao iniciar a navegação por um lampejo divino, o capataz manda deixar solta a trela que o atava  aos outros. Nessa  galé é aonde está o comando de toda a frota, cujo comandante é o cônsul  Quintus Arius, interpretado pelo ator Jack  Hawkins.

Durante uma batalha, esse navio é naufragado, Ben Hur sobrevive e salva Quintus Arius que tentou suicídio, sentindo ter sido derrotado. Ben Hur o impede  e quando foram resgatados  por  uma galé, sabe que fora vitorioso com sua frota. Daí adota Ben  Hur como filho.

Já na versão de 2016, Ben Hur,  após   esse naufrágio sobrevive boiando em restos da galé  aonde estava e é depois lançado numa praia, sendo  resgatado por  um   sheik  árabe  de nome Ildarim  que tem como robe a corrida de bigas com seus cavalos de raça.

Ao ser alojado perto  de um desses eqüinos que encontrava  prostado e doente, o  escravo de família nobre judaica que  tinha  também esse afinidade por  eqüinos e os conheciam bem. Cura essa égua que era de estimação do sheik, ganha  sua  simpatia e  sabe da sua destreza com cavalos e suas mobilidades nas corridas de bigas. Daí o apadrinha e leva-o a disputar um embate público  num estádio apropriado, cujo seu maior rival é o seu algoz que antes o havia  condenado injustamente  para ser escravo nas galés.

A origem de tudo isso foi a condenação injusta  imposta ao nobre Judeu Ben Hur, devido a  acidente  interpretado pelos romanos com um atentado ao procurador da república romana Poncio Pilatos quando na sua chegada em Jerusalém em desfile militar.

Na versão antiga, nessa ocasião, uma telha desprende do  telhado ao ser esbarrada por uma irmã do nobre judeu. Cai perto do cavalo que conduzia Poncio Pilatos e sua tropa, o animal assusta e causa tumulto, levando aos soldados à sua residência, aonde são presos e acusados injustamente de atentado  ao procurador 

Ben Hur assume a culpa e é condenado pelo centurião Messala, interpretado  por Stphen Boyd que  fora colega seu de infância e tivera bons relacionamentos com sua família, até  5 anos  antes de ingressar nas  legiões romanas. Regressou nessa comitiva do procurador  já promovido a oficial.

No longa metragem de 2016, esse atentado é consumado por um zelote abrigado na residência  de Ben Hur. 

No final  a mãe, a esposa e irmã desse protagonista  são curadas  de lepra, ao serem banhadas da água da chuva vinda  do monte Gólgota, após a crucificação de  Jesus, aonde estavam encarceradas.

Na produção anterior  essa cura é feita durante  a via sacra, através dos olhos do Cristo que as vê após a libertação  do cárcere. E na corrida de bigas Messala é morto num acidente  na disputa final com Ben Hur.

Já na versão de 2016, Messala tem  uma perna amputada, sobrevive, e,  os dois voltam a serem  amigos, após o perdão de Ben Hur. Daí a melhor mensagem  desse filme.

*Vicente Vecci é jornalista profissional, edita em Brasília DF há 35 anos o Jornal do Síndico –www.jornaldosindicobsb.com.br. É titular da Defesa Ambiental-Ecodefesa e idealizador  do parque ecológico da Ponte  Alta  do Gama-, que veio proteger uma biodiversidade de 298 hectaresDF. Com a força de mídia do Jornal do Síndico ajudou a criar e implantar os parques das Asas Norte e Sul  no plano piloto.