Sábado, 20 de fevereiro de 2021
Do Ataque aos Cofres Públicos, com informações de A Tribuna
A qualidade do serviço e dos profissionais dos hospitais terceirizados para organizações sociais (OSs) não corresponde ao alto valor dos contratos firmados com os governos. Em Itanhaém, a terceirização do Hospital Regional Jorge Rossmann (HRJR), gerido pela Organização Social Instituto Sócrates Guanaes (ISG) teve seu custeio inflado desde que deixou de ser administrado de forma direta pelo Estado e passou a contar com médicos e funcionários terceirizados ou até quarteirizados. Veja mais aqui.
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo repassa mensalmente R$ 4,8 milhões mensais para que a Organização Social. O valor corresponde à quase o dobro do custo operacional anterior do equipamento, que era de R$ 2,7 milhões.
A justificativa do Governo do Estado era de que a qualidade do atendimento seria ampliada. Parece que não é o que vem acontecendo. Matéria do Jornal A Tribuna, que reproduzimos abaixo, aponta que um casal viveu momentos dramáticos após terem a recusa de internação na maternidade. A gestante estava em trabalho de parto, tinha todos os sinais de gravidez de risco, mas a médica plantonista a dispensou, alegando falta de dilatação suficiente.
Economia nas horas de internação que poderia ter custado a vida de uma criança. O bebê acabou nascendo em casa, em condições preocupantes, já que não respirava por estar com o cordão umbilical enrolado no pescoço.
Felizmente, a história teve um desfecho positivo. Mas poderia ter sido mais um drama em família. Veja abaixo a matéria:
Homem faz o parto da própria esposa e ‘ressuscita’ bebê que nasceu sem respirar no litoral de SP
Jovem de 22 anos tinha gravidez de risco. A pequena Isabela nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço e sem se mexer
“Foi uma angústia imensa. Até agora a cena não sai da minha cabeça”, relata RodrigoRégis Brasilio, de 22 anos, sobre o nascimento de própria lha. A dor dele é fruto dodesespero ao ver sua esposa, Tábata Aretha Soares Guedes – também de 22 anos – dar àluz em casa mesmo vivendo uma gravidez de risco. Além disso, o pai viu a pequenaIsabela Régis Soares Brasilio nascer com o cordão umbilical enrolado no pescoço e sem se mexer: “Pensei que ela tinha nascido morta”.A situação aconteceu após uma médica dispensar o casal, que procurou atendimento naMaternidade do Hospital Regional Jorge Rossmann (HRJR), em Itanhaém, na noite daúltima quarta-feira (10). A bebê nasceu às 6h55 do dia seguinte, antes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegar na residência.Em conversa com A Tribuna, o pai de Isabela explicou que a esposa teve um princípio deaborto e toxoplasmose durante a gestação, por isso, a família passou por acompanhamento no HRJR. Porém, apesar do alto risco da gravidez, Tábata não foi internada quando compareceu ao hospital sentindo fortes dores e com contrações emintervalos de cinco minutos. Grávida de 40 semanas e um dia, a mulher foi orientada avoltar para casa.“A médica examinou ela e armou que estava com três dedos de dilatação, mas que não poderia internar, pois para isso somente a partir de seis dedos”.
Em seguida, Tábata fez exame de cardiotocografia que, segundo o marido, constou alterada. Mesmo assim, a médica disse para o casal que os sintomas não eram de trabalho de parto e que a dor era normal. Desta forma, a família foi embora 23h30.“Quando foi 4h, ela começou a sentir a mesma dor, mas pensou que era o que a médica disse”, ressaltou Rodrigo. De acordo com ele, às 6h40 as dores se intensificaram e ele acionou o SAMU. “Mas às 06h55 ela começou a nascer”.Tábata começou a entrar em trabalho de parto enquanto Rodrigo conversava com a mãe por telefone. “Minha esposa começou a me chamar e, quando cheguei no quarto, a cabeça da nenê já estava saindo. Foi quando eu percebi que ela teria que nascer ali”.
Rodrigo ligou para a mãe por chamada de vídeo buscando ajuda, mas segundo ele, o desespero foi geral, pois ninguém sabia como agir. “No começo tentei manter a calma ao máximo, mas não teve como, ela já estava com muita dor e desesperada por estar nascendo em casa”, relata.O pior momento, no entanto, foi quando o pai viu o cordão umbilical enrolado no pescoço da recém-nascida. “Vi que ela não se mexia e me desesperei. Foi a maior dor que já senti na vida, meu coração acelerou”, explica Rodrigo. Ele afirma que a esposa percebeu que tinha algo errado pelo olhar dele, por isso, também ficou mais aflita. “A pressão dela foi a 15”, conclui.
Porém, mesmo com medo, o pai conseguiu desenrolar o cordão do pescoço da bebê, mas Isabela ainda não chorava ou se mexia. A irmã de Rodrigo chegou ao local e, junto com Tábata, elas tentaram fazer a neném chorar com tapinhas nas nádegas e nas costas. “Aí ela começou a chorar e mexer o dedo”, explica.Entretanto, a dor da mãe não passava, pois a placenta ainda não havia sido expelida. “Ela teve que fazer mais força para sair sozinha, pois não sabíamos como ajudar nisso”. O socorro médico chegou apenas após cerca de 50 minutos depois do chamado. “Chegamos na maternidade mais de uma hora depois que a bebê nasceu”.Tábata teve princípio de eclampsia e Isabela engoliu toda a água da bolsa. A neném terá que passar por acompanhamento médico frequente durante, pelo menos, os dois primeiros anos de vida por conta da toxoplasmose. “Durante os primeiros dias, nãoconseguimos dormir”, relatou Rodrigo após a situação.Desde o nascimento, mãe e filha ficaram internadas no Hospital Regional. Elas tiveram alta na última segunda-feira (15). “Não podemos reclamar de nada. Fomos bem tratados”, finaliza Rodrigo.
RespostaA Tribuna.com.br entrou em contato com o Hospital Regional para falar sobre o assunto, mas até a publicação desta reportagem não houve retorno. A Prefeitura de Itanhaém informa que no SAMU, foi aberto o chamado às 6h40 para VTR USB (Ambulância),prioridade alta para secundigesta.A VTR foi acionada às 6h48, quando chegando a residência foi acionado a VTR USA – Unidade de Suporte Avançado. O parto aconteceu na residência. As informações foram transmitidas pela Secretaria Municipal de Saúde.
Terceirização ameaça as políticas públicas de várias formas
Mais uma vez fica claro a quem e a qual objetivo a terceirização e privatização da saúde pública servem.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as OSs não passam de empresas privadas em busca de lucro fácil, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Há até casos em que esse as organizações sociais são protegidas ou controladas integrantes de facções do crime organizado, como PCC.
No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!