Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

PODIA SER DIFERENTE. Um ano de covid-19 no Brasil: da gripezinha à tragédia anunciada

Sexta, 26 de fevereiro de 2021
A que ponto chegamos: Família recebe assistência de serviço funerário da prefeitura de Manaus após falecimento de parente por covid. Pandemia aumentou número de mortes em casa. - Michel Dantas/ AFP

Combate à pandemia foi dominado por polêmicas eleitoreiras e falta de compromisso com a vida da população

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Nesta sexta-feira (26), o Brasil completa um ano de registro do primeiro caso de infecção pelo coronavírus em território nacional. Neste período, o país entrou para a lista das três nações com os piores números da pandemia, teve mais de 10 milhões de infectados e 250 mil mortos.

A primeira confirmação ocorreu em São Paulo, no dia 26 de fevereiro: Um homem de 61 anos, infectado na Itália, apresentou sintomas após retornar ao Brasil. 

Cerca de 10 dias depois, com 13 pessoas contaminadas, o Ministério da Saúde anunciou medidas de reforço no atendimento hospitalar. Um mês após o primeiro registro, o país já tinha quase três mil contaminados e a velocidade da propagação saiu do controle.

O BdF Explica desta semana narra a trajetória da pandemia em território nacional. Como as polêmicas políticas, a falta de um planejamento nacional de combate e a desvalorização de medidas de prevenção fizeram o país chegar a ser o segundo com maior número de mortes de todo o planeta.


Quando o coronavírus chegou ao Brasil, pouco se sabia sobre ele. De lá para cá muita coisa foi atualizada, mas o que não mudou foram as formas de diminuir o espalhamento da covid-19. O isolamento social e a testagem em massa sãos os principais pilares dessa fórmula. 

Nacionalmente, nenhuma dessas medidas foi colocada em prática. O Brasil está hoje em 117º lugar na lista dos países que mais realizam testes. Em nenhum momento houve monitoramento efetivo de contatos dos infectados. E tem cada vez menos pessoas praticando o distanciamento.

Esse cenário foi impulsionado pelo discurso do próprio Jair Bolsonaro. Em março, na primeira vez que o presidente foi à TV para criticar a quarentena, o Brasil tinha mais de 60% da população em casa. Depois disso, os índices só caíram.


Na ocasião, Bolsonaro disse que governadores e prefeitos que incentivavam o isolamento deviam "abandonar o conceito de terra arrasada". Dias antes, ele havia afirmado que se fosse infectado pela covid não teria grandes problemas por ter "histórico de atleta".

Menos de um mês depois, em 12 de abril, o presidente mentiu ao afirmar que o coronavírus estava recuando no Brasil. "Parece que está começando a ir embora a questão do vírus", disse ele no mesmo dia em que o Brasil registrava mais de 22 mil contaminações.

Na mesma época, provocado por jornalistas a se pronunciar sobre o número de mortes, superior a 1,2 mil, Bolsonaro respondeu, "E daí? Quer que eu faça o que?" e soltou a frase "Não sou coveiro", ao se recusar a falar.


De lá para cá, enquanto a velocidade do crescimento dos óbitos traçava um cenário macabro, o presidente continuou minimizando os efeitos da pandemia, incentivando a circulação normal de pessoas nas ruas e colocando os números em dúvida.

Para piorar, ele insiste em defender o uso de medicamentos sem comprovação científica como forma de tratamento contra a covid. Mas a doença não tem tratamento preventivo e nenhumas das substância citadas pelo presidente recorrentemente funciona contra o coronavírus.

Responsabilidade

Na medida em que o governo deixou explícito que não deixaria de lado as omissões no combate à covid-19, aumentou a percepção de que a gestão de Jair Bolsonaro deve responder pelas mortes e pelo caos sanitário que se instalou em alguns locais do Brasil.

Existe no Senado um requerimento para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a atuação do governo. O Tribunal de Contas da União também cobra detalhamento de medidas para os próximos meses.

Um levantamento do Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a ONG Conectas Direitos Humanos concluiu que houve ação proposital para impedir o combate ao coronavírus.


A publicação periódica Boletim Direitos na Pandemia trouxe uma análise de mais de 3 mil decisões da gestão de Jair Bolsonaro sobre a pandemia. São leis, medidas provisórias, decretos e outros mecanismos que, apesar da quantidade, não atenderam às necessidades criadas pela crise.

Além disso, juristas brasileiros entraram com uma representação criminal na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Jair Bolsonaro por crimes contra a saúde pública, infração de medida sanitária preventiva, emprego irregular de verbas ou rendas públicas, prevaricação e perigo para a vida ou saúde de outrem.

Vacinas

Nesta quinta-feira (25), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou que a pasta espera concluir a vacinação de 170 milhões de brasileiros até o final deste ano. 

A conta exclui as pessoas que estão na faixa etária até 18 anos, mulheres grávidas, portadores de comorbidades graves e pessoas imunodeprimidas. O ministro espera concluir metade desta meta de vacinação até junho e afirma que, até o momento, foram distribuídos mais de 13 milhões de doses da vacina.

Para combater a alta de casos no país, além das vacinas a pasta cita como estratégias o atendimento imediato nas unidades básicas de saúde e a estruturação da capacidade em leitos para atendimento.


Edição: Leandro Melito