Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 4 de março de 2024

Mais rápido se pega um mentiroso do que um coxo: breve análise das mídias sobre a Rússia

Segunda, 4 de março de 2024

Do Pátria Latina, em sexta-feira, 1 de março de 2024

As mídias nacionais são verdadeiro exemplo da nossa ignorância, de nosso baixo nível civilizatório

Pedro Augusto Pinho*

O Jornal Nacional, da rede Globo de televisão, deu na quinta-feira, último dia de fevereiro de 2024, verdadeiro show de desinformação e incorreções factuais ao apresentar a situação da Ucrânia e o discurso, de pouco mais de duas horas, de Vladimir Putin no Parlamento Russo.

Vamos discorrer por parte.

Afirma o Globo, repetindo o interesse dos Estados Unidos da América (EUA) e de seus aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que a Rússia invadiu a Ucrânia. Nota zero em história.

Recentes gravações de conversas dos comandos militares dos EUA, do Reino Unido e da Alemanha, a respeito de novas medidas bélicas contra a Rússia, ficam claras as origens e intenções dos EUA em relação à Rússia. E de onde surgiu a guerra? Das primaveras, espalhadas pelo mundo, que na Ucrânia tomou o nome Euromaidan 2013/2014 (referência à Praça da Independência, local dos protestos que levaram à queda do presidente eleito e a entronização do ator circense que governa atualmente o país).

A respeito das primaveras é recomendável conhecer a autobiografia de Robert Roosevelt, sobrinho do presidente Theodore Roosevelt, agente da Central de Inteligência dos EUA (CIA), que foi incumbido de derrubar o Primeiro Ministro do Irã, Mohammed Mossadegh.

Um pouco de história é sempre útil para os desinformados globais.

Desde os czares, a Rússia é o gigante territorial de hoje. Sua expansão teve início nos séculos XV/XVI, os mesmos em que a Europa Ocidental se lançou sobre as Américas, África e o “caminho das Índias”. Ganha aqui, perde ali, por volta do século XVIII, quando os EUA conquistam a independência (1776) sobre 9% do seu atual território, as 13 Colônias, a Rússia já chegara ao Alasca (1741), que seria vendido aos EUA em 18 de Outubro de 1867.

Esta imensidão territorial sempre assustou os EUA que criaram o “destino manifesto” para avançar sobre territórios dos outros, todo restante dos 91%, que constituíram os EUA atual, e dominarem, nos modelos coloniais que foram se modificando no tempo, a maior área territorial possível.

O grande feito estadunidense, no entanto, foi obtido com sua submissão ao financismo inglês, que conduz o Reino Unido desde o século XIV. Hoje denominamos das finanças apátridas ou do neoliberalismo este novo poder, que defende a unipolaridade e declara guerra à Rússia e à China, as duas maiores potências fora do domínio neoliberal.

Observe que as mídias ocidentais estão sempre buscando pretexto para provocar a Rússia e a China, sendo o comunismo uma constante. E incorreta, pois inexiste na Rússia e é apenas a denominação do partido chinês, pois o país agrega a todas atividades a expressão “com as características chinesas”, ou seja, qualquer ideia, qualquer modelo de governança ou estrutura de poder e de ação terá a característica da cultura milenar chinesa, lá o comunismo é uma palavra que não corresponde ao pensamento de Marx, Engels e Lenine.

Mas o pretexto de guerra é também a forma de executar a governança neoliberal, como denunciou o ex-funcionário Matthew Hoh, do Departamento de Estado dos EUA. Afirma o diplomata que a renovação do arsenal de blindados apenas beneficiaria os políticos lobistas e os empresários fabricantes. Hoh diz ter certeza que “os políticos receberão contribuições de campanha significativas do setor da defesa e os soldados estadunidenses receberão veículos pouco funcionais, caros e de difícil manutenção”. A guerra na Ucrânia tem demonstrado que os equipamentos bélicos recebidos via OTAN para as batalhas em território ucraniano não têm correspondido às necessidades, confirmando não ser a denúncia de Matthew Hoh fato recente.

O DISCURSO DE PUTIN

Intuindo que o discurso de Putin, mesmo gravado, seria objeto de divulgações nada verdadeiras quanto ao conteúdo, este escriba se pôs, desde as seis horas, horário de Brasília, a acompanhar seu desenrolar pela agência noticiosa Sputnik.

Em nenhum momento Putin fez qualquer ameaça de guerra ou colocar satélites com bombas de qualquer tipo no espaço. É uma invenção, como a crise climática ser devida aos combustíveis fósseis, para colocar a população mais imbecilizada em pânico.

O que constituiu o cerne do discurso foi a profissão de fé nacionalista, um verdadeiro horror para os neoliberais globalistas, e quais são os fundamentos da cultura russa. Também tranquilizou os russos quantos aos recursos para defesa, pois eles sabem que o ocidente sempre desejou submetê-los colonialmente, como fizeram com a África, as Américas, a Ásia e as ilhas do Oceano Pacífico. Se alguém duvida é só observar quais são os idiomas falados pelo mundo afora. O banto? O ashanti? O fulâni? O maia? O tupi? O guarani? As línguas tankic?

Os europeus ocidentais, anglos, saxões, ibéricos, germânicos, latinos, quiseram construir um mundo para sentirem-se em casa onde estivessem, e encontraram nos EUA a projeção deste desiderato, desta ambição. E para isso promoveram as guerras por toda parte.

Os russos mantiveram todos os idiomas e culturas dos povos que se abrigaram na grande Rússia czarista e na Rússia soviética. Os chineses, da etnia  “han”, que ocupa quase a totalidade do território da China, e que formaram o país mais avançado até o Renascimento, jamais invadiram outras nações. A invasão oriental se deu pelos mongóis, que também dominaram por cerca de um século (o XII) a China.

Ou seja, vê-se de um lado duas potências pacíficas e desenvolvimentistas e de outro países colonizadores e financistas.

Esta é a situação atual.

O Brasil hesita em se assumir terceiro mundista, que se denomina agora Sul Global, mesmo reconhecendo ter suas bases culturais nele assentadas. Um exemplo está na não adesão à Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), criado pela China, que guarda semelhança com a antiga Rota da Seda.

O que é esta nova Rota da Seda? Um conjunto de países que trabalham para construir as infraestruturas que facilitem o comércio entre eles, em relações bilaterais, sem imposições políticas ou ideológico-religiosas. Exemplo? O comércio da China com os Emirados Árabes e com o Irã. A ICR já congrega mais de 150 países e organizações multinacionais. Porém não impõe condições de qualquer natureza que não seja de cumprir cada contrato nos termos acertados.

E pode aproveitar do financiamento da China ou dos BRICS ou de outra entidade para realizar suas compras e vendas.

O neoliberalismo está em crise dentro de casa. A Alemanha se desindustrializando, com déficit de energia, desemprego e com povo vivendo cada dia em condições piores. A França que deseja a guerra para conter a ira dos agricultores, ocupando estradas e ruas em protestos contra a miséria reinante, que se deve a ter um empregado dos banqueiros Rothschild na presidência do País. A Inglaterra, a “pérfida Albion”, demonstrando porque assim foi chamada pelo poeta Marquês de Ximenes, enganando os aliados e o próprio povo para proveito único da aristocracia britânica. Os países latinos desconfiados da esquerda que se transveste de direita e da direita populista. E os EUA que se vê entregue a candidatos dos menos qualificados e à elite absolutamente corrupta no controle do País, conduzindo-o ao desemprego, falta de assistência, miséria e morte.

As mídias nacionais são verdadeiro exemplo da nossa ignorância, de nosso baixo nível civilizatório, demonstrando a falta que fazem, por todo território nacional, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), concepção dos gênios Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, empreendidos pelo nacionalista Leonel Brizola.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.