Domingo, 4 de novembro de 2024
A educadora foi celebrada por sua contribuição político cultural e ativismo na luta antirracista no DF
Cerimônia de entrega do título a Lydia Garcia aconteceu na CLDF nesta sexta-feira (1°) - Foto: Alexandre Bastos
Bianca Feifel
Brasil de Fato | Brasília (DF)
O legado da educadora, musicista, artesã e ativista Lydia Garcia foi celebrado nesta sexta-feira (1º) na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). A carioca, que vive no DF há mais de 60 anos, recebeu o título de Cidadã Honorária de Brasília, em cerimônia realizada pelo mandato do deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF).
“O legado que eu deixo é que nós devemos estar em todos os lugares”, afirmou a homenageada. “Essa cidade, esse Brasil é nosso. Nós negros construímos esse Brasil. Nós mulheres amamentamos esse país”, celebrou.
Lydia Garcia nasceu no Rio de Janeiro, em 1938, filha de uma costureira talentosa e um funcionário público. Aos 7 anos, iniciou os estudos de piano. Anos mais tarde, tornou-se especialista em iniciação musical pelo Conservatório Brasileiro de Música. Chegou em Brasília na década de 60, tendo sido testemunha e protagonista da construção física, social e cultural da cidade.
“Hoje, enaltecemos a pessoa, o nome, o espírito e a trajetória de Dona Lydia Garcia, com o apoio e reconhecimento contínuo da importância do trabalho dessa ilustre cidadã na construção de uma sociedade mais justa, igualitária, sem racismo e nenhuma forma de discriminação. Viva Dona Lydia Garcia!”, enfatizou Fábio Félix ao abrir a cerimônia.
Lydia Garcia foi homenageada por intelectuais negras e família / Foto: Alexandre Bastos
“Preta brasiliense, uma deusa, uma entidade” foram as palavras usadas pela professora aposentada Neide Rafael para definir sua amiga.
“A olhar de frente, olho no olho, ela se revela no espelho das mulheres negras reais, subjetivando mundos externos e internos. Seus princípios são da narrativa Yoruba, fortes, atemporais, nos contando do amor, da revolta, da beleza, da estética, da identidade, também do ciúme, do autocuidado, da dominação e também das vitórias dos muitos eus habitados por nós mulheres negras”, completou.
O fato de Lydia Garcia ter sido a primeira professora de música do DF foi relembrado pela deputada federal Erika Kokay (PT-DF). “A cidade já a consagrou. Lídia Garcia é cidadã honorária de Brasília pela sua trajetória, pela sua história, pela sua coragem, pela sua paciência. Eu diria também pela sua permanência e sua impermanência, e também pela sua capacidade de reagir com muita força e com muito vigor em defesa de uma sociedade não racista”, apontou.
Jornalista e integrante do Coletivo de Mulheres Negras Baobá, Jacira Silva destacou a importância da homenagem à Garcia ser feita em vida. “Esta vida que você construiu junto com a sua família, a partir de uma vida política cultural comprometida. A partir da sua profissão, como educadora, e por meio da música. Esta sensibilidade, Lydia, que você espalha, que você divide, que você soma”, enalteceu.
Poder reconhecer e comemorar a trajetória da educadora estando lado a lado também foi celebrado por Jaqueline Fernandes, presidente do instituto Afrolatinas: “Minhas heroínas resistiram, todas estão vivas. Rosas em vida. Viva Dona Lydia!”.
Para Garcia, um de seus maiores legados é a sua família. Ela é mãe de cinco filhos, avó de onze netos e bisavó de duas bisnetas. Os nomes de todos foram celebrados no discurso da ativista, e alguns também estiveram presentes na cerimônia.
Lydia Garcia tem mais de 60 anos de contribuição pra educação e cultura do DF / Foto: Alexandre Bastos
“Lydia é uma pessoa que quebrou muitos paradigmas dentro de casa, na sociedade, na comunidade, e essa mesma mulher que está recebendo esse título, essa mulher pioneira”, destacou Kenya Garcia, filha primogênita que, segundo ela, foi “gestada junto com Brasília”.
Ana Flávia Pinto, historiadora e diretora-geral do Arquivo Nacional, exaltou o acervo privado de Lydia Garcia. “É um acervo que tem força de arquivo comunitário por meio do qual é possível contar a história da população negra no DF, a história das artes, da educação, das mulheres, da militância, a história de todas nós”, enfatizou.
“E é essa força que eu gostaria de agradecer. Essa existência sublime, épica, coletiva, que dá a medida daquilo que a gente aprendeu a chamar de Ubuntu e que é aquilo que a gente aprende com malungas e malungos”, completou a historiadora.
Edição: Flávia Quirino