Terça, 26 de novembro de 2024
As mensagens circulavam entre militares de alta patente após o segundo turno das eleições de 2022
Caroline Oliveira
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 26 de novembro de 2024
Jair Bolsonaro e o então comandante de Operações Especiais, general Mário Fernandes - Isac Nóbrega/PR
Áudios obtidos pela Polícia Federal (PF) e divulgados pela imprensa mostram que militares de alta patente estavam dispostos, após o segundo turno das eleições de 2022, a iniciar uma guerra civil para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.
Em um dos áudios, do dia 29 de novembro de 2022, o general-de-brigada da reserva Roberto Criscuoli falou sobre a possibilidade de uma guerra civil em mensagem enviada para o general da reserva e ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República, Mário Fernandes.
"Se nós não tomarmos a rede agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem um significativo, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara vai destruir o Exército, vai destruir tudo", disse.
Em outra mensagem enviada a Mário Fernandes, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu disse que o país estava em guerra e, por isso, defendeu um golpe de Estado. “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o cu. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, afirmou.
As investigações mostram que Mário Fernandes foi um elo entre manifestantes bolsonaristas que atuavam por um golpe de Estado e Jair Bolsonaro. A PF relata que o general "possuía influência sobre pessoas radicais acampadas no QG-Ex [Quartel-General do Exército (QG-Ex), em Brasília], inclusive com indicativos de que passava orientações de como proceder e, ainda fornecia suporte material e/ou financeiro para os turbadores antidemocráticos".
Em outra mensagem, desta vez enviada por Mário Fernandes ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o general diz que estava orientando "tanto o pessoal do agro quanto caminhoneiros que estão no QG" e que já havia conversado pessoalmente com o então presidente Bolsonaro, em 8 de dezembro. “Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer: o clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa, para que ela se mantenha nas ruas”, disse.
Fernandes também pediu que Mauro Cid conversasse com Bolsonaro sobre “segurar” as ações da Polícia Federal no acampamento de golpistas em frente ao QG do Exército por meio do Ministério da Justiça. "Os caras não podem agir, a área é militar, mas, porra, já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Então, porra, seria importante, se o presidente pudesse dar um 'input' ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF, né? Ou, porra, pra Defesa alertar o CMP, que, porra, não deixa. Os caminhões estão dentro de área militar", afirmou.
Em resposta, Cid afirmou que conversaria com Bolsonaro. "O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo está curto, não dá pra esperar muito mais passar. Dia 12 seria... Teria que ser antes do dia 12 [data da diplomação de Lula no TSE], mas com certeza não vai acontecer nada", relatou.
Outra pessoa que aparece nos áudios é o ex-assessor de Jair Bolsonaro, o coronel Marcelo Câmara. Em diálogo com Mário Fernandes, o militar aparece disposto a ir longe por um golpe de Estado. “Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, afirmou.
A Marcelo Câmara, Mário Fernandes falou em tirar o general Paulo Sérgio Nogueira do Ministério da Defesa colocar o general Walter Braga Netto, apontado pela PF como um dos principais articuladores do plano golpistas.
"Ontem, falei com o presidente. Porra cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD [Ministério da Defesa], porra. Bota de novo o General Braga Netto lá. General Braga Netto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo", diz Fernandes ao auxiliar do ex-presidente.
Na última quinta-feira (21), Mário Fernandes e outras 36 pessoas, incluindo o ex-presidente, foram indiciados pela Polícia Federal por uma tentativa de golpe de Estado e um plano de execução do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A PF apontou os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa.
Edição: Nathallia Fonseca