Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Umbigo da Bahia, Jóia valiosa da Terra dos Orixás

Sexta, 6 de agosto de 2010
Jóia encravada no lindo mar da Baia de Todos os Santos, para uns. Umbigo da Bahia, para Jorge Amado, o escritor que revelou ao mundo as belezas da sua terra, os costumes, a gente, os mistérios dos Orixás, os pecados e virtudes da mulher e do homem da Terra Bahia, a beleza de um pedaço do Brasil.

Assim é o Forte de São Marcelo, que tanto cativa o turista como o próprio baiano. Qual o baiano, qual o turista, qual a pessoa que ao descer as ladeiras que levam da cidade alta à cidade baixa nas proximidades do Mercado Modelo que deixa de se extasiar com a beleza do Forte São Marcelo? Niguém, absolutamente ninguém deixa de admirar o velho forte.

Mas o forte, como tantas coisas belas e que devem ser preservadas, já sofreu o abandono por décadas e décadas. Construído no século XVII, tornou-se, há alguns anos, apenas em uma coisa bela de se ver das ladeiras da Bahia ou da Praça Municipal —o mais privilegiado mirante da Baia de Todos os Santos.

Por dentro, a ação do tempo, e não só do tempo, deteriorava o forte. A mobilização de baianos e brasileiros, liderada especialmente por aqueles que compõem a Abraf (Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos) conseguiu, a duras penas, que a Jóia construída no século XVII fosse recuperada.

Deixou de ser esconderijo de marginais e do tráfico de drogas para transformar-se em atração da bela capital baiana. Entre 2006 e 2010, por exemplo, mais de 300 mil visitantes. Destes, cerca de 100 mil estudantes, principalmente de escolas pública de Salvador. Esses estudantes veem a beleza do forte por dentro. E aprendem a história da Bahia.

Agora o forte corre o risco de voltar ao que era antes da recuperação. O Termo de Cessão de Uso do forte pela Abraf expirou no dia 12 de julho. Há uma indefinição se a Abraf continuará cuidando do Umbigo da Bahia. Até hoje não houve manifestação quanto à renovação do Termo.

O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) até agora não deu resposta ao pedido de reconsideração da negativa de renovação do termo de cessão feita pela Abraf. Autarquia do Governo Federal, vinculada ao Ministério da Cultura, é o IPHAN responsável pela proteção dos bens culturais do país, pelos tombamentos, restaurações e revitalizações que assegurem o acervo arquitetônico, urbanístico, documental, etnográfico e artístico do Brasil.

A Abraf já percorreu os gabinetes do presidente nacional do IPHAN e do superintendente da autarquia na Bahia. Conversou com o prefeito João Henrique, de Salvador, com o governador Jaques Wagner, com Juca Ferreira, o ministro da Cultura. Mas sequer o IPHAN respondeu ao pedido de renovação do Termo de Cessão de Uso do forte.

É a insensibilidade das nossas autoridades quando se trata de cultura ou da história do Brasil.

Tenho ainda hoje as imagens em minha mente. Eu, meus irmãos e meus pais, saboreando o sorvete gostoso da Sorveteria A Cubana, localizada no Elevador Lacerda. Da Praça Municipal a visão dos belos palácios Rio Branco e especialmente do Tomé de Souza. Mas nada se igualava às imagens daquela jóia lá embaixo, compondo com o mar da Bahia uma visão que enchia os olhos de uma criança. E continua a encher os olhos de um adulto. Na realidade, de todos os adultos ou crianças da Bahia.

“Você já foi à Bahia, nega? Não, então vá!” Vá e não deixe de visitar o Forte São Marcelo. Aproveite as atividades culturais desenvolvidas pela Abraf no forte e faça uma rápida viagem pelo mar numa pequena caravela réplica das que tantas vezes cruzaram aquele mar.

A viagem, que percorre um pequeno trecho da costa de Salvador, dá direito à companhia de D. João VI e Carlota Joaquina, além de tripulantes também caracterizados com roupas e armas da época. É uma aula de história, com direito a narração feita por um dos tripulantes, o mais nobre deles: D. João VI.
Salvem o Forte de São Marcelo!