Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
O editorial vir na capa é sintomático |
Não terá sido coincidência o fato de os dois jornais mais influentes de São Paulo (que, ao lado de O Globo,
são os maiores do País), terem publicado editoriais extremamente
contundentes contra o Governo Dilma neste mesmo domingo, 3. Para quem
consegue captar os subtextos da política e da comunicação, é sinal de
que o drama brasileiro está chegando ao desfecho.
O da Folha de S. Paulo, Nem Dilma nem Temer,
começou acertando já no título: a presidente precisa ser substituída
antes que o avanço daquela que já é a nossa pior recessão econômica de
todos os tempos engendre a convulsão social, o caos e, talvez, uma nova
ditadura; mas o vice não se constitui, nem de longe, no homem certo para
unificar o País nestas circunstâncias dramáticas.
Então, tanto quanto a esquerda precisa ser refundada após os fracassos e
a lama da era petista, a democracia brasileira precisa ser passada a
limpo depois de haver atingido grau tão extremo de degradação. Como o
poder político se esfarelou por completo, um novo governo só terá
credibilidade se provir da fonte do qual emana, ou deveria emanar: o
povo.
É paradoxal que o chamamento a uma nova diretas-já parta de um jornal tão identificado com más causas. Vale, contudo, lembrar que em 1984 a Folha
apoiou a emenda Dante de Oliveira e, por ser o jornal mais simpático ao
restabelecimento imediato das eleições diretas, teve um ganho imenso de
prestígio, que logo se expressaria em termos financeiros (aumento da
circulação e das receitas publicitárias). Como atravessa um período de
vacas magras, pode estar sonhando com um bis.
Quanto ao editoral de O Estado de S. Paulo (Contra o direito e a razão),
constata o óbvio: ao tentar salvar-se do impeachment entregando as
joias da coroa a partidecos como como o PHS, PTN, PSL e PT do B, Dilma
está transformando o Planalto num "monturo" e, mesmo que por milagre
consiga manter seu mandato, "terá de governar com essa equipe de
desqualificados" e "não terá nenhuma condição de aprovar o que quer que
seja no Congresso".
Resultado óbvio: "O País ficará paralisado". E, acrescento eu, como a
natureza e a política abominam o vácuo, conflitos armados e quarteladas
entrariam no leque das possibilidades. Trata-se do pior cenário, aquele
que é simplesmente imperativo afastarmos.
Não passa de um tresloucado desvario a suposição de que ganharíamos
agora uma luta que perdemos quando tínhamos quadros infinitamente
melhores, éramos respeitados pelo povo e enfrentávamos uma ditadura tão
tacanha quanto odiosa e sanguinária. Tudo leva a crer que, pelo
contrário, desta vez colheríamos uma derrota ainda mais acachapante.
Então, o enfrentamento deve ser evitado a qualquer custo, enquanto não
recompusermos nossas fileiras e resgatarmos nossa credibilidade.
Deixar desabar um governo que jamais foi revolucionário e hoje está
caindo de podre é um preço barato a pagarmos para que a reconstrução da
esquerda possa ser empreendida nas condições mais favoráveis, ou seja,
em tempos de (ao menos relativa) calmaria.