Terça, 26 de abril de 2016
Luciano Nascimento - Repórter da Agência Brasil
Em depoimento no Conselho de Ética da Câmara
dos Deputados, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando
Baiano, confirmou o repasse de dinheiro oriundo do esquema de propina na
Petrobras ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). Baiano disse que os pagamentos eram feitos em espécie e que
os repasses ocorreram em 2011 e 2012.
“Houve reunião de
Júlio Camargo [empresário] com Cunha para tratar diretamente desses
valores, no dia 18 de setembro de 2011, no Leblon onde ficou acertado o
pagamento de US$ 5 milhões. Pessoalmente entreguei R$ 4 milhões para
Cunha", disse aos deputados do conselho.
Baiano é apontado na
Operação Lava Jato, da Polícia Federal, como operador de recursos para o
PMDB no esquema de pagamento de propina em negócios irregulares
envolvendo a Petrobras. Baiano confirmou aos deputados as informações
iniciais prestadas por outros delatores do esquema, o doleiro Alberto
Youssef e o empresário Júlio Camargo. De acordo com Camargo, Cunha
cobrou o pagamento a Baiano de subornos atrasados no valor de US$ 15
milhões, para viabilizar a contratação de dois navios-sondas do
estaleiro Samsung, representado no Brasil por Camargo.
Questionado
pelo deputado Marcos Rogério (DEM-RO), relator do processo contra
Cunha, se tinha conhecimento de repasse de propina a Cunha em contas no
exterior, Baiano disse não ter conhecimento de que houvesse repasse de
dinheiro para contas no exterior. Segundo Fernando Baiano, os valores
eram entregues pelo doleiro Alberto Youssef e depois ele levava a
quantia para Cunha. “A pessoa que recebia a propina era um funcionário
do escritório de Cunha no Rio de Janeiro, chamada Altair”, acrescentou.
Durante
o depoimento, o lobista disse que conheceu Cunha em 2009, em um café da
manhã, em um hotel. Posteriormente, o deputado questionou Baiano sobre a
possibilidade de doação para campanha eleitoral. Baiano disse que as
empresas não doavam para campanha, mas que Cunha disse que poderia
ajudá-lo a cobrar uma dívida de US$ 16 milhões de Júlio Camargo pela
intermediação de contratos de navios- sonda com a Petrobras. “E eu
sinalizei que se ele me ajudasse na cobrança dessa dívida eu poderia
ajudar na campanha”, disse o lobista, que afirmou que se encontrava com
Cunha nos finais de semana no escritório do deputado no Rio de Janeiro.
Cunha
Cunha
nega as acusações. O advogado do peemedebista, Marcelo Nobre, contestou
as declarações de Fernando Baiano a respeito do pagamento de propina,
alegando que as acusações não tem a ver com o processo em tramitação no
Conselho de Ética, que apura se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
quebrou o decoro parlamentar ao afirmar não ter contas no
exterior. Documentos do Ministério Público da Suíça revelaram a
existência de contas ligadas a Cunha naquele país. O presidente da
Câmara nega ser dono das contas, que, segundo ele, são administradas por
trustes e afirma ser o “usufrutuário” dos ativos mantidos no exterior.
Para
a defesa de Cunha, o depoimento de Baiano não pode ser usado no
processo no colegiado. “Não podemos admitir que discutamos aqui a
imputação de vantagem indevida se sequer tivemos condição de apresentar a
defesa nesse sentido e essa imputação não foi aceita nesse conselho”,
criticou o advogado de Cunha, Marcelo Nobre.
Na semana passada, o
vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), determinou que o foco
da apuração no colegiado fique somente sobre a suspeita de que Cunha
teria contas bancárias secretas no exterior e de que teria mentido sobre
a existência delas em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Petrobras. “Não foi ele quem limitou, foi este conselho, foi o
próprio colegiado quando decidiu excluir do processo as questões
relativas a vantagens indevidas”, defendeu.
Para o deputado Julio
Delgado (PSB-MG), o depoimento de Baiano deixa claro que Cunha mentiu
na CPI da Petrobras ao dizer que Fernando Baiano nunca foi a casa dele.
"Já estive na casa dele [Cunha]", disse Baiano ao ser questionado pelo
deputado. Delgado também criticou a estratégia da defesa de Cunha de
querer limitar as investigações. "O campeão da Lava Jato é o Eduardo
Cunha. É o que tem mais processos na Lava Jato", disse o deputado.