Terça, 10 de agosto de 2010
Por Ivan de Carvalho

Bem, houve de então para cá uma mutação no cenário político baiano, mais especificamente no que diz respeito às eleições de governador. Aquele mantra já não é válido. Ante os resultados de pesquisas eleitorais, das quais a última, do Ibope, foi a mais incisiva (até convém aguardar outras, especialmente o próximo Datafolha, para conferir), o mantra foi substituído entre os políticos por uma pergunta: haverá segundo turno?
A resposta é difícil, exceto para videntes ou profetas. Como não sou nem uma coisa nem outra, embora tenha certeza da existência do dom da vidência e da realidade dos profetas, não darei aqui a resposta. Apenas estou reconhecendo uma mudança profunda no cenário, que retira a suposta certeza inicial (da qual eu próprio participava) de que haveria segundo turno na Bahia este ano.
A mudança, como, aliás, já afirmei ontem neste espaço, deveu-se basicamente ao forte investimento político (financeiro, forçoso é admitir, também) que o governo estadual fez em propaganda, movimento que começou para valer no ano passado, ganhando intensidade no segundo semestre e teve um enorme impulso no primeiro semestre deste ano, encerrando-se apenas quando não mais era possível prosseguir, ante a proibição drástica da legislação eleitoral. Enquanto isso, Souto e Geddel tinham a liberdade de se expressar amplamente, mas não os meios.
Aliás, chega a ser espantosa a influência que uma propaganda massiva e bem planejada consegue ter sobre a sociedade baiana (e brasileira) ou a maior parte dela em um relativamente curto período, um período de pouco mais de um ano. Esta é uma das muitas e boas razões que recomendam exorcizar a tese (e a realidade presente) do Estado forte. Este, (in)devidamente aparelhado, sem ter forças que possam neutralizá-lo em caso de necessidade, dominará uma sociedade como a brasileira com extrema facilidade, utilizando-se intensamente da propaganda. E então, “ai Deus, saudade”.
Voltando à questão inicial, a mutação ocorrida no processo sucessório não se deveu somente à propaganda, que foi o elemento básico, mas não único. O governo entregou obras prontas, algumas importantes, o governador usou seu inegável carisma no contato amiudado com o eleitorado e alguns programas e obras foram lançados ou começaram a sair do papel. E a candidata governista a presidente passou à frente de José Serra no conjunto das pesquisas eleitorais, fato relevante.
Mas como houve razões que levaram à mutação que acabei de registrar, outras poderão produzir uma realidade continuamente mutável até as eleições. A propaganda do governo já foi silenciada pela lei. A partir do dia 17 de agosto, Wagner volta a ter propaganda (agora declaradamente eleitoral) no rádio e televisão. No entanto, mais importante é que seus concorrentes, que não tiveram esta oportunidade ainda, passarão a ter também.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.