Quarta, 12 de julho de 2011
Por Ivan de Carvalho

Claro que todos têm
presente que os últimos dias da política nacional foram consumidos por uma
crise envolvendo corrupção, o governo e o Ministério dos Transportes, do qual
foram exonerados, entre outros, o ministro Alfredo Nascimento, que já voltou ao
exercício de seu mandato de senador e ao cargo de presidente do PR, do qual
estava licenciado enquanto ministro. Há também um presidente de honra, o
deputado Valdemar Costa Neto, aquele que era então o presidente legal e foi
esperto o bastante para renunciar ao mandato no Escândalo do Mensalão a tempo
de não poder ser cassado e perder temporariamente os direitos políticos.
O PR, com cerca de 40
deputados e sete senadores, é um partido importante na aliança governista, mas
foi destratado ou maltratado pela presidente Dilma Rousseff na crise que ainda
não se encerrou, mas caminha nessa direção. Também se poderia dizer que o PR ou
sua cúpula também maltratou ou destratou a presidente Dilma Rousseff, ao
praticar coisas que não devia sob seu governo. Aqui fica algo a ser considerado
adiante.
Mas, voltando à ausência de
Lincoln Portela no almoço de Vaccarezza, ao atribuí-la a “problemas
partidários” ele estaria dando a indicação de que se tratava de um protesto,
mas não como razão exclusiva. A outra é que ele, sendo o líder da bancada do
Partido da República, devia estar todo atrapalhado com o ambiente infernal que
se terá instalado na bancada depois que Dilma decidiu escolher para ministro o
ex-secretário executivo do ministério, Paulo Sérgio Passos, filiado ao PR
somente no ano passado e que vinha sendo recusado pelo PR como alguém que
pudesse representá-lo no Ministério dos Transportes.
Mas Dilma Rousseff, depois
de convidar o senador Blairo Maggi (que o partido aceitava) para o cargo e este
recusar – o que pode ter sido conforme as aparências ou camuflado uma jogada
política combinada entre a presidente e Maggi – partiu para o desafio: escolheu
Paulo Sérgio Passos, que ela queria e o PT, idem. O PR, mesmo indignado, vai se
conformar. Vingança, o prato que se come frio, só bem mais à frente, se
surgirem oportunidades e se o governo estiver enfraquecido, passando por
dificuldades.
Enquanto isso, o senador,
ex-governador de Mato Grosso e mega-empresário Blairo Maggi afastou o pânico
que tomara conta do governo ante o depoimento, no Senado, do diretor-geral do
DNIT (que entrou em férias para não ser exonerado), Luís Antônio Pagot. De círculos
próximos a Maggi espalhou-se um boato maldoso de que tudo que foi feito de
aditivos no DNIT foi determinado, principalmente pelo agora ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo, para viabilizar doações para a campanha
presidencial de Dilma Rousseff. Um absurdo, claro, esse tipo de coisa não
acontece no Brasil nem que a vaca tussa.
Blairo Maggi, que é o
padrinho político de Pagot, conversou bastante com ele antes de seu depoimento
de ontem e, pelo que noticiou a imprensa, garantiu ao governo que nada
precisava temer do depoimento de Pagot, ocorrido ontem. E Pagot disse ao Senado
que nada foi feito de irregular no DNIT e que todas as decisões tomadas no
âmbito do Ministério dos Transportes e do DNIT foram colegiadas, e, como
assinalou ontem o jornalista Ricardo Noblat, sintetizando o espírito do
depoimento de Pagot, “delas tomaram conhecimento as demais instâncias do
governo”. Ah...
Blairo Maggi ficou tão
entusiasmado com o desempenho de seu afilhado político no depoimento que fez um
apelo a Dilma para mantê-lo no cargo depois dele voltar das férias.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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"Caçorro"? Que "caçorrooque"? Não sou "caçorro" não.