Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O reconvite a Durval

Segunda, 8 de agosto de 2011 
Por Ivan de Carvalho
O senador João Durval, do PDT, que vinha se comportando com exemplar discrição durante seu mandato, tornou-se de repente um dos mais proeminentes congressistas, condição amplamente refletida pela mídia nacional na semana que passou.

            Primeiro, foi a questão da assinatura que colocou no e depois deslocou do requerimento da CPI da Corrupção, que, se houvesse sido criada, iria apurar, no Senado, infindáveis denúncias.

           A retirada das assinaturas de Durval e de um suplente de senador do oposicionista PSDB que está no exercício do mandato, substituindo o pai, que é de um partido da base do governo, impediu o êxito do requerimento que criaria automaticamente a CPI.

            O senador baiano, ante a hipótese divulgada de que teria retirado a assinatura em troca da garantia de que um filho seu, deputado Sérgio Carneiro, terá o apoio do governo para ser indicado para ministro do Tribunal de Contas da União – cargo para o qual não se lhe podem negar os méritos – tratou de desfazer essa versão maldosa.

            Durval explicou que retirou a assinatura após uma reflexão de que, sendo da base política do governo, não se devia deixar usar pela oposição, que tentava criar a CPI. Esta reflexão teria sido feita em paralelo e evidente sincronia com os pedidos que recebeu de seus dois filhos, o prefeito João Henrique, do PP e o deputado Sérgio Carneiro, do PT.

Este último também se manifestou para avisar que a hipótese da barganha com a vaga no TCU não tinha “o menor sentido”, pois, entre outras coisas, ele já tem documento que o indica para a vaga, assinado por todos os integrantes da bancada do PT na Câmara. Sérgio Carneiro tem como concorrente Ana Arraes, do PSB, com forte apoio de seu partido, comandado por seu filho e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Rumores de que pode surgir um “tertius” já existem, mas ainda são rumores.

Não foram só essas coisas, no entanto, que levaram de repente o senador pela Bahia ao estrelato político nacional. Tem mais. Ontem mesmo o Correio Braziliense, edição digital, publicou, do jornalista Luiz Carlos Azedo, a nota que a seguir transcrevo:
  
           “O senador João Durval (PDT-BA) ficou indignado com o convite desfeito em cima da hora para que o senador acompanhasse a presidente Dilma Rousseff na viagem à Bahia, anteontem (sexta).

O parlamentar, que tem 82 anos, chegou a fazer as malas, mas foi avisado pelo Gabinete de Relações Institucionais de que o avião presidencial estava cheio.

O senador, que durante a semana enfrentou ataques da oposição por ter retirado seu nome para assinar a criação da CPI dos Transportes, chegou a ser convidado novamente para a viagem, mas recusou o convite”.

Bem, creio que vale fazer um experimento, uma tentativa de reconstruir a história do convite. Se não foi assim, poderia ter sido. No Palácio do Planalto, preparou-se a lista dos que viriam à Bahia no avião da presidente Dilma e o nome do senador governista João Durval era óbvio. Puseram-no na lista de passageiros.

Então alguém “muito fraquinha” espetou o dedo no papel e desponderou: “Mas esse aí? Ele já botou o nome na lista da CPI. Melhor tirar o nome dele da lista da viagem”. Outras vozes se fizeram ouvir: “Tira, tira, tira!”. Tiraram.

Foi aí que alguém ponderou: “Mas ele retirou a assinatura da lista da CPI. E ele pode botar de novo, o Cassol recolocou. Aí ficam 27 outra vez e as vacas vão pro brejo”. Outra voz se ouviu, decisiva: “Eu entro com ele”. Então ressurgiu vaga no avião, recolocou-se o nome de Durval na lista de passageiros e reconvidaram-no a voar.

Gente séria que é, o senador recusou o reconvite. Se precisasse vir, preferia vir a pé, sertanejo de brio, acostumado a percorrer os caminhos da Feira, sob sol e poeira.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.