Quinta, 8 de agosto de 2011
Carlos Newto, da Tribuna da Imprensa
Depois da terceira noite de confrontos entre militares do Exército e
traficantes no Complexo do Alemão, o bairro teve a segurança reforçada.
Com mais de cem homens, a Polícia Militar decidiu ocupar, por tempo
indeterminado, dois morros vizinhos – da Baiana e do Adeus. E na
quarta-feira, soldados do Exército fazem uma grande operação nos acessos
ao complexo em dois blindados do tipo Urutu.
A manutenção do tráfico de drogas no Alemão e nas demais favelas
ditas “pacificadas” mostra que Helio Fernandes tinha toda razão, ao
denunciar repetidas vezes que não houve pacificação alguma, apenas um
pacto entre o governador e os traficantes. O tráfico continua, nunca
parou, e agora está enriquecendo os PMs que tomam conta das favelas
“pacificadas” e levam comissão dos traficantes, como ficou provado agora
no caso dos três PMs presos no Morro da Coroa, com R$ 13 mil nos
bolsos.
Por isso vale a pena ler de novo o artigo publicado aqui no Blog pelo
jornalista Helio Fernandes em 8 de julho de 2010. Parece que foi
escrito hoje.
***
A “pacificação” das favelas não passa de um acordo
entre o governador e os traficantes, que podem “trabalhar” livremente, desde que não intimidem os moradores.
entre o governador e os traficantes, que podem “trabalhar” livremente, desde que não intimidem os moradores.
Em dezembro de 2009, publiquei aqui no Blog um importante artigo de
denúncia, mostrando que a política de “pacificação” das favelas não
passa de uma manobra eleitoreira do governador cabralzinho, que inclui
um incrível e espantoso acordo entre as autoridades estaduais e os
traficantes que atuavam (e continuam atuando) nessas comunidades
carentes.
O acordo está “firmado” sob as seguintes cláusulas: 1 – Os traficantes somem com as armas da favela, com os “soldados” de máscaras ninjas, com os olheiros e tudo o mais. 2 –
A PM entra na favela, sem enfrentar resistência, ocupa os pontos que
bem entender, mas não invade nenhuma casa, nenhum barraco, e não prende
ninguém, pois não “acha” traficantes ou criminosos. 3 –
A favela é tida como “pacificada”, não existem mais marginais
circulando armados, os moradores não sofrem mais intimidações, não há
mais balas perdidas. 4 – Em compensação, o tráfico fica liberado, desde que feito discretamente, sem muita movimentação.
Até o Blog publicar esses artigos, ninguém havia tocado no assunto. A
implantação das chamadas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) vinha
sendo saudada pela imprensa escrita, falada e televisada como uma
espécie de panacéia na segurança pública. Era como se, de súbito, as
autoridades estaduais e municipais tivessem conseguido “colocar o ovo em
pé”, resolvendo de uma hora para outra o maior problema da atualidade: a
violência e o tráfico de drogas nos guetos das grandes cidades.
Não há dúvida, esse é UM DOS MAIORES DESAFIOS DA HUMANIDADE.
Como todos sabem, em praticamente todos os países do mundo, governantes
e autoridades da segurança pública continuam sem saber como enfrentar e
vencer o problema da criminalidade e do tráfico. Menos no Rio de
Janeiro. Aqui, houve uma espécie de “abracadabra”, um toque de varinha
de condão, e num passe de mágica, as favelas foram “pacificadas”, que
maravilha viver.
O mais interessante: não foi disparado UM ÚNICO E ESCASSO TIRO,
os traficantes e “donos” das favelas não lançaram uma só granada, um
solitário morteiro, não acionaram seus lanças-chamas, seus mísseis
portáteis, seus rifles AR-15 e M-16, suas submetralhadoras Uzi, nada,
nada.
No artigo-denúncia que publiquei no final de dezembro de 2009 e nos
outros que se seguiram em janeiro, chamei atenção para esse fato
espantoso: ninguém reparou que a tal “pacificação” foi fácil demais, não
houve uma só troca de tiros?
O pior foi a atitude do governador cabralzinho, que deve pensar (?)
que os demais cidadãos são todos imbecis e aceitam qualquer “explicação”
que lhes seja fornecida pelas autoridades. Recordemos que foi ele quem
teve a ousadia e a desfaçatez de vir a público e proclamar,
textualmente: “DEI PRAZO DE 48 HORAS PARA OS TRAFICANTES DEIXAREM O CANTAGALO-PAVÃO-PAVÃOZINHO”.
Como é que é? O governador esteve como os traficantes, “cara-a-cara”,
e fez o ultimato? Ou mandou recado por algum amigo comum? Como foi o
procedimento? Ninguém sabe.
O que se sabe é que o governador alardeava (e continua alardeando)
que, em todas as favelas onde a Polícia Militar instalou as UPPs, os
traficantes e criminosos simplesmente sumiram, assustados, amedrontados,
apavorados.
Seria tão bom se fosse verdade. Mas o que é a verdade para esse
governador enriquecido ilicitamente, cuja mansão à beira-mar em
Mangaratiba virou ponto de atração turística? Para ele, a verdade é a
versão que ele transmite, por mais fantasiosa que seja, como se fosse um
ridículo Pinóquio de carne e osso (aliás, muito mais carne do que osso,
já caminhando para a obesidade precoce), a inventar contos da
Carochinha para iludir os eleitores.
Quando escrevi a série de artigos desmascarando a “pacificação das
favelas”, houve tremenda repercussão (como ocorre com tudo que sai
publicado nesse Blog ou na Tribuna da Imprensa). Mas a maioria das
pessoas se recusava a acreditar. Não podiam aceitar que um governante
descesse a nível tão baixo, criasse tão estarrecedora mistificação,
tentasse manipular tão audaciosamente os eleitores.
Mas meus artigos plantaram a semente da dúvida. Nas redações, os
jornalistas começaram a questionar a veracidade do sucesso dessa
política de segurança pública. Até que, há dois ou três meses, O Globo
publicou uma página inteira em sua seção “Logo” (que é uma espécie de
“pensata”), ironizando a facilidade com que as favelas teriam sido
“pacificadas”. (Não me deram crédito nem royalties, é claro, mas fico
esperando o pré-sal).
Agora, no dia 2 de julho, mais uma vez O Globo, em reportagem de Vera
Araújo, comprova que meus artigos de denúncia estavam corretos. Sob o
título “FEIRÃO DE DROGAS DESAFIA UPP”), com fotos
impressionantes feitas em maio na Cidade de Deus, a matéria mostra que o
tráfico de drogas está e sempre esteve liberado, exatamente como
afirmei.
Ao que parece, a repórter nem chegou a ir à Cidade de Deus. As fotos
na “favela pacificada” foram feitas por um morador do local, que as
enviou ao jornal. Foi facílimo fazer a matéria, as imagens dizem tudo.
No dia, seguinte, mais um repique em O Globo, mostrando que, assim
com o tráfico de drogas, também a exploração de caça-níqueis está
liberada na comunidade “tomada” pela PM. As fotos, novamente, são de um
morador da favela, que o jornal, obviamente, não identifica.
***
PS – Isso não está acontecendo somente na Cidade de Deus. Em todas as favelas pacificadas, ocorre o mesmo.
PS2 – Aproxima-se a eleição e, na campanha, o governador vai
massacrar a opinião pública com a divulgação do êxito da “pacificação
das favelas”. Este é ponto mais forte de sua “plataforma” eleitoral, ao
lado das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
PS3 – Aliás, UPPs e UPAs, tudo a ver. As UPAs também são um golpe de
marqueting político-eleitoral, conforme iremos demonstrar neste Blog.
PS4 – O desgoverno de cabralzinho é um tema longo, do tipo “E o vento
levou”. E seria bom, perdão, seria ótimo, se o vento o levasse
permanentemente para longe de nós.