Sábado, 4 de fevereiro de 2012
Do Blog de Chico Sant'AnnaONOFRE AFIRMOU QUE A PMDF TEM DOIS MIL POLICIAIS ATUANDO COMO ARAPONGAS. CERCA DE MIL VIATURAS ESTARIAM CIRCULANDO DISFARÇADAS NAS RUAS DA CIDADE
Por Chico Sant’Anna, publicado originalmente na Brasília 247
A semana que passou foi marcada pelo retorno da vida política às
manchetes de jornais. Não, não me refiro à retomada dos trabalhos
legislativos, no dia 2. Refiro-me à queda de mais um ministro do governo
Dilma, a veiculação nas redes sociais de mais um vídeo comprometedor e a
exoneração do chefe da Polícia Civil do Distrito Federal, Onofre
Moraes.
Na gravação de responsabilidade do jornalista Edson Sombra, o delegado afirma que o vice-governador do Distrito Federal, Tadeu Filippelli, PMDB-DF, herdou as transações fraudulentas que supriram a Caixa de Pandora, de José Roberto Arruda, e que a mesma seria operada por deputado Paulo Tadeu, secretário de Governo da administração Agnelo.
Estas duas afirmações já deveriam render automaticamente duas investigações: a primeira, para apurar se as afirmações de Onofre Moraes são verdadeiras e, em caso positivo, abrir inquérito contra os dois homens fortes do governo do Distrito Federal. A segunda seria contra o próprio Onofre, que como Delegado de Polícia, à época da gravação, responsável pela Delegacia do Cruzeiro, não tomou nenhuma iniciativa ao saber dos vínculos da dupla de Tadeus. Não sou jurista, mas creio que se trataria de prevaricação. Como servidor público, o delegado deixou de cumprir sua missão.
Na gravação, Onofre Moraes faz uma revelação que me pareceu ainda mais estarrecedor, mais até do que as denúncias contra a cúpula do GDF. O chefe da Policia Civil afirma que a Polícia Militar do Distrito Federal tem dois mil homens lotados na P.2. Quem não estar acostumado ao linguajar policial, talvez não saiba que P.2 é a divisão de arapongas da Polícia Militar. Tomando-se por base o contingente de eleitores brasilenses de 2010, temos cerca de 1,3 milhão de cidadãos maiores de 16 anos na Capital Federal. Considerando que a Polícia Militar não deve investigar crianças e que conta com dois mil arapongas, isso significa dizer que temos um araponga da PM vigiando cada grupo de 650 habitantes. É uma concentração demográfica bem maior do que o volume de PMS normais que fazem o policiamento ostensivo. Estes arapongas são policiais que, no lugar de estarem patrulhando as ruas da cidade – que ano após ano apresenta índices alarmantes de violência, como seqüestros relâmpagos -, ficam à paisana xeretando á vida sabe-se lá de quem.
E estamos falando apenas em arapongas da PM. O cidadão ainda pode ter sua vida bisbilhotada por policiais civis, federais, fiscais das receitas federal e distrital, do INSS, da ABIN, dos serviços de inteligência das forças armadas.
Você leitor pode achar que estou exagerando, mais Onofre forneceu um segundo dado que ajuda a reforçar sua versão. Segundo ele, circulariam pelas ruas da capital cerca de mil viaturas policiais descaracterizadas. Algumas delas, recém compradas para reforçar o policiamento tradicional, nem teriam chega a serem usadas para o propósito inicial.
Um veículo descaracterizado é aquele que não exibe as identificações oficiais da força policial a que pertence e, em alguns casos, chegam a usar placas frias. Considerando-se duas pessoas por veículo, as estimativas dos dois mil arapongas da PM se encaixam direitinho no quantitativo de carros descaracterizados.
Creio que nem nos tempos duros da Ditadura Militar, quando atuavam o Serviço Nacional de Informação- SNI, e os seus congêneres da Marinha, Aeronáutica e Exército, Brasília teve tanto arapongas espionando a vida alheia.
E será que todas estas espionagens são do conhecimento do Ministério Público e da Justiça? Será que elas são legais? Tem autorizações. À polícia militar não cabe o policiamento ostensivo e à Civil a investigação? O que estas arapongagens estão focando? O marginal comum? O cidadão contribuinte da cidade? Políticos e empresários da Capital? As gravações em vídeo que a toda hora aparecem na internet são produtos destes arapongas? Onde estão os relatórios de tanta investigação? As perguntas são muitas e, infelizmente, não tenho resposta para nenhuma delas. A única coisa certa é que Brasília, se as informações de Onofre Moraes forem verdadeiras, parece ter se tornado num grande Big Brother Policial. Só que no lugar de Pedro Bial, quem comanda a bisbilhotagem é a P.2 da Polícia Militar do DF.