Segunda, 9 de abril de 2012
Por Ivan de Carvalho
Luís Eduardo era o que de principal o partido estava preparando para
o futuro. Aos 43 anos, já havia sido deputado estadual e presidente da
Assembléia Legislativa da Bahia, deputado federal, líder do PFL na
Câmara dos Deputados, presidente desta Casa do Congresso Nacional e
quando morreu era líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara e
candidato já anunciado do PFL e aliados ao governo da Bahia. Sua
eleição, ressalvado acidente de percurso da ordem do que ocorreu (outros
menores não mudariam o destino), era certa.
Quase certa era também sua candidatura a presidente da República
após cumprir o mandato (o projeto é de que fosse apenas um). Com mais de
quatro anos de antecedência, Luís Eduardo vencia certas implicâncias do
pai, Antonio Carlos Magalhães, e lançava cabeças de ponte no então
maior partido do país, o PMDB, enquanto se relacionava bem com todo o
espectro de forças políticas do país. Prova disso é que contou com os
votos de todos a decisão do Congresso que deu seu nome ao Aeroporto
Internacional de Salvador, então chamado de 2 de Julho, depois de haver
dele sido apagado o nome de Aeródromo e de Aeroporto de Santo Amaro do
Ipitanga, vulgo Aeroporto do Ipitanga. Não creio que o santo haja se
irritado. Afinal, é santo.
Mas a partir da morte de Luís Eduardo o PFL, depois DEM, somente
sofreu revezes. ACM cometeu uma indiscrição voltada contra o presidente
FHC em uma visita ao Ministério Público Federal, em Brasília, visita
aconselhada por seu assessor Fernando César Mesquita, herdado de Sarney.
Foi um desastre, um procurador petista gravou a conversa, isso valeu o
rompimento de FHC com ACM. Veio o aflitivo caso da violação do segredo do painel de
votação do Senado, atingindo o senador tucano José Roberto Arruda,
líder do governo na Câmara Alta e o senador ACM, presidente do Senado.
ACM renunciou ao mandato de senador – assim como Arruda –, mas o
reconquistaria nas urnas em seguida.
Em 2006, o bastião baiano do PFL caiu, com a eleição do petista
Jaques Wagner para governador. E neste mesmo ano, que inferno, o
ex-tucano José Roberto Arruda elegeu-se governador do Distrito Federal
pelo DEM, que não devia tê-lo aceito. Foi o único governador eleito pelo
DEM em 2006, mas, sendo quem era, fez malfeito, foi denunciado, expulso
do partido, preso, perdeu o mandato, cobriu a legenda de vergonha.
Então, em 2010, o DEM elegeu dois governadores, do Rio Grande do Norte e
de Santa Catarina. O de Santa Catarina, Raimundo Colombo, saltou para o
PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que obviamente também
abandonou o DEM, junto com o vice-governador paulista Afif Domingos.
Ah, mas nem tudo parecia perdido. ACM Neto vai se saindo bem na
Câmara dos Deputados e, no Senado, Demóstenes Torres encarna a alma da
extinta e gloriosa UDN. Competente, preparado, faz uma oposição eficaz.
Engana a todos – seu próprio partido, os colegas em geral, os outros
partidos. Cresce e já despontava, nas especulações, como uma alternativa
do DEM para as eleições presidenciais de 2014.
Foi aí que escorregou na cachoeira. Em ano de eleições, como
planejado pela Polícia Federal. E sob escutas de exceção, como já ameaça
se tornar regra.
Pobre DEM. Virou a Geni da República. E não se diga que é pior que os outros. Não é.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano