Segunda, 23 de abril de 2012
Por
Ivan de Carvalho

Infelizmente para o DEM, o evento
ocorre pouco depois de o senador Demóstenes Torres – figura mais combativa e
competente do partido e até mesmo do conjunto das oposições no Senado,
especialmente quando em causa a cobrança de obediência a princípios éticos por
parte do governo – haver sido objeto de fortes denúncias de que fazia o que
condenava no adversário.
Isso evidentemente
prejudica o DEM e tem algum reflexo no evento de hoje em Salvador. Mas cabe
aqui uma consideração: o Democratas, já em dois casos de grande repercussão
nacional, adotou providências imediatas e duras contra seus integrantes
envolvidos em “malfeitos” – palavra com a qual a presidente Dilma Rousseff
prefere qualificar os atos de corrupção, quando ocorrem em seu governo.
Assim foi que ficamos
cientes, os cidadãos deste país, que “malfeitos” são um eufemismo para atos de
corrupção, quando antes o termo tinha sentido muito mais amplo, pois tanto
poderia ser ato de corrupção como uma cadeira desconfortável (e não estou falando
das elétricas, às quais me oponho) ou como um bolo que desandou. Atos de
corrupção passaram a ser “malfeitos” assim com mensalão passou a ser Caixa Dois
de campanha eleitoral. Mas, vida que segue.
Repondo o foco no DEM. Não
devia – e afirmei isto neste espaço há poucos dias – ter aceito em seus quadros
o já testado no PSDB e reprovado José Roberto Arruda. Mas aceitou e o gajo foi
eleito governador do Distrito Federal. Aí, envolveu-se em “malfeitos”. Denunciado,
provada a denúncia, o DEM, sob ameaça de expulsão sumária e imediata, forçou
sua desfiliação do partido, em dezembro de 2009, e, evidentemente, se ele já
não tinha condições políticas de ser candidato à reeleição, passou também a não
ter condições de ser candidato a qualquer coisa nas eleições de 2010.
Agora, ao ver envolvido o
senador Demóstenes Torres na Operação Monte Carlo que apanhou o empresário e
bicheiro Carlinhos Cachoeira, o DEM se aprestou a expulsá-lo da legenda, o que
funcionou como uma ordem para que se desligasse dela “voluntariamente”. Foi o
que fez o senador, que agora enfrentará o Conselho de Ética do Senado e o
Judiciário.
Nos dois rumorosos
episódios, o DEM não vacilou em cortar na própria carne e isto seria o normal e
a rotina em muitos outros países. Mas não neste, onde um ex-presidente
compromete-se com um graduadíssimo ex-auxiliar a “desmontar a farsa do
Mensalão”. Quando no cargo, reconhecera os malfeitos. E defendeu-se alegando
que não sabia de nada (apesar de ter sido avisado por Marconi Perillo e, depois,
Roberto Jefferson). Em um país assim, a implacável autodefesa do DEM é digna de
reconhecimento e elogio, pois bem superior ao cinismo que outros partidos (não
é somente um) adotam. Pelo menos o DEM pode dizer: “Se o lixo é descoberto, nós
o queimamos”. Melhor que encharcar o lixo de desodorante.
Bem, a partir de hoje, a
candidatura a prefeito de Salvador do líder do DEM na Câmara federal, ACM Neto,
fica partidariamente assentada. Não por um ato solene, para não impor-lhe o
selo de oficial ainda. Há a intenção de manter, até a convenção, o discurso da
articulação visando coalizão e, inclusive, unidade. Mas a “pré-candidatura”
ganha status de partidária e prioridade nacional do DEM.
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Este artigo foi publicado na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.