quarta, 14 de novembro de 2012
Por Luciana
Genro
Junto com Heloísa
Helena, Babá e João Fontes, fui expulsa do PT por votar contra a Reforma da
Previdência – a mesma que foi objeto da compra de votos através do
mensalão. Quem comandou a nossa expulsão foi José Dirceu e quem
executou foi Delúbio Soares, com a anuência de José Genoíno. Conheço
muito de perto todo este episódio da história brasileira. Condenados por
corrupção ativa e formação de quadrilha, agora querem se passar por vítimas,
como se fossem perseguidos políticos ou condenados sem provas. Nada mais falso.
Estão sendo condenados por crimes de corrupção, por “comprar” parlamentares da
direita, por desviar verba publica e uma série de condutas que tem como maior
vítima o povo brasileiro.
O voto do Min. Joaquim
Barbosa cumpriu importante papel para sepultar falácias, na medida em que nada
constrange mais do que a apresentação dos fatos concretos que provam que toda a
articulação era promovida pelo então Ministro Chefe da Casa Civil. Ou alguém
duvida que José Dirceu tinha o completo “domínio dos fatos”? Se o Supremo não
fosse composto por uma maioria de Ministros nomeada por Lula e Dilma a
suspeita de um perseguição política até poderia ser legítima. Mas não é o caso.
8 dos 11 Ministros que iniciaram o julgamento foram indicados por eles. Seria
então um complô dos Ministros do STF, nomeados pelo PT contra o próprio
PT, que instigados pela mídia anti-petista julgam e condenam sem provas pessoas
inocentes? Alegação risível e patética que só serve para o PT tentar justificar
o fato de que estes dirigentes condenados seguem filiados, e no caso de José
Dirceu, ainda com considerável poder político no partido.
O falso discurso de
defesa das garantias constitucionais também não cabe aqui. Nenhum dos réus do
mensalão está desprotegido como os pobres que caem todos os dias nas garras do
sistema jurídico-penal. O julgamento destes, em geral condenados e
encarcerados em prisões imundas, não é notícia, exceto quando um juiz
rebelde resolve soltá-los. Aos réus do mensalão não falta dinheiro – quiçá
ainda do Valerioduto – e ótimos advogados.
Sim, é verdade que o
mensalão começou com o PSDB, que FHC comprou votos para a sua reeleição,que
eles não foram sequer julgados e que a mídia pouco fala destes casos. (Mídia,
aliás, que os dirigentes petistas criticam agora, mas que estando no poder há
mais de 10 anos nada fizeram para democratizá-la.) Acontece que a
impunidade de uns não justifica a impunidade de outros. É preciso que
este sistema político podre seja julgado e condenado. Para isso, seus
beneficiários – sejam os operadores práticos, sejam os mentores – terão que ir
ao banco dos réus. José Dirceu não é o único que merece estar lá. Mas que ele
merece, não tenho dúvidas.
É claro que a condenação
de José Dirceu não significa que agora a impunidade de corruptos e corruptores
vai acabar. Ao contrário. Condena-se um, mas o balcão de negócios da
política FHC-Lula-Dilma continua o mesmo. Ele é fundamental para o
gerenciamento dos negócios capitalistas. Por isso, aos que não aceitam fazer
coro com a direita mas que também não querem conviver com a corrupção como
um método aceitável para governar – consequência da escolha feita pelo PT que
sucumbiu ao regime – resta construir uma alternativa política. O PT
fez história, mas sua veia de esquerda tenta alimentar-se de um passado que
não mais voltará. É hora de olhar para frente e construir o futuro.
Luciana Genro, é
advogada, ex-deputada federal do PSOL.
Fonte: http://www.sul21.com.br/
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