Sábado, 20 de abril de 2013
Por Ivan de Carvalho

De todos os
desfechos possíveis, o menos ruim – melhor dizer, o menos nocivo – seria que o
ato terrorista, composto por duas explosões de material posto em panelas de
pressão, houvesse sido cometido por um americano comum que de alguma forma
houvesse perdido o juízo.
Mas o
noticiário não está apontando esse rumo. Surgiram dois suspeitos, irmãos, um
dos quais foi baleado e morreu, segundo informações, já em um hospital. O outro
estava foragido até o início da noite de ontem e uma grande caçada foi montada
em amplas áreas da cidade americana contra ele.
A dupla teria se envolvido em
alguns incidentes violentos de natureza criminosa posteriores à maratona e isto
desencadeou uma perseguição policial. Durante esta perseguição e tendo ferido o
irmão mais velho enquanto o outro conseguia escapar, a polícia os declarou
suspeitos do atentado de segunda-feira.
E aí é que o caso adquiriu cores
ainda mais sombrias do que as que teria caso se tratasse de algum americano
“surtado”, para usar uma palavra da moda. Um dos dois, o mais velho, é
originário da Federação Russa, da província do Daguestão, vizinha da
conturbada, dominada, rebelde e aflita República da Tchetchênia. O mais moço é
do Quirguistão, ex-república soviética. O irmão mais velho, Tamerlan Tsarnaev,
tinha o Green Card, que dá direito permanente de morar nos EUA, o outro,
Dzhokhar, de 19 anos, chegara bem antes, em 2002 obteve depois a cidadania
americana.
Estava aí o primeiro elemento
complicador. Um não era americano e chegara ao país há quatro anos, o outro é
americano, mas naturalizado. Para complicar, eles mantinham uma página em um
site de relacionamento russo e davam como seus idiomas o russo, o inglês e o
tchetcheno. Defendiam o separatismo tchetcheno (que produziu atentados
terroristas na Rússia e sofreu por parte desta um esmagamento militar
implacável). A página dos irmãos na Internet, segundo as notícias, alinhava-se
ao radicalismo islâmico.
Não precisava mais nada. Assim
mesmo, ainda tem. Dzhokhar Tsarnaev tornou-se cidadão americano em 11 de
setembro do ano passado. Também em 11 de setembro, mas de 2001, aconteceram os
ataques contra o World Trade Center e o Pentágono. Mera coincidência, claro.
Aliás, as coincidências em torno dessa data de 11 de setembro (o famoso 9/11)
chegam a ser abusivas, de tão fartas, segundo demonstraram pesquisadores do
assunto. Você pode verificar isso na Internet, usando um site de busca.
Frequentam até o que se denominou “o livro secreto de Nostradamus”, obra de
gravuras atribuída ao grande vidente francês.
Depois do 11 de setembro de 2001,
os Estados Unidos já não sãos os mesmos. As alegações ou necessidades de
segurança têm levado a sociedade americana a abrir mão de direitos que tinha
como intocáveis. E existe agora o Patriot Act, que entre muitas coisas permite
ao presidente decretar a lei marcial sem autorização do Congresso. A liberdade
nos EUA já não é a mesma de antes no dia a dia, pequenos embaraços se
multiplicam, e as ameaças em potencial à liberdade são gigantescas.
Coisas estranhas acontecem, a
exemplo da construção de 800 “centros” ou abrigos, que em tudo podem ser
chamados de “campos de concentração”, com capacidade para 50 mil pessoas cada
um, junto aos quais se empilham milhares de caixões de defunto, de material
plástico e com capacidade para três corpos adultos cada um.
Os atentados na maratona de Boston
(cidade que chegou a ser paralisada pelas autoridades para a espetacular caçada
policial) levaram aos americanos um reforço ao choque de 2001. E talvez também
um reforço à disposição deles de continuar renunciando, em fatias, à sua
liberdade.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.