Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Doroteo Arango (Pancho Villa), de bandido a revolucionário

Segunda, 15 de abril de 2013

Por Vicente Vecci
A revolução mexicana que derrubou a ditadura de Porfírio Dias na década de 1910  teve como comandante um dos generais que se destacou pela sua arte bélica que o levou ao trono do México  juntamente  com  Emiliano Zapata, Urbina e outros. Trata-se  de um civil de origem humilde que começou sua carreira como bandido, assaltando comboio das minas  de prata. Batizado de José Doroteo Arango, era um peão numa fazenda de  um nobre fidalgo mexicano aonde morava com seus pais e irmãos. Nessa época existia uma lei imposta pela ditadura conhecida como a “ primeira noite”. Quando havia casamento  entre os agregados,  a lua de mel da noiva era privilégio  do  fidalgo da fazenda,  depois para o noivo.  Doroteo Arango não  aceitava tal imposição e teve sua irmã  desonrada pelo filho de seu patrão e por isso  assassinou-o. Perseguido pelos federais, soldados do governo mexicano, foi preso  e conseguiu fugir indo para as montanhas e lá soube que bem antes existia um  bandido conhecido como Pancho Villa que estava desaparecido. Adotou  esse nome para permanecer no anonimato. Organizou um bando e começou a  praticar assaltos a bancos, roubando gados e comboio das minas de prata da região de Chihuahua e Durango, ambas localizadas no norte do México, distribuindo parte  desses roubos à pobreza.  Ficou bastante popular e conseguiu mais comparsas e armamentos pesados.

Estourou  a revolução encabeçada por Francisco Madero e outros generais que recrutou as mais diversas forças de oposição à ditadura de Porfírio Diaz, um regime opressor e autocrático  prolongado por décadas e que já se  encontrava em agonia. Entre os arrebanhados estava o bando de Pancho Villa  que se destacou na arte bélica sem nunca ter passado por uma academia militar. O governo mexicano  para combater as forças insurgentes, contratou militares estrategistas alemães para  auxiliar na luta contra os revolucionários. De nada adiantou e Villa  levava vantagens nas batalhas, chegando a ser promovido general da revolução mexicana. Lutavam por ideologia e quando se luta por esse princípio não existe aparato militar inimigo por mais   tecnologicamente  moderno que seja, possa derrotar as forças de resistência  combatentes.  Os levantes populares contra governos mencionados na história  provam esse fato. Isso aconteceu na revolução francesa e no final do século passado em Cuba e  no Vietnã, onde todo o planejamento  de guerrilha  do vietcongue contra a ocupação das tropas norte-americanas estava concentrado em Saigon, capital do Vietnã do Sul (capitalista) que lutava contra o Vietnã do Norte, comunista.

Historicamente  em toda revolução surge a contra-revolução muitas vezes causados por facções que antes estavam alinhadas e depois se desentenderam com  os  novos ocupantes de governos. No México foi também assim, prorrogando  o processo revolucionário de 1910 a 1917, dividindo em três turnos. Madero no comando derrubou o ditador Porfírio Diaz mas 2 anos depois foi deposto pelo então seu aliado general Victoriano Huerta, posteriormente expulso do poder por Venustiano Carranza que teve também apoio de Pancho Vila, comandando uma tropa de  cavalaria com mais  de 40 mil homens, decisiva  nessa luta. Para financiar  sua  campanha, Villa vendeu os direitos de filmagens de suas batalhas para um estúdio de Hollywood que teve uma nova versão em 2003, estrelada pelo ator Antônio Bandeiras, intitulada E Estrelando Pancho Villa. O filme documentário feito no início  do século passado  que registrou essas batalhas, encontra-se  no museu da cidade do México.

*Vicente Vecci é editor do Jornal do Sindico.

Legenda e crédito da foto de Pancho Vila, 1878-1923, no comando de uma tropa de cavalaria de mais de 40 mil homens. (Culver Pictures)