Sábado, 6 de abril de 2013
Da Agência Senado
O
senador Cristovam Buarque (PDT-DF) criticou em Plenário, nesta
sexta-feira (5), o tom de comemoração nos anúncios oficiais de aumento
de beneficiários do programa Bolsa-Família. A seu ver, o que mereceria
ser celebrado é exatamente o contrário: a redução do número de pessoas
que precisam de bolsas para sobreviver, graças a uma formação
educacional que lhes permita evoluir com autonomia.
A
avaliação foi feita durante discurso em que ele analisou o golpe
militar de 1964, abordando as reformas de base que estavam sendo
debatidas à época e que foram abortadas pelo novo regime. Em sua
opinião, muita coisa também deixou de ser feita desde então, sendo o
mais importante uma reforma educacional que garanta aos filhos dos
pobres uma escola pública com a mesma qualidade apresentada naquelas
onde estão os filhos da elite nacional.
- Continuamos
tendo que aumentar o número de pessoas que, para sobreviver, recebem a
aposentadoria rural ou o Bolsa-Família, apenas porque não fizemos a
verdadeira reforma educacional, aquela que assegura escola igual para
todos os brasileiros – defendeu.
O
senador assinalou que insiste no assunto, embora isso possa parecer
repetitivo, por entender como “imoral” a desigualdade educacional.
Lembrou que por muito tempo o país também aceitou como “natural” a
escravidão, até que veio a Lei Áurea. Aproveitou para destacar como um
recente avanço a aprovação da chamada PEC das Domésticas, que estendeu à
categoria todos os direitos trabalhistas.
-
Mas não houve a abolição total das necessidades de nossas trabalhadoras
domésticas: a verdadeira será quando o filho da empregada doméstica
estudar na mesma escola do filho da patroa, ou, se quiserem, uma escola
com a mesma qualidade oferecida para o filho da patroa – assinalou.
"Monstrópolis"
Com
relação ao golpe de 64, o senador observou que foi estimulado por três
principais fatores, um deles o clima de radicalismo ideológico da Guerra
Fria. A seu ver, havia ainda o temor pelo “fim da democracia”, com a
maioria dos líderes militares achando que deveria impedir a marcha do
governo para um regime totalitário igual ao da União Soviética. Por
último, apontou o “egoísmo da elite”, com sua recusa a aceitar as
reformas de base, entre as quais a reforma agrária.
-
Em minha concepção, essa foi a mais forte causa, e que nos fez pagar,
por 21 anos, um alto preço, o preço do exilado, do torturado, das
prisões, que foi um preço imenso do ponto de vista individual.
Ainda
conforme o senador, depois da liberdade, a segunda grande perda com o
golpe de 1964 foi exatamente a interrupção das reformas. No caso da
reforma agrária, avaliou, se tivesse sido feito à época as capitais não
teriam se transformado em “monstrópolis”, pressionadas pelo deslocamento
do campo de pessoas em busca de empregos que terra não oferecia.
Fonte: Agência Senado