Segunda, 30 de junho de 2014
Alex Rodrigues – Repórter Agência Brasil
Integrantes
 do Movimento Passe Livre (MPL) fizeram hoje (30) mais um ato em defesa 
da passagem de ônibus grátis. Cerca de 30 integrantes e apoiadores do 
movimento se reuniram na Rodoviária do Plano Piloto, no centro da 
capital federal e a poucos quilômetros do Estádio Mané Garrincha, onde 
apresentaram aos usuários do transporte público que passavam pelo local 
suas propostas de como viabilizar a chamada tarifa zero.
Para o 
MPL, o transporte deve ser tratado como um direito de todo cidadão e 
deve ser gratuito, como já ocorre nos sistemas públicos de saúde e de 
educação. Presente em todas as capitais e nas principais cidades do país
 e responsável pelas primeiras manifestações de junho do ano passado, o 
movimento considera obrigação do Estado prestar o serviço de transporte,
 efetivando o livre direito de ir e vir de todos.
"O Estado tem 
dinheiro suficiente para isso, para dar um transporte público de 
qualidade a todos os usuários. Manter a cobrança da passagem é limitar o
 direito de ir e vir das pessoas", disse o estudante da Universidade de 
Brasília (UnB) Cristiano Henrique. Embora não faça parte do MPL, 
Cristiano apoia a causa.
Durante o que classificaram de aula 
aberta à participação popular, alguns dos militantes usaram a 
aparelhagem de som montada sem autorização prévia da administração da 
rodoviária para demonstrar aos interessados que a proposta de um sistema
 de transporte público gratuito e de qualidade é possível. Lembrando que
 diversos governos já subsidiam as empresas de ônibus, arcando com parte
 dos custos operacionais, um dos integrantes do grupo ironizou a 
situação, apontando para uma fila de ônibus disponibilizados pelo 
governo do Distrito Federal para transportar, de graça, torcedores que 
se dirigiam ao estádio onde França e Nigéria jogam, neste momento, 
partida válida pelas oitavas de final da Copa do Mundo.
A 
proposta do MPL é que o Poder Público assuma a prestação do serviço, que
 passaria a ser fornecido por empresas públicas, que assumiriam a 
responsabilidade pelos trabalhadores rodoviários e seriam financiadas 
por um fundo de transporte ao qual seriam destinados recursos locais, 
federais e, no caso do Distrito Federal, interestaduais. As empresas 
públicas, por sua vez, ficariam subordinadas a conselhos paritários 
compostos por usuários, rodoviários e representantes do governo. Esses 
últimos, no entanto, não teriam poder de voto nas decisões. Se 
necessário, os governos teriam de criar taxas ou aumentar as já cobradas
 de grandes empresas e dos contribuintes mais ricos para complementar o 
fundo, diz o movimento.
"A tarifa zero é possível. O que o 
movimento quer discutir é como implementá-la. Temos uma concepção de 
como fazer isso. O governo [do Distrito Federal] tem outra; empresários 
têm outras e outros setores da sociedade civil têm, cada qual, a sua", 
reforçou Paulo Henrique Duques, o Paique. Ele explicou que, em atos como
 o de hoje, o movimento apresenta sua proposta, "que é, sim, classista e
 anticapitalista, pois está vinculada [aos interesses] dos trabalhadores
 e usuários".
Para Paíque, a adoção da tarifa zero exige apenas 
vontade política dos governos e que a população assuma a questão como 
seu direito."A adoção da tarifa zero implica uma disputa política. Até a
 implementação do SUS [Sistema Único de Saúde], não tínhamos experiência
 em um sistema de saúde pública, mas ele foi implementado e, apesar de 
problemas de gestão, deu certo", acrescentou. 
O
 ato do MPL atraiu a atenção de várias pessoas que passavam pela 
rodoviária ou que esperavam por seus ônibus. Curiosa com a proposta, a 
bacharel em direito Renata Clara observava o ato com atenção. Moradora 
do Paranoá, ela defendeu mudanças no transporte público da capital. 
"Melhorou um pouco, mas ainda precisa melhorar muito mais. Os preços das
 passagens são muito altos, e a qualidade do serviço não corresponde ao 
que gastamos. Mas acho impossível uma tarifa gratuita, pois há muita 
gente para usar o serviço e, se fosse grátis, também seria uma porcaria,
 a exemplo do que acontece na saúde", afirmou.
Já a empregada 
doméstica Benedita Cunha de Almeida ficou empolgada com a proposta da 
gratuidade. "Acho sim que é uma ideia possível. As coisas mudam, e o 
governo podia mesmo oferecer ônibus de graça, como já acontece em 
algumas cidades. Hoje, para um trabalhador, os preços são um absurdo e a
 qualidade é péssima", disse Benedita, que mora na região administrativa
 de Samambaia.O aposentado Pedro Neto, também comentou o peso 
do gasto com transporte no bolso das famílias de menor poder aquisitivo.
 "Quem ganha salário mínimo sofre muito com o transporte. Enquanto isso,
 o povo continua esperando o serviço melhorar. Não acredito que seja 
fácil um governo adotar uma ideia como essa, mas, no futuro, quem sabe?"
 
 
 
