Domingo, 22 de junho de 2014
Galeano
[Eduardo Galeano] diz que na América Latina, a liberdade de expressão consiste no
direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação.
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Mascarados são a pedra no sapato da elite brasileira
As "denúncias" das ruas continuam as mesmas, as
manifestações arrefeceram, sim, não devido a um desgaste ou volta ao
"estado inicial" anterior às manifestações. Não. A capacidade repressiva
do estado contra seus cidadãos é algo muito eficaz nos componentes
deste arrefecimento.
Somem-se a isto a cobertura extremamente
questionada e questionável de parte da mídia em relação a determinadas
situações em que excessos cometidos pelas forças de segurança empregadas
no acompanhamento das passeata, provocações, enfim, atitudes
reprováveis e compartilhada por centenas e centenas de pessoas, como o
episódio da perseguição até a Glória de manifestantes, deixando um
rastro de violência contra pessoas que estavam nas ruas, pontos de
ônibus e bares, foram minimizadas, e a indignação da população
criminalizada todo o tempo.
Galeano
diz que na, América Latina, a liberdade de expressão consiste no
direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação. E
é isso que está sendo subvertido, e é justamente isso que atemoriza,
causa espécie, mal-estar.
A mídia alternativa que cresce ao status
de oficial para aqueles que acompanhavam full time, on line, todas as
manifestações espalhadas pelo país, entrevistas, concentrações,
arbitrariedades, fizeram a ordem estabelecida balançar na cadeira em
todas as esferas da sociedade.
As múltiplas pautas saíram do foco,
com a desculpa de que por serem muitas não atingiriam seu intento, por
serem muitas confundiriam os que as tentariam inserir na agenda
política. Sem contar a promoção dos black blocs a maior mal do imberbe
século XXI, o que juntamente com as máscaras do personagem principal do
filme V, se tornaram a principal pauta dos maiores veículos de mídia do
país.
As questões mais urgentes foram trocadas por ininterruptas
discussões sobre os "mascarados", leis para contê-los, impedir seus
usos, porque manifestante que é manifestante vai de cara limpa. Criando
até um tipo ideal de manifestante. Sem contar a possibilidade de criação
de um manifestódromo. Pois é!
Para os que ainda não conhecem,
acho que vale a pena dizer ou melhor escrever, que V, tenta se vingar em
uma sociedade totalitária, daqueles que o desfiguraram e é perseguido
por um detetive que tenta impedi-lo a todo custo de iniciar uma
revolução.
Acho que por isso a máscara ou os mascarados são a
pedra no sapato da elite brasileira, porque diz a ela que aquilo que
fizeram não ficará impune, ainda que tentem e envidem todos os esforços
para deter o inevitável. Por tanto tempo fomos dilacerados, marcados,
torturados e expostos aos maiores descalabros em relação aos direitos
sociais.
Temos um número assustador de mortes de indivíduos que
compõem a população que forma o maior contingente da nação, os negros e
negras e pessoas não brancas, onde os jovens negros são as maiores
vítimas desta tragédia.
Temos uma saúde débil, uma educação em
colapso, professores tratados de forma aviltante, uma segurança que
protege a propriedade e viola o humano, uma sociedade que ainda tem na
sua essência sanha senhorial e escravagista de sempre, uma sociedade que
tolera a pena de morte velada imposta aos mais pobres e vulneráveis.
Uma
população carcerária que é a quarta do mundo, uma epidemia de crack,
uma população de sem-teto e em situação de rua que só faz crescer, uma
demanda por saneamento, terra, sem contar na situação da população
indígena.
E acho que ainda teremos muitas ruas a percorrer. Mas
podemos começar a fazer a mudança nas urnas. Por enquanto é lá que
podemos de fato gritar de forma a sermos realmente ouvidos(as).
"A
nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO
ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!"
*Representante da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.