Sexta, 27 de junho de 2014
Da PONTE Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos
Desde 1995, quando o governo de SP começou a divulgar estatísticas de criminalidade, 1.159 policiais militares também foram mortos
Policiais militares mataram 10.152 pessoas no estado de São Paulo nos
últimos 19 anos (julho de 1995 a abril 2014) – o equivalente à
população de uma cidade como a paulista São Luiz do Paraitinga,
interior do estado. Levantamento feito pela reportagem da Ponte indica
que, em média, 45 pessoas foram mortas por PMs a cada mês no Estado, num
cenário em que os policiais também são vítimas – cinco foram
assassinados por mês no período.
O mesmo levantamento mostra que a política de segurança pública
vigente nestas duas décadas não conseguiu baixar o número de civis
mortos por policiais, pelo contrário: se nos cinco primeiros anos a
média de mortes por 100 mil habitantes foi de 0,89, nos últimos cinco,
chegou a 1,17 – alta de 31,5%, considerando-se as mortes provocadas por
PMs ocorridas apenas durante o horário oficial de serviço.
Desde 1995 (quando a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo
passou a divulgar dados estatísticos sobre a violência no Estado), foram
registradas 8.277 mortes provocadas por PMs durante o trabalho de
policiamento e outros 1.875 casos fora do serviço oficial – a maior
parte em “bico” (serviço extra-corporação) de segurança particular ou em
situações como brigas de trânsito, de bar, entre vizinhos, crimes
passionais e etc.
Os dados são provenientes do Setor de Inteligência e da Corregedoria
da Polícia Militar, órgãos oficiais da PM. Paradoxalmente, esses dados
diferem das estatísticas trimestrais divulgadas pela Secretaria de
Segurança Pública. A diferença observada decorre do fato de os dados
divulgados trimestralmente pela secretaria omitirem as mortes cometidas
fora do expediente. Com essa imprecisão, a real dimensão sobre os óbitos
causados pelos integrantes do braço armado do Estado fica prejudicada,
assim como o aperfeiçoamento das técnicas policiais.
Nas informações oficiais divulgadas pela pasta em seu site, os
homicídios dolosos cometidos por PMs fora do trabalho acabam na vala
comum das estatísticas dos assassinatos cometidos por qualquer cidadão.
Como grande parte dessas mortes é cometida com armamento do Estado,
muitas vezes em decorrência de questões relacionadas ao “bico”, acaba
ignorado e fora do controle da sociedade.
Entre 2008 e 2012, a PM paulista matou 9,5 vezes mais do que todas as polícias dos Estados Unidos juntas durante o trabalho de policiamento.
Pelos dados trimestrais, assassinatos cometidos por PMs, como a série
de 12 mortes em quatro horas durante um fim de semana de janeiro deste
ano em Campinas (99 km de SP), ficaram de fora das estatísticas sobre a
letalidade policial.
As 12 mortes, segundo a Polícia Civil, foram cometidas por cinco PMs
fora do horário de trabalho que queriam vingar o assassinato de um
policial militar. Oficialmente de folga, ele tentara evitar o roubo de
um posto combustível e foi morto pelo ladrão.