Sexta, 18 de julho de 2014
Do Jornal do BrasilPaulo Fonsseca Sillva
A Justiça arbitrária
que mantém ativista na prisão pode estar ajudando a construir uma
futura líder nacional de proporções bem maiores do que se imagina.
A
ativista é apontada como líder e mentora das manifestações que desde o
ano passado atacam governos, corrupção e cobra melhor distribuição de
renda e cumprimento dos direitos sociais.
Sua prisão, sob a acusação de associação criminosa – antiga designação para formação de quadrilha -, é fortemente questionada.
Para
o desembargador Siro Darlan, que assinou pedidos habeas corpus para
ativistas detidos, não havia elementos para mantê-los presos. A decisão
cita ainda "constrangimento ilegal do direito de ir e vir (...) diante
da ilegalidade da prisão temporária".
Integrantes do PCdoB e Psol
também impetraram uma representação no Conselho Nacional de Justiça
contra o juiz que emitiu mandados de prisão e de busca e apreensão
contra ativistas. A representação argumenta que o ato foi de "completa
arbitrariedade e abuso de autoridade" e ainda que “tais prisões e
apreensões possuem um nítido caráter intimidatório, sem fundamento
fático ou legal que legitime a prisão, destinado a reprimir com o
Direito Criminal a liberdade de expressão cidadã”.
A
arbitrariedade da Justiça e o clamor em torno da libertação da guia dos
protestos sociais remetem o momento atual aos tempos da ditadura. E
nesta comparação, não é improvável traçar um paralelo entre as líderes
da resistência de hoje e de ontem.
No passado, tivemos uma líder
que combateu com unhas, dentes e armas a opressão, a injustiça, os
governos autoritários e os desmandos. Que enfrentava a ditadura de rosto
erguido, e que por isso sofreu a prisão e a tortura. Que foi vítima da
arbitrariedade da Justiça, e combateu as autoridades liderando protestos
e manifestações.
Estas coincidências trazem à tona a questão: as arbitrariedades de hoje farão com que "ela" se transforme "nela", amanhã?
