Quarta, 13 de agosto de 20014
Carolina Gonçalves - Repórter da
Agência Brasil
A ex-contadora do doleiro Alberto Youssef,
preso na operação Lava Jato, da Polícia Federal, Meire Bonfim da Silva Poza,
confirmou hoje (13) no Conselho de Ética da Câmara a existência de sociedade do
doleiro com o deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA), mas acrescentou que outros
parlamentares também receberam dinheiro do esquema. “O Alberto era um banco.
Ele pagava contas, dava dinheiro, dava presentes”, afirmou.
Segundo Meire Poza, Argôlo e Youssef tinham
uma relação de amizade e que os dois são sócios da empresa Malga Engenharia,
com sede em São Paulo. “Mas [o nome do parlamentar] não está no contrato
social. Nem o de Alberto”, explicou. De acordo com Meire, Argôlo era chamado de
“bebê Johnson” por Alberto Youssef. Meire ainda explicou que não era
funcionária do doleiro, mas trabalhou quase quatro anos, entre 2010 e 2014,
prestando serviços contábeis e de assessoria às empresas de Youssef.
Perguntada sobre as empresas do doleiro que
eram usadas para lavagem de dinheiro, a ex-contadora limitou-se a declarar: “A
única empresa [do doleiro] em que eu não vi nenhuma saída ilegal de dinheiro
foi a Marsans [empresa de viagem] e os hotéis”, afirmou. Ela foi convidada a
depor pelo relator do caso, deputado Marcos Rogério (PDT-RO).
A testemunha confirmou que Argôlo recebeu
dinheiro por mais de uma vez. “Inclusive da última vez em que eu o encontrei em
São Paulo, ele foi para buscar dinheiro. Ele ia embora no mesmo dia e não pôde
ir [daquela vez] porque o dinheiro não chegou.Como não recebeu na tarde em que
estava lá, sei que ele recebeu depois, mas não sei como foi entregue.
Normalmente, eram entregues em dinheiro, mas também tinham muitas TEDs
[Transferência Eletrônica Disponível]”, disse.
Meire explicou que algumas transações
bancárias para envio de dinheiro para o parlamentar foram feitas em nome de
pessoas ligadas ao deputado, mas nunca para a conta de Luiz Argôlo. Segundo
ela, Argôlo “vivia no escritório de Youssef” e ela mesma teria sido responsável
por repassar valores ao parlamentar.
Em depoimento à Polícia Federal, Meire já
havia relatado que os dois eram sócios e mantinham parceria em obras e
negócios. As declarações foram divulgadas pela revista Veja desta semana. O
Conselho de Ética investiga a relação do parlamentar com o doleiro, acusado de
chefiar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou quase R$ 10 bilhões.
Meire Poza afirmou que parte do dinheiro
era fruto de desvios de obras públicas e que Youssef ainda cobrava propina de
empresários que queriam fechar negócios com a Petrobras. Partidos de oposição
querem que a ex-contadora também deponha na CPMI da Petrobras.
Denúncias divulgadas pela revista Veja e
pelo jornal Folha de S.Paulo revelaram a troca de mensagens entre Argôlo e
Youssef tratando sobre uma transferência de R$ 120 mil para a conta do chefe de
gabinete do parlamentar, Vanilton Bezerra, e a doação de gado para Argôlo.
O parlamentar já apresentou a defesa
preliminar ao colegiado, mas ainda pode falar ao conselho depois que todas as
testemunhas indicadas por ele e pela relatoria do caso forem ouvidas. Douglas
Alberto Bento, funcionário da agência da Caixa Econômica Federal no Anexo 4 da
Câmara dos Deputados, também será ouvido hoje pelo colegiado para falar sobre a
transferência de valores para contas no banco. Bento é testemunha indicada pela
defesa de Argôlo.
O relator do processo, deputado Marcos
Rogério, quer apresentar o parecer na segunda semana de esforço concentrado do
Congresso, marcada para setembro. Em outro processo, o colegiado tenta concluir
as investigações sobre o envolvimento de André Vargas e Youssef. O relator
desse caso, deputado Júlio Delgado, já leu seu parecer, que também deve ser
votado no próximo mês.