Quinta, 28 de agosto de 2014
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Investigação da agência também foi exibida, em vídeo, durante audiência da Comissão Estadual da Verdade, em São Paulo
Durante uma audiência da
Assembleia Legislativa de São Paulo no último dia 25, os repórteres
Natalia Viana e Luciano Onça apresentaram os destroços de bombas
recolhidos no Vale do Ribeira durante a investigação sobre o cerco
militar que a ditadura impôs à região em abril e maio de 1970, em busca
de 9 guerrilheiros da organização Vanguarda Popular Revolucionária
(VPR). Leia aqui a reportagem completa.
Foi a primeira vez que fragmentos das bombas de Napalm atiradas pela
FAB foram recolhidos. Antes de mostrar os destroços, os jornalistas
exibiram um documentário de 20 minutos com relatos de moradores do
local.
Surpreendido
pela apresentação das bombas durante a Audiência Pública organizada
pela Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa, o promotor de
justiça Eduardo Ferreira Valério ligou imediatamente para o
Procurador-Geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa, que deu o aval
para que os destroços fossem recolhidos. “A primeira reação nossa é a
necessidade de tornar essa descoberta pública. Não sei ainda se o
material tem valor de prova de crime, mas com certeza tem um enorme
valor histórico”, disse.
À Agência Pública, ele explicou que o MP vai montar uma comissão de
trabalho para analisar o que é possível fazer com esse material e
definir uma estratégia para dar mais visibilidade ao achado. “Se for
possível, vamos avaliar que tipo de perícia pode ser feita, e por qual
órgão técnico”, disse, explicando que o Ministério Público não tem
laboratórios para realizar tal exame. Além de comprovar que os destroços
são de bombas atiradas na região no final de abril de 1970, a perícia
buscaria determinar se há vestígios de napalm – o que é difícil devido
ao tempo transcorrido, 44 anos. Com os resultados seria possível buscar
uma responsabilização criminal do Estado. “Claro que tem problemas,
temos que analisar a prescrição de pena, e a lei da anistia”, completou.
Eduardo Valério elogiou o trabalho de “investigação histórica e de
arqueologia contemporânea” realizado pela Agência Pública, e disse que
os destroços demonstram “o nível de truculência do estado contra a
população civil”. A Agência Pública também entregou ao MPE uma cópia
dos vídeos gravados durante dois meses de pesquisa na região no Vale do
Ribeira, que contém relatos de 12 testemunhas dos bombardeios e dos
abusos dos militares na época. “Havia relatos esparsos das vítimas
recolhidos pelas Comissões da Verdade, mas agora conseguimos reunir
evidências históricas, materiais, dessa situação”.
Durante a audiência, o sargento Darcy Rodrigues, ex-guerrilheiro da
VPR, denunciou as atrocidades cometidas durante o cerco. Gabriel
Siqueira, pesquisador da Comissão, relatou as grilagens de terra que se
seguiram à operação militar – entre elas, grilagens realizadas pelo
filho do então ministro da justiça Alfredo Buzaid. Moradores de
comunidades de pescadores e quilombolas também relataram as violências
sofridas e a disputa pela terra.