Quinta, 15
de janeiro de 2015
Posse da nova diretoria da AEPET [Associação dos Engenheiros da Petrobrás]
- A articulação de um
movimento de defesa da Petrobrás contra corruptos, entreguistas, corruptores e
privatistas de plantão, a ser lançado no próximo dia 4 de fevereiro no Clube de
Engenharia como “ensaio” para ato posterior no Congresso, deu a tônica da
cerimônia de posse [ontem, 14/1] da nova diretoria da AEPET para o triênio 2015/2017,
liderada pelo engenheiro do Cenpes Felipe Coutinho.
Ao transmitir o cargo, o ex-presidente Silvio Sinedino,
que é representante eleito dos funcionários no Conselho de Administração da
Petrobrás, trouxe mais um número extremamente preocupante: a política de
contenção do preço da gasolina imposta pelo governo sob o frágil argumento de
controle da inflação causou perdas de aproximadamente R$ 60 bilhões à
Companhia. Sinedino anunciou a aprovação, pelo CA, do novo diretor de
Governança, Risco e Conformidade, João Adalberto Elek Junior, e defendeu que o
mesmo processo de seleção seja aplicado a gerentes e demais diretores.
Já Fernando Siqueira, que permanecerá como vice-presidente
na nova diretoria, lembrou que a Noruega, antes o segundo país mais pobre da
Europa, em cerca de 40 anos se tornou o segundo lugar do mundo em renda per
capta e líder no ranking do desenvolvimento humano. O fundo soberano daquele
país acumula atualmente US$ 900 bilhões e a Noruega ainda detém um terço do
petróleo descoberto na década de 1970. “O Brasil, além de petróleo, tem outras
riquezas naturais em quantidade muito superior à da Noruega. É um dos países
mais viáveis do planeta, mas precisa se defender de interesses internacionais
que neste momento ambicionam o nosso pré-sal”.
Sobre a corrupção na Companhia, Siqueira destacou que nos
governos tucanos os gerentes foram cooptados mediante aumentos nas
remunerações, que os distanciaram dos demais funcionários e aumentaram o poder
de chantagem da direção. Ele vê um lado positivo no momento pelo qual passa a
Petrobrás, já que a total apuração das denúncias será algo benéfico no médio
prazo. “Temos chance de reduzir a corrupção. Além disso, os corruptores também
foram citados”, ponderou.
Para o vice-presidente da AEPET, é preciso nacionalizar
outra vez a direção da Petrobrás, já que, segundo ele, atualmente há 14
empresas norte-americanas com acesso ao banco de dados da Companhia. “A AEPET
vem denunciando sistematicamente fatos como este e outros, como a retenção dos
preços da gasolina, a elevada terceirização, a compra de Pasadena e os contratos
tipo EPC, que sistematizaram a atuação dos cartéis”, listou.
Leia também o discurso de posse do novo presidente, Felipe
Coutinho, clicando aqui
Discurso de
posse de Felipe Coutinho como Presidente da AEPET — Triênio 2015/2017
Em 14/01/2015
É com satisfação e senso de responsabilidade que assumo a
tarefa de presidir a Associação dos Engenheiros da Petrobrás no triênio
2015-2017.
Da AEPET guardo com carinho a lembrança de valorosos
companheiros que deram o melhor do seu trabalho voluntário, em defesa da
Petrobrás, até os últimos dias de suas vidas. São os conhecidos como imprescindíveis
na luta patriótica pela soberania nacional. Na AEPET conheci, convivi e aprendi
a valorizar o trabalho desses heróis anônimos, sem os quais nenhum povo
conquista plena independência.
Vamos agora tratar das questões do nosso tempo, sem perder
as referências daqueles que construíram e a cada dia constroem a Petrobrás e a
AEPET. Nos ensinaram que o Homem faz a História, porém sob condições não
escolhidas por ele. Cabe a mim e aos meus companheiros da diretoria conduzir a
AEPET durante os próximos três anos. Confio que estaremos a altura do nosso
tempo.
As revelações da Operação Lava Jato demonstram a
fragilidade institucional da Petrobrás perante sua relação com os empresários
fornecedores de bens e serviços. Em especial, na relação com as empreiteiras de
capital concentrado e cartelizadas.
O fenômeno da corrupção precisa ser entendido detalhada e
profundamente. Revelada sua natureza histórica, sistêmica e estrutural em
oposição a abordagem falso-moralista, superficial e espetacular apresentada
pelos meios empresariais privados, também cartelizados, de comunicação.
Condenar os corruptos e garantir o ressarcimento da fraude
é necessário mas insuficiente. É preciso alcançar os agentes ativos e
principais beneficiários da corrupção, os empresários organizados em cartel
para obter contratos super-lucrativos com a Petrobrás e lesá-la.
A Petrobrás sempre esteve e ainda está cercada por
interesses privados que disputam diretamente o petróleo ou a riqueza produzida
pela companhia. A disputa ocorre em extensão a ocupação por interesses
particulares do Estado Nacional brasileiro.
• São bancos e seguradoras em busca de juros e contratos
para obtenção de lucros;
• Industriais consumidores de combustíveis ou de
petroquímicos em busca de subsídios;
• Companhias comerciantes, revendedoras de combustíveis,
também por subsídios;
• São industriais produtores de etanol e de biodiesel em
busca de subsídios e de vantagens indiretas na correlação entre os preços dos
combustíveis líquidos e na questão logística;
• Petroleiras de capital privado, nacional e
internacional, ou de capital estatal estrangeiro, em busca de oportunidades de
acesso ao petróleo brasileiro com baixo risco e para acesso a tecnologias da
Petrobrás;
• Também as empresas de consultoria em busca de contratos
lucrativos e de informações que podem conferir lucro ou vantagem geopolítica
aos governos e corporações para os quais secretamente trabalham;
• Além dos meios empresariais de comunicação em busca de
contratos lucrativos de publicidade.
Poderosos interesses econômicos disputam o acesso direto
ao petróleo brasileiro e a renda petroleira. As multinacionais do petróleo e
seus lobistas no Instituto Brasileiro do Petróleo, no Congresso Nacional, nos
ministérios da república e na mídia empresarial não cansam em tentar sabotar a
Petrobrás em sua histórica cólera privatista.
O sistema financeiro dispõe de armas ainda mais poderosas
e são capazes de se adaptar a diferentes marcos legais da exploração do
petróleo e ainda assim garantir a apropriação da renda petroleira. Através do
perverso mecanismo da dívida pública podem se apropriar da renda petroleira por
meio dos juros e serviços pagos pelo Estado Nacional.
A defesa da Petrobrás, 100% pública e controlada
socialmente, exercendo o monopólio estatal pela União é necessária mas não
suficiente. É imperativo que seja realizada a auditoria cidadã da dívida
pública, prevista na Constituição, para evitarmos que a renda petroleira seja
destinada ao sistema financeiro.
Todos esses interesses privados estão em contradição com o
interesse social e público. A Petrobrás, materialização histórica do trabalho,
da consciência e da luta do povo trabalhador brasileiro deve ser colocada
integralmente a seu serviço.
São necessários centenas de milhões de anos de trabalho da
natureza para que o petróleo seja produzido e acumulado. São necessários
dezenas de anos do trabalho de centenas de milhares de pessoas para que sejamos
capazes de encontra-lo, produzi-lo e transformá-lo em mercadorias úteis para a
sociedade.
A apropriação privada desta riqueza natural e socialmente
produzida deve ser condenada, independente da forma legal ou ilegal em que ela
se dê.
Todo o petróleo para saldar a dívida social e para
construir a infraestrutura para produção de energias renováveis para as
gerações futuras. Nem uma gota de petróleo para a concentração da riqueza
através do rentismo parasitário.
É um dos objetivos do nosso programa para o próximo
triênio avaliar a relação entre a Petrobrás e seus fornecedores de bens e
serviços. Propor soluções institucionais para corrigir a fragilidade, agora
inegável, da companhia frente a ação dos corruptores, ao tráfico de influência
dos políticos corruptos e também frente ao oportunismo de executivos de
aluguel.
Entender o fenômeno da corrupção, seus aspectos legais e
ilegais, é imprescindível para propor medidas institucionais efetivas e
concretas em defesa da Petrobrás. A solução passa por maior transparência,
democracia no local de trabalho e pelo controle social. São medidas na direção
de transformar a organização produtiva, em sua defesa, e em beneficio da
maioria dos brasileiros.
Destaco outros importantes objetivos do nosso programa de
trabalho:
A primeira preocupação diz respeito ao planejamento
energético brasileiro e, em especial, o planejamento estratégico e de negócios
da Petrobrás. O petróleo, como qualquer mercadoria, tem valor de uso e valor de
troca. Mas diferente da maioria das mercadorias não é substituível, é uma
riqueza singular, por sua elevada densidade energética, e pela diversidade de
compostos orgânicos, dificilmente encontrados na natureza, que lhe confere
características únicas. Ocorre que o Brasil está optando por ser exportador de
petróleo, está escolhendo ficar com o valor de troca e abrindo mão do valor de
uso do petróleo. Na verdade parte da exportação se daria por meio de empresas
privadas, neste caso é ainda pior, é a alienação tanto do valor de uso quanto
do valor de troca sob a justificativa de que seria compensada por impostos e
royalties.
Desde o Brasil colônia até a República a economia brasileira
se dedica ao suprimento de matérias primas para os centros dinâmicos do
capitalismo. Pau brasil, cana de açúcar, minérios (ouro, prata e diamantes),
cacau, borracha, dendê, café. Hoje, ainda os minérios, a soja, a carne etc.
Todos os ciclos tem características comuns, beneficiam uma pequena elite,
passam por períodos de ascensão, ápice e queda. Deixam o rastro de devastação
ambiental e social com a maior parte da população excluída dos ganhos nos
períodos prósperos e herdeira do caos do período decadente.
Devemos usar a riqueza do petróleo brasileiro na medida do
nosso desenvolvimento, para atendimento às nossas necessidades. Desenvolver uma
indústria forte e diversificada com participação e controle social. Construir a
infra estrutura para produção de energias renováveis e preparar nossa sociedade
para o futuro.
Destaco também a defesa da função engenharia e da pesquisa
aplicada exercidas diretamente pelo corpo técnico da Petrobrás. A compra direta
de materiais e de equipamentos críticos para garantir qualidade, o prazo e o
custo adequados são preocupações relevantes sobre as quais também pretendemos
atuar. Fortalecer o corpo técnico, o domínio tecnológico e o exercício direto e
pleno das atividades fins é fortalecer a Petrobrás.
Caros companheiros e amigos, lutamos em condições
desiguais. Enfrentamos o poder econômico e político do capital internacional e
nacional. Estamos diante do sistema financeiro nunca antes tão concentrado. Nos
deparamos com bancos, construtoras, multinacionais do petróleo e conglomerados
privados de comunicação cartelizados.
Enquanto levamos desvantagem em relação ao poder
econômico, ganhamos em número. Somos muitos, os explorados e os oprimidos são
os nossos, não nos comportemos como uma aristocracia entre os trabalhadores,
para sermos fortes devemos nos unir.
Em defesa da Petrobrás e unidos podemos acelerar o tempo
histórico e colocar essa magnífica organização produtiva a serviço da maioria
dos brasileiros, da forma mais plena e eficiente possível.
Obrigado.