Quinta, 15 de janeiro de 2015
Nunca
permiti que meus leitores fossem enganados: quando Dilma Rousseff
atribuía aos seus adversários a intenção de imporem rigores ao povo em
conformidade com o figurino neoliberal, jurando de pés juntos que não
procederia da mesmíssima maneira, cansei de alertar que, sem uma ruptura
com a ortodoxia capitalista, nenhum dos principais presidenciáveis
(ela, Aécio Neves e Marina Silva) teria como escapar da inglória tarefa
de promover um ajuste recessivo na nossa economia, cuja perda de
dinamismo e competitividade saltava aos olhos.
E, com a perspicácia que Marx me deu, cantei a bola de que esses três
personagens jamais ousariam optar pela ruptura, portanto podíamos dar o
aperto dos cintos em 2015 como favas contadas.
Não ousei ir além, acrescentando que também Dilma atiraria todo o peso
desse ajuste nas costas dos trabalhadores e dos pobres, pois ainda
nutria a secreta esperança de que ela tentasse fazer com que os
capitalistas e os ricos pagassem um tantinho da conta.
Infelizmente, minha esperança era vã, conforme constata o veterano jornalista Jânio de Freitas em sua coluna na Folha de S. Paulo (acesse a íntegra aqui):
"Joaquim Levy ofereceu um café da manhã a jornalistas para anunciar-lhes (...) quem vai pagar mais imposto.
Não é o sistema bancário, merecedor do título de mais lucrativo do mundo. Tão rentável que bancos estrangeiros vêm buscar aqui o lucro que lá fora virou perda.
Não são os cartões de crédito, com seus juros sem nada semelhante no mundo, 258%, ou 40 vezes a inflação.
Nem vai o aumento de imposto incidir sobre a especulação financeira, sobre a remessa de lucros para o exterior, ou sobre ganhos no mero jogo de Bolsa.
O aumento de imposto vai cair em cima de quem trabalha e vive do que ganha com o trabalho, para tanto registrado como se em sua pessoa existisse uma empresa. O que chamam de 'pessoa jurídica'.
Para que não haja a suposição de uma incidência apenas ocasional sobre o lado mais fraco, horas depois da gentileza de Joaquim Levy o governo expeliu outra criação de sua índole: os juros da Caixa Econômica Federal vão aumentar. A Caixa tem muitas linhas de financiamento mas só uma terá os juros elevados. A de financiamento da casa própria, aquela via salvadora dos que só alcançam a sonhada casa própria com os juros da Caixa...".
Dá a impressão de que o último pleito foi uma perda de tempo: elegêssemos quem elegêssemos, seríamos governados por Marina Neves Rousseff...