Do Blog Náufrago da Utopia
Sacrilégio é tirar vidas, não satirizar profetas.
Não se relativiza a barbárie.
Nada justifica a persistência da barbárie em pleno século 21.
Fins e meios estão em permanente interação dialética, modificando-se e
impregnando-se mutuamente, de forma que agrupamentos coniventes com
assassinatos bestiais de não-combatentes como meio projetam, como fim, sociedades nas quais os assassinatos bestiais de civis serão consentidos.
O final da Idade Média significou, entre outras coisas, que não mais se
imporiam pela força os valores religiosos àqueles que não os
compartilham.
Inquisição, nunca mais! Massacres em nome de profetas, aiatolás, pastores, santos e papas, nunca mais! Censura taciturna, nunca mais!
É totalmente desumana a postura dos que buscam nos atos das vítimas
pretextos para atenuarem a culpa dos autores de uma carnificina.
Será totalmente desumana uma sociedade em que a sátira política for vedada, o humor respondido com balas e bombas.
Já tivemos duas assim no Brasil, sob Getúlio e sob os tiranos fardados.
Sou Charlie hoje, como era Pasquim nos anos Médici, quando boçais sinistros de outro tipo prendiam e intimidavam os membros da equipe.
Sobrevivente consequente dos anos de chumbo
nenhum, e nenhum verdadeiro homem de esquerda, têm o direito de negarem
a monstruosidade do atentado contra a liberdade que acaba de ser
cometido na França.
[Até porque a identificação com atrocidades presentes e vindouras comprometeria terrivelmente nossa credibilidade quando fôssemos travar lutas justas e necessárias, no sentido de darmos um fim ao pesadelo capitalista e prepararmos o advento de um estágio superior de civilização.]
Muito menos de negarem a covardia e vilania extremas dos carrascos de 7
de janeiro, pois combatentes de verdade travam sua guerra contra outros
combatentes, não contra civis totalmente indefesos como o octogenário
Wolinski.