Sábado, 21 de fevereiro de 2015
Da Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Na entrevista, ministro confirmou a existência da quadrilha
Em declarações publicadas na edição de ontem, 20, na Folha de São
Paulo, matéria de Natália Cancian, o ministro José Eduardo Cardozo,
voltando a tentar defender o fato de haver recebido advogados de
empreiteiras envolvidas nos escândalos da Petrobrás, afirmou
textualmente que “advogado não é membro de quadrilha”. Está correta a
separação, porém a frase, no fundo, confirma a existência das quadrilhas
que assaltaram o universo financeiro da principal empresa do país. Esta
conclusão é absolutamente lógica. O titular da Justiça, por ação
tácita, confirmou o que o maremoto dos fatos já evidenciou e vem
acrescentando mais evidências a cada dia que passa.
Nem poderia ser de outra forma. As delações premiadas, com seus
múltiplos autores, já nesta altura dos acontecimentos, revelaram as
faces ocultas do escândalo monumental. E, diante de seus relatos, foram
surgindo atores em série, é impressionante. Outros virão à tona nos
próximos dias. A convergência de projetos criminais reunindo
ex-dirigentes da Petrobrás, representantes das empresas empreiteiras,
doleiros e lobistas está, portanto, mais do que comprovada. Afinal de
contas, como poderiam os delatores inventar seus contatos para os
destinos do dinheiro roubado. Roubaram demais, bateram um recorde
difícil de superar.
QUADRILHAS IMUNDAS
Formaram quadrilhas imundas através das quais os assaltos foram
praticados ao longo de vários anos. E os gigantescos desvios de verbas
públicas somente se materializaram através de contratos com executivos
de alto escalão, representando as respectivas empresas. Como aconteceu
agora, vejam só, com o apoio financeiro do governo ditatorial da Guiné
Equatorial à Beija-Flor, campeã do carnaval de 2015.
Aliás, sobre este fato, efetivamente excepcional o artigo da
antropóloga Alba Zaluar no Globo de ontem, chamando atenção para as
distorções históricas e as contradições do enredo vencedor, a começar
pela apresentação dos navios negreiros sem escravos, emoldurados na
beleza do marfim, dos colares, das joias. Um paraíso visual, certamente.
Mas no choque da fantasia sobre a realidade do tráfico negreiro, que,
no caso brasileiro estendeu-se por mais de 300 anos. Mas esta é outra
questão. Serve, contudo, para iluminar mais uma esquina das remessas de
dinheiro através de transferências bancárias que incluem operações
sofisticadas de câmbio.
FORMAÇÃO DE QUADRILHA
Se apenas o ex-gerente Pedro Barusco se dispõe a devolver 97 milhões
de dólares à Petrobrás, está mais do que configurada a formação de
quadrilha, prejudicando o Brasil e a todos nós, brasileiros. Na verdade,
esbofetearia a sociedade do país, sem exceções. São tais quadrilhas que
o ministro Eduardo Cardozo reconheceu oficialmente a existência, no ato
em que isentou os advogados dos acusados de participação nas acusações.
De fato, os advogados não integram as quadrilhas, somente defendem a
liberdade e a isenção de qualquer culpa para os quadrilheiros. Cardozo
errou, isso sim, em recebê-los. Deveria ter indagado qual o assunto que
pretendiam tratar. Procedimento, aliás, adotado pelas autoridades em
relação a todos os cidadãos que os procuram. Quem procura um ministro de
Estado deve indicar bem o que pretende focalizar e tratar. Caso
contrário, a busca do acesso cairia no vazio. Como acabou caindo a
explicação do ministro da Justiça.