Terça, 14 de junho de 2016
Do SindMédico / DF
Em um ano, a equipe de direção do Hospital Regional de Brazlândia
(HRBz) conseguiu reorganizar a unidade de Saúde e fazer funcionar o que
estava parado. Até as cirurgias eletivas voltaram a ser feitas. O que
atrapalha a rotina é a falta de profissionais, a falta de equipamentos, a
falta de medicamentos, a falta de mobiliário e a falta de estrutura
física adequada.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal
(SindMédico-DF), Gutemberg Fialho, e o vice, Carlos Fernando, foram a
Brazlândia verificar as condições de trabalho, na manhã desta
segunda-feira (13). Encontraram uma unidade de saúde desgastada, onde os
servidores fazem vaquinha para comprar mobiliário e pintar as paredes.
Com cerca de 200 atendimentos diários no Pronto Socorro, dos mais
simples aos mais graves, o HRBz sofre com a falta de pediatras, clínicos
e anestesiologistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Não se tem
um fluxo organizado para a entrada dos pacientes porque não há
classificação de risco.
Nos corredores do PS, homens e mulheres em macas e acompanhantes se
misturam sem o mínimo de privacidade. Lençóis e cobertores fazem as
vezes de cortina para uma troca de roupas.
Fora da emergência, paredes e teto precisando de reparos e pintura.
Equipamentos velhos, não poucos enferrujados, são os obstáculos no
caminho. Pacientes permanecem internados porque não há quem lhes dê
alta. Aumenta a possibilidade de infecção e aumenta o gasto público.
A enfermaria do ambulatório da Pediatria tem 16 leitos e o PS oferece
mais 12. As crianças, junto com mulheres e homens adultos se espalham
pelos corredores e a porta não fecha, os meninos não são levados para
lugar mais adequado.
O médico que fica na porta atende de 30 a 40 crianças por turno.
Deveria haver três médicos atendendo no Pronto Socorro, um na enfermaria
e um neonatologista. Mas, a realidade é ter dois pediatras para tudo. A
escala da neonatologia não fecha com apenas quatro profissionais. E
esses têm que dar conta, também, do Alojamento Compartilhado e da Sala
de Parto.
Na recepção da emergência, 35 pacientes aguardavam atendimento. Em
geral, dois clínicos se revezam, atendendo a porta e cuidando também da
enfermaria. Outros 10 clínicos foram prometidos pela Secretaria de
Saúde, mas com salário pouco e trabalho demais, é razoável acreditar que
não permaneçam.
O HRBz é um dos hospitais para onde não querem ir os profissionais de
Saúde aprovados em concurso. Cortaram gratificações de titulação, de
insalubridade e de movimentação dos novatos. Isso significa mais de 30% a
menos de salário no fim do mês. Há quem trabalhe 60 horas semanais na
emergência. Por isso também, pouca gente quer ir para Brazlândia.
Em meio a tanta carência, não faltam cirurgiões ao HRBz. No entanto, o serviço é represado pela falta de anestesiologista.
Exames são itinerantes
Gasta-se mais para fazer um Raio X no HRBz do que em qualquer outro
hospital da rede pública do DF, pois a chapa é feita lá, mas tem que ser
levada para revelação no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). O
revelador, quebrado há um ano, não tem recuperação. Os exames vão e
voltam de ambulância, quando dá. Os pacientes ficam horas, até um dia
inteiro esperando. Se não faltam medicamentos na rede, Brazlândia é mal
servida. Usam-se antibióticos, mais caros, de ponta, porque faltam os
mais simples.
“Os médicos, os outros servidores e a população aguardam soluções que
não chegam. Aguardam os novos profissionais, que não encontram estímulo
e incentivos para trabalhar em Brazlândia. O governo faz planos para
médio e longo prazos, mas não dá sinal de se preocupar com o que
acontece agora nas emergências lotadas”, critica o presidente do
SindMédico-DF.
O tempo desgasta o prédio do hospital, que em dezembro completa 40
anos e já parece um retrato em sépia. Mas nem tudo é desalento. A equipe
continua atendendo cada doente, cada parturiente, cada paciente que
nunca encontra portas fechadas.