Terça, 14 de junho de 2016
Da Tribuna da Imprnesa
Por Helio Fernandes
Em 120 anos de 1896 a 2016, passou de
divida externa para divida publica. Mudou também de irrelevante, para
degradante, aviltante, humilhante. E responsável por todas as crises
brasileiras, sem que os governantes e adjacentes, percebessem. Agora dá para
perceber, mas com uma conclusão lancinante: não há possibilidade de pagar. Ou
melhor: amortizar os juros, fazendo crescer assustadoramente a divida
propriamente dita.
Os "emprestadores" de
dinheiro,como se dizia antigamente, investem muito pouco, no inicio. Mas
rapidamente recuperam o investimento, passam a emprestar e reemprestar os
juros. Vão acumulando lucros, que reinvestem, naturalmente garantindo parte
substancial para compra de imóveis e obras de arte, por prazer e exibicionismo.
O volume de dinheiro é tão grande, que sempre existe margem de negociação sem
execução.
Prudente assumiu em 1894, com uma divida
que parecia irrisória, mas fora agigantada pelos gastos da espantosa, estranha
e extravagante Guerra do Paraguai. E pela inflação dos últimos 20 anos,
insuflada pelos gastos nababescos, que palavra, da Monarquia. Rui Barbosa, o
primeiro Ministro da Fazenda da Republica, sempre se queixava. Em 1896, um dos
Rotschilds, pediu audiência a Prudente, para falar sobre a divida. Mas foi tão
imprudente e inábil, que em 10 minutos, Prudente tocou a campainha, apareceu um
continuo, recebeu a ordem: "Acompanhe o senhor Rotschild até à porta, ele
está de saída".
O sucessor foi Campos Salles, inteiramente
diferente. Aceitou convite do mesmo Rotschild, foi a Londres. Andou de carro
aberto pela Old Bond Street. (O centro financeiro da capital). Renegociou a
divida de forma vergonhosa. Essas renegociações foram aumentando durante toda a
"republica velha", a ditadura do Partido Republicano, 1889 a 1930.
Sucedida pelo golpe que tentaram transformar em Revolução. Que redundou na
ditadura Vargas, até 1945.
De 1937 a 1945, a dívida não cresceu por
causa da pré-guerra e da guerra propriamente dita. Com o mundo inteiro voltado
para a fabricação de armamentos, o Brasil se transformou num grande vendedor.
Não recebia, acumulava saldos, "para
serem liquidados depois". Dutra assumiu com um saldo formidável, que
esbanjou desastradamente. Os americanos, mestres em vender matéria plástica
como se fosse ouro, e comprar ouro pagando como se fosse matéria plástica,
devoraram tudo.
10 anos depois, em 1955, Juscelino se
elegeu, assumiu com uma divida já acumulada. No ultimo ano do governo inicio de
1960, chamou Roberto Campos, presidente do BNDE (não tinha o S de social, hoje
tem o S mas sem se preocupar com o social) pediu para ele
"consolidar" a dívida. Estava em 180 milhões de dólares, foi
"consolidada" em 200 milhões. Daí foi crescendo desmesuradamente, por
causa dos juros e a falta de pagamento. Ou amortização. Mas atingiu o apogeu
nos governos FHC, "o retrocesso de 80 anos em 8". (Como chamei, com
ele no poder).
Foi inacreditável,
incompreensível, inaceitável, mas o país aceitou. Os juros chegaram a 40
por cento ao ano. O que significa o seguinte: uma divida de 1 bilhão, em 1 ano
passa a 1 bilhão e 400 milhões. No ano seguinte vai para o limite de quase 2 bilhões.
E assim incontrolavelmente; (Os juros são verdadeiros, o total de 1 bilhão,
singelo e simbólico, apenas para o calculo.
FHC foi tentando reduzir os juros, mas
entregou a Lula com 25 por cento ao ano. Juro calamitoso para uma divida
estratosférico).
Lula criou o que se chamou de
"superávit primário". Chegou a amortizar 90 bilhões no primeiro ano,
depois não deu mais. No entanto, reduziu os juros de 25 para 11 por cento.
Dona Dilma trouxe para 7 por cento. Mas não
demorou a devastação, os juros foram crescendo, até os inimagináveis 14,25 de
hoje. "Justificados" pela alta da inflação, que continuou subindo,
até ultrapassar os dois dígitos. E a dívida publica, chegou ao limite de hoje:
2 TRILHÕES e 900 BILHÕES.
A media dos juros é de 10 por cento ao ano,
uma combinação entre a Selic, o contratado e o cobrado. Daria então 290
bilhões, rigorosamente IMPAGÁVEL. Só que no vernáculo, essa palavra tem duas
leituras. É o que não pode ser pago. Ou o que provoca enorme gargalhada. Que
não é o caso da divida brasileira. No primeiro dia depois de ser convidado para
Ministro da Fazenda, Meirelles, por conhecimento e relacionamento, falou sobre
a tragédia da dívida publica. Assustado quando soube do total, de dentro para
fora, comentou sobre a forma de equacionar a divida. Há muito tempo não se
falava nisso.
Imediatamente foi chamado por Temer. Que
naquele estilo entre o dúbio e o melífluo comentou: "Gostaria que você não
falasse mais nessa questão da divida". Lógico, Meirelles atendeu, não quer
surrupiar suas imagináveis chances presidenciais, seja quando for. Pode ou
deveria ser dentro de 60 dias, se o TSE, assumir ou compreender sua enorme
responsabilidade. Ou esperar que um notável documentarista como Silvio Tendler,
faça um documentário, que teria o titulo obrigatório: “A dívida impagável e
censurada".
A Comissão de impeachment do Senado, certa
e apressada
As sessões são repetitivas e com um único
objetivo: acabar com o processo, o mais rapidamente possível. Para isso
liquidam as próprias testemunhas, desistem delas. Mesmo as que estavam
presentes ontem, não foram ouvidas. Como tudo é político, o governo não quer esclarecimento e sim voto. O senador Cássio Cunha Lima, afirmou
ontem, como já havia feito semana passada: "O país, que nos assiste
sempre, quer que afastemos definitivamente a presidente Dilma, para que possamos
salvar o Brasil". Sem o menor constrangimento.
Mas de contradição em contradição, agem
como se precisassem de votos. Querem indicar para líder do governo, um senador.
Mas reticentes e desinformados, examinam minuciosamente, não admitem perder 1
voto. Assim, só irão convidar um que ainda não esteja definitivamente
"fechado" com o governo. Admitem que quinta ou sexta, já tenham
esse líder.
Quem
tem medo de Eduardo Cunha
Para hoje, terça, está marcada nova sessão da
Comissão (da falta) de Ética. Mas o que acontece é um terremoto de boatos,
nenhuma noticia de fato. O suplente Carlos Marun, intransigente e tumultuado
defensor de Cunha, espalhou: "Estou tentando convencer o deputado a
renunciar à presidência da Câmara, para que possamos salvar seu mandato".
Essa seria a nova "estratégia", que não teria o apoio ou o aceito do
próprio Cunha.
O deputado abastado, perdão, afastado da
presidência, tem respondido da mesma forma que registrei aqui na quinta feira:
"Estou perto de reassumir a presidência". Nos bastidores explicam que
ele manobra para ganhar tempo.
Sua grande jogada, dizem, é para sair da
Câmara, sem ser cassado ou preso. Para isso, estaria engendrando uma solução
definitiva. Como sabe que sua carreira política desapareceu, se salvaria e à
mulher. Iria viver confortavelmente no exterior. Dizem que só precisa de tempo.
Por isso, a mistificação de que voltaria à presidência da Câmara.
PS- O espetáculo, ontem, na Comissão do
impeachment, foi a doutora Janaina Paschoal. Jurista com vocação e convicção de
lutadora de jiu-jítsu. Fala com os braços, as mãos, grita. Não ganha à luta mas
mantém a expectativa. Sucesso de critica e de bilheteria.