Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

'A Segurança Pública está como o governo, arrastando-se'

Segunda, 7 de agosto de 2017
'A Segurança Pública está como o governo, arrastando-se'
O governo Rollemberg não conseguiu sair do papel. Ele se elegeu prometendo inovar, acabar com as velhas práticas políticas, mas acabou se rendendo ao velho jogo
 
Por Francine Marquez-Diário do Poder/Foto: Lucas Vicente
Blog do Sombra
 
O delegado Miguel Lucena, da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), conversou com o Diário do Poder e falou sobre o cenário atual do Distrito Federal, fazendo uma análise da segurança pública e do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB). Lucena, que é delegado da PCDF desde 1 fevereiro de 1999, ressalta a necessidade de investimento na segurança pública.
 
O senhor, como delegado da Polícia Civil, poderia fazer uma análise da segurança pública no Distrito Federal?
 
A Segurança Pública está como o governo, arrastando-se. A Polícia Civil tem o mesmo efetivo de 1993, quando o DF tinha 1,3 milhão de habitantes e hoje possui 3 milhões, sem contar os 2 milhões do entorno. Das 31 delegacias circunscricionais, 20 estão fechadas à noite, fins de semana e feriados, coisa que nunca aconteceu em Brasília. Os policiais civis estão desestimulados, após o golpe do fim da paridade com a Polícia Federal, e perdas salariais de 50%, estando hoje entre a 6ª (agentes) e a 9ª (delegados) colocação no País em termos salariais. O efetivo da PM também foi reduzido e é mal-empregado, com a manutenção de Casa Militar inchada, composta de quase 400 servidores para dar segurança ao governador e sua família, ganhando gratificações elevadas, quando poderiam estar nas ruas dando segurança à população. As ruas estão vazias de Polícia, a população clama por policiamento ostensivo e delegacias abertas 24 horas. As demais atividades dependem de uma segurança pública efetiva.
 
Como evitar o crescimento da criminalidade?
 
A redução da criminalidade ocorre mediante à aplicação de três remédios: policiamento ostensivo nos pontos quentes, investigação qualificada com a prisão de líderes do crime organizado e investimento nas famílias pobres, como meio de evitar que as crianças sejam negligenciadas, abandonadas e abusadas física, psicológica e sexualmente. Esse investimento é no sentido do cuidado e prevenção nas áreas mais carentes, oferta de creches e casas de amparo para mães e crianças que necessitam. Sem esse cuidado, as crianças crescem transtornadas e traumatizadas, virando menores infratores mais adiante e mão-de-obra para o crime organizado. Alavancando tudo isso, o incentivo à criação de emprego e renda, que é o que dá dignidade às pessoas.
 
O delegado também falou sobre o terceiro ano do governo Rollemberg.
 
Estamos no segundo semestre de 2017 e ano que vem teremos novas eleições. Para o senhor Rollemberg conseguiu fazer um bom governo?
 
O governo Rollemberg não conseguiu sair do papel. Ele se elegeu prometendo inovar, acabar com as velhas práticas políticas, mas acabou se rendendo ao velho jogo. Perdeu-se em rodas de conversas e concentrou-se em miudezas, deixando o desenvolvimento do Distrito Federal em plano secundário.
 
Para o senhor quais foram os acertos de Rollemberg? Quais os erros?
 
Reconheço que a atual gestão acertou ao perseguir o equilíbrio das contas públicas, pagando boa parte da dívida herdada do governo anterior. Entretanto, não conseguiu reduzir a quantidade e os valores dos cargos comissionados, principalmente os de alto escalão, manteve as mordomias dos carros oficiais, banquetes em Águas Claras, diárias em demasia, aluguéis de imóveis com valores altos, aumentou tributos acima da inflação e manteve o toma-lá-dá-cá nas administrações regionais para conseguir o apoio de deputados distritais, descumprindo a promessa de realizar eleições diretas para administradores. Além disso, desestimulou a atividade produtiva, criando embaraços e dificuldades para o empresariado, tanto que 600 empresas foram embora do DF no último ano, fechando 10 mil postos de trabalho. É preciso acabar com as mordomias e incentivar a atividade produtiva.
 
Muito se fala em falta de dinheiro. Então como conseguir recursos e a quais devem ser as prioridades para investimentos?
 
O Distrito Federal é privilegiado, porque arrecada como se fosse Estado e Município ao mesmo tempo, além de contar com o Fundo Constitucional, que cresceu em 2017, chegando a R$ 12,8 bilhões. O governo, porém, não tem um projeto econômico de incentivo à atividade produtiva, pulveriza recursos em projetos miúdos para contemplar entidades que às vezes reúnem meia-dúzia de seguidores, é tímido na área turística, tanto que rebaixou a secretaria que cuidava da área, dificulta as licenças para a construção civil e com isso afugenta as empresas, contribuindo para o aumento do desemprego. Ocupa os educadores com merenda escolar e remendo de goteiras, quando devia concentrar todos na educação das crianças e jovens, descentralizando e até terceirizando as atribuições-meio. Gasta mal na saúde, deixando faltar tomógrafos, curativos, remédios e até papel higiênico, sendo que o orçamento da área é de R$ 6 bilhões.
 
Na opinião do senhor a prosperidade para o Distrito Federal é sinônimo de quê?
 
Uma máquina estatal enxuta, o fim das mordomias, o combate à corrupção, servidores de carreira remunerados condignamente, mas sem privilégios, indústria, comércio e serviços funcionando sem embaraços burocráticos e criando empregos. É chegado o momento de derrotar os incompetentes e caçar os ratos que se escondem nos bueiros da burocracia.